Descrição de chapéu Rússia

EUA e Rússia dizem que apoiarão quem quer que vença na eleição da Turquia

Ambos os países foram acusados de influenciar corrida pela Presidência no país

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Moscou | Reuters

Acusados de influenciar as eleições presidenciais da Turquia, os governos da Rússia e dos Estados Unidos afirmaram nesta segunda-feira (15) que desejam cooperar com qualquer um dos candidatos que vencer o pleito, cujo segundo turno está previsto para o próximo dia 28.

Apoiadores do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em frente à sede de seu partido após o fim das eleições presidenciais e parlamentares em Ancara - Adem Altan/AFP

"Temos grande respeito pela escolha do povo turco e vamos respeitá-la", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, depois do anúncio do resultado do primeiro turno. "De qualquer forma, esperamos que nossa cooperação continue e seja aprofundada e ampliada."

Horas depois, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, foi na mesma toada. "O presidente Joe Biden espera poder trabalhar com quem quer que vença as eleições turcas. Parabenizamos a população turca por expressar seus desejos nas urnas de modo pacífico."

Estão na disputa o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o opositor Kemal Kilicdaroglu. O atual chefe do Executivo contabilizou 49,5% dos votos na primeira rodada, contra 44,89% de seu adversário. A vantagem não foi, porém, suficiente para liquidar a eleição neste fim de semana —a legislação turca determina que é preciso obter mais da metade dos votos para que isso aconteça.

Em abril, Erdogan criticou o embaixador dos EUA em Ancara, Jeff Flake, por se reunir publicamente com seu rival. "Precisamos dar uma lição aos EUA nestas eleições", disse ele, acrescentando que a "porta de seu gabinete estaria fechada para ele [Flake], porque [o embaixador] não tem noção do próprio lugar" —o ministro do Interior, Suleyman Soylu, foi além e descreveu o pleito como "tentativa de golpe ocidental".

Kilicdaroglu alegou, dois dias antes do pleito e sem apresentar evidências, que o Kremlin estava por trás de vídeos deepfake para tentar difamá-lo —por meio de inteligência artificial, os conteúdos podem encaixar rostos e vozes de qualquer pessoa em outros contextos. Moscou negou as acusações, e Peskov afirmou que quem quer que tivesse dito isso a Kilicdaroglu era "um mentiroso". A despeito das alegações, o opositor afirmou que manteria bons laços com o país de Vladimir Putin, o que agradou os russos.

A Turquia faz parte da Otan, a aliança militar ocidental, o que tem impacto tanto para suas relações com os EUA quanto para os elos com a Rússia. De um lado, o vínculo o aproxima do líder do clube, Washington —de quem no mais tem grande desconfiança, em parte devido às críticas públicas que o presidente americano, Joe Biden, já fez em relação às tendências autocráticas de Erdogan.

A afiliação à Otan em tese afastaria a Turquia da Rússia, muito crítica à aliança. Mas Erdogan tem reforçado cada vez mais os laços com Putin ao longo de seus últimos mandatos, incluindo militares.

Trata-se de uma relação pragmática, uma vez que Ancara ainda é a principal adversária de Moscou na disputa de influência no Cáucaso e no mar Negro, além de as duas nações estarem em lados opostos no conflito entre Azerbaijão e Armênia. Mas há também afinidades ideológicas entre os dois líderes, uma vez que ambos compartilham um discurso ultraconservador em defesa da família e anti-LGBTQIA+.

Essa dualidade por parte da Turquia se tornou ainda mais evidente no contexto da Guerra da Ucrânia. Ancara não aderiu às sanções ocidentais impostas à Rússia após a invasão, por exemplo.

A dualidade torna Erdogan, que vem tentando se posicionar como mediador entre Oriente e Ocidente, um candidato para conduzir as negociações pela paz. Em 2022, a Turquia ajudou, com a ONU, a negociar um acordo de exportação de grãos ucranianos, evitando, assim, o agravamento de uma crise alimentar global.

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