Rússia começou a transferir armas nucleares para Belarus, diz Lukachenko

Ditador aliado de Vladimir Putin recebe armas táticas, ogivas e aeronaves do país vizinho

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São Paulo

Um dos principais aliados de Vladimir Putin, o ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, afirmou nesta quinta (25) que seu país já começou a receber armas nucleares táticas da Rússia. A declaração, feita a um jornalista e registrada em vídeo, foi divulgada no perfil do governo belarusso no aplicativo Telegram.

Caso seja concretizado, o movimento representa a primeira vez que o Kremlin transfere esse tipo de bomba para fora do território russo desde a queda da União Soviética, em 1991.

A medida é fruto de um acordo anunciado no final de março pelos dois líderes, mas oficializado agora. Em Moscou para uma cúpula regional, Lukachenko disse não saber, porém, se os equipamentos já estão em seu país. "Possivelmente. Quando voltar [a Minsk], vou checar", disse ele ao ser questionado sobre o tema.

O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante evento em Moscou
O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante evento em Moscou - Bai Xueqi/Xinhua

O regime faz fronteira com três Estados-membros da Otan, a aliança militar ocidental: Polônia, Letônia e Lituânia. A tratativa final prevê o armazenamento de ogivas de Moscou em uma instalação especial cuja construção deve ser finalizada até o final de julho, ou em pouco mais de um mês, segundo a ditadura.

O novo passo marca um envolvimento cada vez maior da Belarus na Guerra da Ucrânia. Minsk emprestou seu território para o lançamento da ofensiva de Moscou que deu início ao conflito, há 15 meses. Já durante os enfrentamentos, recebeu dez aeronaves russas capazes de transportar armas nucleares e, no início de abril, teve seus militares treinados no manuseio de armas nucleares táticas pelos russos.

Ainda antes disso, em dezembro de 2021, Putin havia anunciado que posicionaria armas nucleares no país vizinho se considerasse que sua segurança estava em risco devido à ação da Otan.

O presidente russo insiste, porém, que não pretendia transferir o controle dos equipamentos para Belarus.

O Kremlin ainda não comentou o anúncio, que atraiu críticas entre os próprios belarussos e no Ocidente.

Exilada há três anos, a líder da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, condenada a 15 anos de prisão pelo regime, afirmou que a efetivação do acordo representa uma ameaça não "só à vida dos belorussos", mas "à Ucrânia" e a "toda a Europa". "Isso tornará os belorussos reféns das ambições imperialistas russas."

Os EUA condenaram a ação russa, descrita pela porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, como "um exemplo de decisão irresponsável e provocativa". O representante do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, afirmou, porém, que a decisão não justificava uma alteração na postura nuclear por parte dos EUA, tampouco uma indicação de que a Rússia se prepara para usar armas nucleares.

Armas nucleares táticas são usadas para obter ganhos específicos no campo de batalha. Por isso, costumam ter capacidade de destruição menor do que as armas nucleares estratégicas, projetadas para destruir grandes cidades. A Rússia tem mais armas nucleares do que qualquer outro país do mundo, e sua superioridade é evidente quando se trata de armas táticas: calcula-se que Moscou possua 2.000 ogivas do tipo, enquanto Washington tem 200, metade das quais em bases aéreas na Europa.

O anúncio da Belarus ocorre em meio à crescente tensão nuclear entre Rússia e EUA. Em fevereiro, Putin anunciou a suspensão da participação de seu país no último acordo de controle de mísseis estratégicos vigente, o Novo Start, que já cambaleava devido à falta de inspeções mútuas de instalações nucleares.

Vigente desde 2010 e válido em tese até 2026, o pacto prevê que tanto EUA quanto Rússia, que detêm 90% do arsenal nuclear mundial de 13 mil bombas atômicas, mantenham em prontidão no máximo 1.550 ogivas estratégicas, destinadas a arrasar cidades. Trata-se de uma quantidade mais do que suficiente para obliterar a civilização, mas ao menos estabelecia um princípio de confiança mútua.

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