Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump elogia Bolsonaro e zomba de mulher que o processou por abuso

Em sabatina, ex-líder dos EUA mostra que não pretende moderar posições para aumentar chances nas primárias

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São Paulo

Donald Trump não pretende moderar suas posições para disputar a indicação à Presidência nas primárias republicanas —tática que analistas consideram crucial para aumentar sua popularidade na sigla.

Pelo contrário. Em sabatina nesta quarta (10), transmitida pela CNN, o ex-presidente dos EUA repetiu, sem evidências, que as eleições que perdeu para Joe Biden foram roubadas, descreveu a invasão do Capitólio como "um belo dia" e zombou da jornalista que o processou por abuso sexual e venceu o caso.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump e a jornalista Katlan Collins durante sabatina em auditório da faculdade Saint Anselm, em New Hampshire
O ex-presidente dos EUA Donald Trump e a jornalista Kaitlan Collins durante sabatina em auditório da faculdade Saint Anselm, em New Hampshire - CNN/Reprodução

Até o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) foi citado, ainda que não nominalmente. Questionado por um eleitor sobre como pretendia defender o porte de armas em um momento em que os EUA buscam limitá-lo em resposta à multiplicação de ataques a tiros em massa, disse que o Brasil sob Bolsonaro era exemplo de um país em que a flexibilização do acesso às armas fez as taxas de criminalidade caírem.

"A matança era absurda. As pessoas entravam nas casas umas das outras e se matavam, não havia proteção. Daí ele [Bolsonaro] disse para as pessoas comprarem armas. Elas fizeram isso, e o crime caiu muito, os números diminuíram, porque as pessoas passaram a ter segurança", disse Trump.

Bolsonaro instituiu uma série de medidas para facilitar o armamento da população durante a sua gestão —a emissão de licenças para armas de fogo no país disparou 473% entre 2019 e 2022. Embora as taxas de homicídio tenham de fato caído no período, especialistas consideram que o fenômeno não teve a ver com ações do governo federal, mas com o arrefecimento do conflito entre duas das principais facções criminosas brasileiras, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho).

A sabatina, realizada em New Hampshire, foi dominada pela insistência de Trump em repetir as alegações infundadas de fraude nas eleições presidenciais de 2020. Questionado pela moderadora da CNN, Kaitlan Collins, se tinha algum arrependimento em relação à sua atuação na invasão ao Capitólio, ele saudou a turba que tomou o Congresso americano em uma tentativa de impedir a ratificação da vitória de Biden, dizendo que eles foram ao local "com orgulho" e "amor no coração". "Foi inacreditável, um belo dia", afirmou, acrescentando que, se fosse eleito novamente, pretendia perdoar os condenados pelo ataque.

A insistência na narrativa foi um de muitos pontos de tensão entre o ex-presidente e Collins, que buscou corrigi-lo cada vez que ele fazia uma afirmação incorreta ou sem evidências. À medida que o debate avançou, os dois passaram a se interromper com frequência e, em determinado momento, Trump chamou a moderadora de "nasty", nojenta —adjetivo com o qual se referiu várias vezes a Hillary Clinton, sua rival nas eleições de 2016, e também utilizado para descrever a atual vice-presidente, Kamala Harris.

Trump ainda fez pouco caso de sua condenação no caso movido pela jornalista Elizabeth Jean Carroll, a quem chamou de "doida". Na terça (9), ele foi considerado culpado de abuso sexual e difamação por um júri em Nova York e sentenciado a pagar US$ 5 milhões a ela por danos (R$ 25 milhões na cotação atual).

O republicano não será, porém, obrigado a arcar com a multa enquanto o processo estiver em apelação —ele entrou com um recurso nesta quinta numa tentativa de reverter a condenação. Além disso, não corre o risco de ser preso, por se tratar de um caso civil. Por fim, assim como em decisões judiciais anteriores, sua condenação não o torna inelegível.

Carroll o acusava de tê-la empurrado contra a parede e a estuprado num vestiário da loja Bergdorf Goodman nos anos 1990. "Que tipo de mulher conhece alguém e, em minutos, está fazendo coisas impróprias num provador?", questionou Trump na sabatina, provocando aplausos e risadas da plateia.

O ex-presidente ainda evitou demonstrar apoio à Ucrânia, dizendo em vez disso que, se fosse presidente, resolveria o conflito em 24 horas. Os Estados Unidos são a nação que mais apoia o país invadido e já enviaram mais de € 70 bilhões (aproximadamente R$ 380 bilhões hoje) para o esforço de guerra, segundo estimativas do Instituto para a Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

A dimensão desse apoio é questionado no Partido Republicano —o presidente da Câmara, Kevin McCarthy já disse que não quer dar "cheques sem fundo" a Kiev. "Não estou pensando em termos de ganhar ou perder, mas de resolver a guerra. Quero que russos e ucranianos parem de morrer", afirmou Trump.

Com Reuters

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