A Marinha dos Estados Unidos divulgou nesta segunda-feira (5) um vídeo mostrando um navio de guerra chinês cortando abruptamente a rota de um destróier americano no estreito de Taiwan, forçando a belonave de Washington a reduzir a velocidade para evitar uma colisão.
Trata-se do mais recente incidente do tipo entre forças das duas potências rivais da Guerra Fria 2.0. Na semana passada, outro vídeo divulgado pelas Forças Armadas americanas mostrou um caça J-16 chinês manobrando de forma ameaçadora perto de um avião-espião dos EUA na região.
"Infelizmente, isso é parte de uma crescente agressividade da China com a qual estamos lidando, e estamos prontos para isso. Não vai demorar muito até que alguém se machuque, não é preciso muito para que um erro de julgamento ocorra", afirmou o porta-voz John Kirby. Em Pequim, o porta-voz diplomático Wang Wenbin disse que as medidas foram "razoáveis e seguras".
O novo episódio ocorreu no sábado (3). O destróier USS Chung-Hoon navegava em companhia da fragata canadense HMCS Montreal, naquilo que os EUA chamam de operação de liberdade de navegação: basicamente, empregar navios de guerra em águas internacionais que seus adversários consideram suas.
O ponto mais estreito entre China e Taiwan, ilha autônoma no centro das tensões do gigante asiático com os americanos, é de apenas 160 quilômetros. Pequim diz que toda a área lhe pertence, enquanto os EUA são defensores do governo de Taipé e da noção de que as águas são internacionais.
No vídeo, o destróier de mísseis guiados Luyang "fecha" o USS Chung-Hoon, ficando a 140 metros do navio. Segundo os EUA, seu navio não mudou de curso, mas reduziu a velocidade para 10 nós (18,5 km/h).
Os chineses não interferiram na navegação da fragata canadense, que também filmou à distância o incidente. "As forças americanas voam, navegam e operam com segurança e responsabilidade em qualquer lugar permitido pela lei internacional", afirmou a Marinha.
Não houve comentários por parte de Pequim. Esses incidentes têm se tornado rotineiros nos últimos anos, com riscos de um acidente levar a uma crise militar. No começo do ano, um caça russo abalroou um drone de espionagem americano no mar Negro, derrubando o aparelho, por exemplo.
Em 2001, um jato chinês fez o mesmo com um avião de reconhecimento dos EUA no contestado mar do Sul da China. O aparelho de Pequim caiu, enquanto o de Washington conseguiu pousar danificado.
O clima entre China e EUA segue azedo, dado o apoio do governo Biden a Taiwan, uma posição ambígua, dado que a relação diplomática estabelecida entre os rivais em 1979 implica reconhecer a ilha como chinesa. Pequim é também a maior aliada da Rússia, em choque com o Ocidente na Guerra da Ucrânia.
As relações se deterioraram ainda mais após a visita da então presidente da Câmara dos EUA a Taipé, em agosto. De lá para cá, os chineses realizam exercícios militares quase permanentes em torno da ilha.
No final de semana, o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, esteve no mesmo evento que o seu colega americano, Lloyd Austin, em Cingapura, segundo o qual os EUA seguirão operando no Indo-Pacífico, perto da China. Li respondeu que estaria pronto para reagir. "Como dizemos, cuide de sua vida", disse o ministro.
Austin o convidou para uma conversa às margens do fórum Diálogo de Shangri-La, promovido pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres), mas o chinês recusou. Com contatos oficiais rareados, os países tentam restabelecer laços ou manter canais abertos nos bastidores, como a recente visita do chefe da espionagem americana à China mostra.
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