Lula critica prisão de Assange no Reino Unido em fala após coroação de Charles

Fundador do Wikileaks está em penitenciária de segurança máxima na cidade de Belmarsh, na Inglaterra

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São Paulo

Depois de acompanhar a cerimônia de coroação do rei Charles 3º, em Londres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar neste sábado (6) a prisão de Julian Assange. O australiano, fundador do WikiLeaks, está em uma penitenciária de segurança máxima na cidade de Belmarsh, na Inglaterra.

"É uma vergonha que um jornalista que denunciou as falcatruas de um Estado contra outro esteja preso, condenado a morrer em uma cadeia", disse Lula em entrevista coletiva. "O cara [Assange] não denunciou nada vulgar. O cara denunciou que um Estado vigiava outros. E isso virou crime contra o jornalista?"

Lula em encontro com o premiê britânico Rishi Sunak, em Londres
Lula em encontro com o premiê britânico Rishi Sunak, em Londres - Kin Cheung - 5.mai.23/Pool/AFP

Assange foi responsável por um dos maiores vazamentos de papéis secretos das Forças Armadas dos EUA. Ele foi preso em 2019, após passar sete anos abrigado na embaixada do Equador em Londres.

Em junho do ano passado, a então ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, aprovou a extradição do jornalista para os EUA. Ele é procurado pelas autoridades americanas devido a 18 acusações criminais, incluindo espionagem relacionada ao vazamento, via Wikileaks, de registros militares e telegramas diplomáticos confidenciais que, de acordo com o governo americano, colocou vidas em perigo.

Segundo Lula, a mídia precisa ter postura combativa no caso. "A imprensa não se mexe na defesa desse jornalista. Não entendo", disse, ao defender um "movimento da imprensa mundial" em defesa de Assange.

Não foi a primeira vez que Lula defendeu Assange. No ano passado, o presidente questionou as acusações contra ele. "Nós, que estamos aqui falando de democracia, precisaremos perguntar: 'Que crime o Assange cometeu?' É o crime de falar a verdade, mostrar que os EUA, por meio de seu departamento de investigação, sei lá se da CIA, estava grampeando muitos países do mundo, inclusive grampeando a presidenta Dilma Rousseff", disse o petista, à época pré-candidato à Presidência.

O WikiLeaks se destacou ao publicar, em 2010, um vídeo de um ataque americano com helicópteros em Bagdá que deixou uma dúzia de mortos, incluindo dois funcionários da agência de notícias Reuters.

Em 2015, o site divulgou informações confidenciais da Agência Nacional de Segurança dos EUA que revelavam que o governo americano espionava a então presidente Dilma, além de assessores e ministros. Ao todo, 29 telefones de membros e ex-integrantes da gestão petista haviam sido grampeados.

Apoiadores de Assange, que o consideram um herói anti-establishment, afirmam que ele é perseguido por expor irregularidades nos conflitos americanos no Afeganistão e no Iraque e que as acusações contra ele são ações politicamente motivadas contra o jornalismo e contra a liberdade de expressão.

Em relação à coroação, Lula disse ter recebido um pedido de Charles pela preservação da Amazônia. O rei é engajado em agendas ambientais e já visitou duas vezes a floresta brasileira, em 1978 e em 2009.

Na véspera, o presidente se encontrou com o premiê britânico, Rishi Sunak, e ouviu a promessa de R$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, um mecanismo de recompensa por preservação ambiental.

A Guerra da Ucrânia também foi pauta do encontro com o primeiro-ministro. Londres é um dos principais aliados de Kiev, e, recentemente, o petista recebeu críticas devido a falas igualando a responsabilidade de invasor e invadido no conflito que se arrasta desde fevereiro de 2022 no Leste Europeu.

Em declaração conjunta após a reunião, os líderes afirmaram que a invasão da Rússia à Ucrânia é inaceitável e pediram o restabelecimento da paz. Neste sábado, Lula disse que o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, irá visitar Kiev no próximo dia 10, num esforço para criar canais de diálogo para o fim do conflito —em março, Amorim se encontrou com o líder russo, Vladimir Putin, em Moscou.

"A gente vai juntando essas conversas e vamos ver quais são as palavras que permitem que as pessoas se sentem em torno de uma mesa. E, para isso, tem que parar de atirar", disse o presidente brasileiro.

Lula disse ter marcado uma conversa sobre a guerra com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e que abordará o assunto no encontro do Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de discutir o o tema com o premiê indiano, Narendra Modi, a quem chamou equivocadamente de presidente.

O petista defende a proposta de um "clube da paz" para o fim da guerra. Segundo ele, as negociações deveriam ser conduzidas por países que a diplomacia brasileira considera não alinhados a nenhum dos lados do conflito, mas a iniciativa não gerou entusiasmo entre líderes ocidentais até agora.

Em Londres, Lula e a primeira-dama, Janja, estão hospedados no Marriott Grosvenor House London, um dos hotéis mais luxuosos da cidade, cuja diária mais cara custa de 6.025 libras (cerca de R$ 37 mil).

Com Reuters

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