Zelenski presenteia papa Francisco com colete à prova de balas e discute paz

Presidente pede apoio do pontífice a plano de Kiev e ouve Meloni dizer que aposta na vitória da Ucrânia na guerra

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Roma | Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, encontrou-se neste sábado (13) com o papa Francisco no Vaticano. O pontífice, há meses, defende as negociações de paz no país europeu –até agora, porém, os esforços não renderam nenhuma discussão oficial entre ucranianos e russos sobre o tema.

Os dois conversaram por cerca de 40 minutos. "É uma grande honra", disse Zelenski a Francisco, colocando a mão no peito e inclinando a cabeça ao cumprimentar o papa de 86 anos, que se apoiava em uma bengala. Os dois se conheceram em 2020 e, desde então, dialogaram várias vezes por telefone.

O papa Francisco e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, durante audiência privada no Vaticano - Divulgação/Mídia do Vaticano - 13.mai.23/AFP

O ucraniano presenteou o pontífice com um colete à prova de balas que havia sido usado por um soldado ucraniano e posteriormente pintado com uma imagem de Nossa Senhora. Francisco cita a Guerra da Ucrânia em quase todos os seus discursos semanais, enfatizando a necessidade de russos e ucranianos assinarem um acordo de paz. Mas hoje o principal entrave do Vaticano é ganhar a confiança de Moscou.

Isso porque, apesar das tratativas, Francisco condenou a invasão russa diversas vezes e chegou, inclusive, a criticar pessoalmente o líder da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo. Em março, Francisco teria alertado o russo a não se tornar um "coroinha de Putin"; a declaração foi condenada pelos ortodoxos.

O pontífice também falhou ao tentar se encontrar com Vladimir Putin. Agora, ele tenta se aproximar do presidente russo por meio de intermediários. No final de abril, por exemplo, Francisco foi a Budapeste, onde conversou com o premiê húngaro, Viktor Orbán. Ao voltar da viagem o pontífice disse que havia "uma missão em andamento". "Quando for pública, eu a revelarei", acrescentou, surpreendendo Moscou e Kiev.

Em publicação no Twitter, Zelenski afirmou que conversou com o papa acerca das crianças ucranianas deportadas ilegalmente e que pediu a Francisco a condenação da Rússia pelos supostos crimes de guerra —os mesmos pelos quais Putin foi alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional.

"Não pode haver igualdade entre a vítima e o agressor", escreveu o ucraniano, expressando mais uma vez o desconforto com a tentativa de alguns líderes de agradar Moscou para iniciar as negociações de paz.

Nesta semana, Francisco teria enviado uma carta a Putin por meio do embaixador da Rússia no Vaticano, Alexander Avdeiev. A informação é do jornal italiano Il Messaggero. Os dois líderes se encontraram pela última vez em 2019, quando o russo foi ao Vaticano.

Zelenski também disse ter convidado o papa a defender o plano de paz elaborado por Kiev, que prevê, entre outros pontos, restauração da integridade territorial da Ucrânia, retirada das tropas russas, fim das hostilidades e restauração das fronteiras ucranianas. Além disso, desde o início da invasão russa, o presidente ucraniano convida o papa a visitar Kiev.

Em abril do ano passado, pouco após o início da guerra, o papa disse a repórteres que estudava aceitar a proposta. Mas tal visita estaria condicionada à ida em sequência a Moscou. A necessidade de equilíbrio da viagem levantou discussões até mesmo sobre qual cidade Francisco deveria visitar primeiro. No fim, ele não foi a nenhuma.

Ainda neste sábado, Zelenski se encontrou com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que disse apostar na vitória de Kiev na guerra. Horas antes, ele havia conversado com o presidente Sergio Mattarella, de quem ouviu a promessa de total apoio, seja militar, financeiro ou humanitário. O italiano também disse ao ucraniano que todos os países que defendem a Ucrânia apoiam, simultaneamente, a paz. Esta, porém, segundo ele, deve ser "uma verdadeira paz e não uma rendição".

Os alemães concordam: ao argumentar que o fim imediato da guerra não é previsível, a Alemanha anunciou neste sábado um pacote de € 2,7 bilhões (R$ 14,53 bi) em ajuda militar à Ucrânia –o maior aporte do país até agora. Ao chegar em Berlim, horas depois, Zelenski deixou claros em publicação no Twitter seus objetivos: "Armas. Pacote poderoso. Defesa aérea. Reconstrução. UE. Otan. Segurança."

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em encontro com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, em Roma - Alberto Pizzoli/AFP
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