Israel e Gaza trocam ataques após líder da Jihad Islâmica morrer por greve de fome

Grupo radical jurou vingança por Khader Adnan, que passou 87 dias sem comer enquanto aguardava julgamento

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Jerusalém e Gaza | AFP e Reuters

Jatos israelenses atingiram alvos na Faixa de Gaza nesta terça-feira (2) em resposta a foguetes disparados por grupos militantes no início do dia. A tensão na região escalou após o membro da Jihad Islâmica Khader Adnan morrer, aos 45 anos, sob a custódia de Israel após uma greve de fome de 87 dias.

O Estado hebreu havia detido o palestino no início de fevereiro e o manteve na prisão à espera do julgamento desde então. Adnan era acusado de envolvimento com o grupo radical, que Tel Aviv considera terrorista, e de incentivo verbal à violência.

Fogo e fumaça após um ataque aéreo israelense em Gaza - Rizek Abdeljawad/Xinhua

Nuvens de fumaça subiram no céu noturno quando os jatos atingiram alvos, incluindo campos de treinamento do Hamas, grupo islâmico que controla parte do território. Ao mesmo tempo, sirenes soaram perto da cidade israelense de Sderot, no sul, e de outras áreas ao redor de Gaza, enquanto a rádio do Hamas informava que facções militantes continuavam bombardeando alvos israelenses.

Após a morte nesta terça, a Jihad Islâmica jurou vingança pelo palestino. Na madrugada, três foguetes e um projétil foram lançados em direção a Israel, de acordo com o seu Exército, atingindo apenas áreas afastadas ou próximas da fronteira. Mais tarde, uma contraofensiva israelense levou as duas forças a trocarem tiros na região.

Em nota, a Jihad Islâmica disse que a morte de Adnan havia sido "poderosa e honrosa" e que Tel Aviv "pagará o preço por este crime". "Se o povo palestino não tivesse pessoas como Khader, nossa causa não teria repercussão", disse Ziad al-Nakhale, dirigente da facção. Apesar de ter presença limitada na Cisjordânia, ela é o segundo grupo mais bem equipado de Gaza em termos de armas.

A região amanheceu com centenas de pessoas reunidas em uma marcha em homenagem a Adnan. Alguns manifestantes queimaram pneus e atiraram pedras contra soldados de Israel, que dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha. Não houve relatos de feridos. Já na Cisjordânia ocupada, comerciantes palestinos convocaram uma greve geral e fecharam suas lojas, e um israelense foi ferido após dois veículos serem atingidos por tiros, de acordo com as Forças Armadas de Tel Aviv.

Os militares israelenses disseram ainda que pelo menos 26 foguetes foram disparados de Gaza durante o dia. Dois deles caíram em Sderot e feriram três pessoas, incluindo um estrangeiro de 25 anos que, segundo o serviço de resgate de Israel, sofreu graves ferimentos por causa dos estilhaços.

A administração penitenciária de Israel informou que Adnan, que havia iniciado sua greve de fome assim que foi preso, em 5 de fevereiro, foi encontrado inconsciente em sua cela nesta terça-feira e encaminhado então a um hospital, onde foi declarado morto após tentativas de ressuscitá-lo. As autoridades ainda afirmam que o militante havia recusado consultas médicas e ofertas de tratamento.

A versão é contestada pelo advogado de Adnan, Jamil Al-Khatib, e por uma médica de uma organização de direitos humanos que se reunira com ele dias antes. Eles afirmam que o governo israelense se negou a oferecer ao palestino o acompanhamento devido.

"Exigimos que ele fosse transferido para um hospital civil, onde poderia ser assistido de maneira apropriada. Infelizmente, nossa demanda foi recebida com rejeição e intransigência", afirmou Al-Khatib à agência de notícias Reuters.

Lina Qasem-Hassan, da ONG Médicos pelos Direitos Humanos, disse que viu Adnan em 23 de abril, quando ele havia perdido 40 kg e estava tendo problemas para se mover e respirar. "Sua morte poderia ter sido evitada", disse ela à Reuters. A organização afirma ainda que as autoridades israelenses negaram os pedidos de visita da família na prisão.

O Serviço Prisional, por sua vez, argumenta que a hospitalização não era uma opção, já que Adnan teria recusado até mesmo uma "inspeção preliminar".

Manifestantes exibem retratos de Khader Adnan, militante da Jihad Islâmica palestino morto sob custódia de Israel após greve de fome, em Gaza - Mohammed Abed/AFP

As alegações foram ecoadas pela esposa do militante, Randa Moussa, entrevistada pela agência AFP em sua casa em Arraba, no norte da Cisjordânia, na sexta. Ela ainda afirmou que as condições da detenção eram muito difíceis e disse estar orgulhosa da morte do marido nas circunstâncias em que se deram. À Reuters, ela disse que não quer ver agora o uso das armas que não foram usadas para a sua libertação. "Não queremos ver nenhum derramamento de sangue", afirmou.

Adnan havia realizado ao menos três greves de fome em protesto após ser preso por Israel desde 2011. A tática é usada por muitos outros prisioneiros palestinos, mas nenhum deles havia morrido desde 1992.

Autoridades manifestaram preocupação de que o caso agrave a crise na região. As tensões aumentaram em janeiro, com a morte de dez palestinos durante uma ação do Exército israelense na Cisjordânia. Autoridades israelenses disseram ter trocado tiros com militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, outro grupo considerado terrorista por diversos países ocidentais.

A Autoridade Palestina —concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado— disse que inocentes foram mortos na ação e que encerraria sua parceria com Israel na área da segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, era considerada por muitos como responsável por impedir ataques contra Tel Aviv e por manter certa estabilidade na Cisjordânia. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se reuniu com autoridades de segurança para avaliar a situação.

Desde o início do ano, mais de 70 palestinos e pelo menos 13 israelenses foram mortos em confrontos e ataques. No mais mortal deles, sete pessoas foram mortas a tiros em frente a uma sinagoga, em Jerusalém Oriental, no mês passado.

Outro episódio que fez aumentar a tensão foi o confronto ocorrido neste mês entre palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, local considerado sagrado para judeus e muçulmanos. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas.

Em nota, a polícia de Israel informou que foi obrigada a entrar no local após supostos desordeiros mascarados bloquearem as entradas e se armarem com paus e pedras horas depois da última oração vespertina. Já os palestinos afirmam que foram agredidos e que estavam rezando à noite, como é comum no Ramadã, quando agentes alertaram os presentes que precisavam deixar a mesquita ou seriam retirados à força.

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