A Igreja Católica da Espanha anunciou em Madri, nesta quinta-feira (1º), a identificação de 927 vítimas de abuso sexual na infância, além de 728 supostos agressores ao longo de oito décadas.
Por meio de um compilado de depoimentos das vítimas, o relatório produzido pela Conferência Episcopal Espanhola aponta que quase todos os supostos perpetradores eram do sexo masculino, e metade dos agressores, clérigos. A maioria dos casos registrados aconteceu nas décadas de 1960 e 1980.
"Reconhecemos o dano causado. Queremos ajudar todas as vítimas, acompanhá-las em sua cura", disse José Gabriel Vera, porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola.
Segundo as vítimas, 63% dos supostos agressores morreram. Diversas investigações foram iniciadas, incluindo uma liderada pela Defensoria Pública e a própria apuração da igreja. "Queremos saber o que deu errado na seleção dos candidatos ao sacerdócio, o que deu errado na formação, o que levou uma pessoa que decidiu se entregar a Deus a cometer abuso sexual", acrescentou o porta-voz da conferência.
O escândalo foi revelado em 2021 pelo jornal El Pais, que relatou mais de 1.200 supostos casos de abuso sexual infantil que abalaram a instituição em países como Estados Unidos, Irlanda e França.
O escândalo é mais um de uma série de denúncias relacionadas a crimes sexuais desse gênero em vários países. Em maio, relatório apontou que quase 2.000 menores de idade foram abusados sexualmente por mais de 450 pessoas ligadas à Igreja Católica em quase sete décadas no estado de Illinois, nos EUA.
Também em maio, autoridades da Bolívia anunciaram a abertura de uma apuração para determinar se membros da instituição devem ser responsabilizados por envolvimento em casos de abuso sexual infantil.
A força-tarefa no país andino foi organizada depois de vir à tona o caso do padre espanhol Alfonso Pedrajas, conhecido como padre Pica. Ele coordenou escolas jesuítas em comunidades bolivianas e admitiu em um diário ter abusado sexualmente de dezenas de menores de idade na década de 1970.
Os casos incomodam o papa Francisco. Desde que foi eleito, em 2013, ele vem tomando medidas para tentar erradicar abusos sexuais cometidos por clérigos. Em 2019, emitiu decreto que tornou obrigatório a bispos e padres informar suspeitas de abusos sexuais e permitiu a qualquer pessoa enviar denúncias ao Vaticano. Caso os bispos não as encaminhem, eles podem ser considerados corresponsáveis dos crimes.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.