Ucrânia não planeja atacar território da Rússia, diz Zelenski

Recado vem um dia após quatro aeronaves militares explodirem em uma região russa

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Berlim | Reuters

Em visita à Alemanha, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, descartou neste domingo (14) a hipótese de seu país estar preparando ataques contra territórios da Rússia. Segundo ele, a contraofensiva planejada pelas forças ucranianas engloba apenas a tentativa de expulsar os russos das áreas anexadas pelo Kremlin.

A fala veio em meio a especulações de que a Ucrânia pode tentar capturar áreas na Rússia e usá-las como moeda de troca em possíveis negociações de paz. "Não temos tempo nem força [para atacar a Rússia]", disse Zelenski após ser questionado por jornalistas. "E também não temos armas de sobra, com as quais poderíamos fazer isso."

Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, se encontra com primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, em Berlim - Fabrizio Bensch/Reuters

"Estamos preparando um contra-ataque para as áreas ocupadas ilegalmente com base em nossas fronteiras legítimas definidas constitucionalmente, que são reconhecidas internacionalmente", acrescentou ao lado do premiê alemão, Olaf Scholz.

Palavras à parte, no sábado (13), a Rússia viu dois de seus caças e dois de seus helicópteros militares explodirem no céu da região russa de Briansk, a 40 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. A principal suspeita, segundo o jornal Kommersant, que é respeitado dentro e fora da Rússia, é que as aeronaves tenham sido abatidas.

O veículo informou que os caças lançariam um míssil contra alvos na região de Tchernihiv, na Ucrânia, e os helicópteros acompanhavam a operação para auxiliar a tripulação dos aviões caso eles fossem abatidos.

Kiev e Moscou não se pronunciaram oficialmente, mas, pelo Twitter, Mikhailo Podoliak, um dos principais conselheiros do presidente ucraniano chamou o incidente de "justiça e carma instantâneo".

No mesmo dia, o jornal The Washington Post publicou uma reportagem, destacando planos de Zelenski para atacar a região russa de Rostov, muito próxima à fronteira com a Ucrânia. A intenção foi anunciada a um general ucraniano no final de fevereiro, segundo documentos obtidos pelo veículo.

Neste domingo, Zelenski disse que Kiev e seus apoiadores ocidentais podem tornar uma derrota russa irreversível já neste ano e agradeceu à Alemanha por ser um "verdadeiro amigo".

Um dia antes, os alemães anunciaram um pacote de € 2,7 bilhões (R$ 14,53 bi) em ajuda militar à Ucrânia –o maior aporte do país até agora.

O pacote contém 30 tanques Leopard, além de veículos de combate, drones de reconhecimento e quatro sistemas de defesa aérea Iris-T, considerados cruciais para impedir que mísseis russos caiam sobre cidades ucranianas. No Twitter, Zelenski chamou a entrega de poderosa.

Scholz, por sua vez, disse que a Alemanha apoiará a Ucrânia pelo tempo que for necessário. Mudança de planos para quem há poucos meses era uma das forças mais resistentes em entregar armas a Kiev. "A Ucrânia está pronta para a paz. Mas exige, com razão e com o nosso apoio, que isso não signifique congelar a guerra e ter uma forma de paz ditada pela Rússia", afirmou o alemão.

Tal ideia já havia sido compartilhada no sábado pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, com quem Zelenski se encontrou em Roma. A paz, segundo ele, deve ser "uma verdadeira paz e não uma rendição".

Fato é que, nos últimos meses, eventuais negociações de paz entre Rússia e Ucrânia têm ganhado destaque nas falas de líderes mundiais. Ainda na Itália, por exemplo, o presidente ucraniano discutiu sua proposta de paz com o papa Francisco, ainda que na prática ela signifique mais uma vitória de Kiev do que um meio termo entre russos e ucranianos –e, por isso, é rejeitada por Moscou. Ele deve também abordar o assunto na França, onde tinha um jantar marcado com o presidente Emmanuel Macron.

Zelenski afirmou neste domingo que seu país está preparado para discutir planos de paz elaborados por outras nações, mas que essas propostas devem ser baseadas na posição da Ucrânia. Ele ainda descartou a ideia de quaisquer concessões territoriais à Rússia e disse que quer cada centímetro de seu território de volta. A Rússia anexou a península da Crimeia em 2014 e desde o ano passado afirma ter anexado outras quatro regiões ucranianas, que Moscou agora chama de território russo.

Mas enquanto a paz não chega, os confrontos seguem pesados. O Ministério russo da Defesa anunciou neste domingo que atacou dois depósitos de armas ocidentais entregues a Kiev. Já as autoridades regionais disseram que o ataque deixou dois feridos em "armazéns pertencentes a empresas comerciais e uma organização religiosa".

A Rússia também anunciou a morte de dois de seus comandantes militares perto de uma área de acesso à cidade de Bakhmut, principal cenário da guerra atualmente. Em um raro anúncio de baixas no campo de batalha, o governo disse que os comandantes Viatcheslav Makarov e Ievgueni Brovko morreram heroicamente.

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