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General americano prevê guerra com a China em 2025

Influente deputado concorda com avaliação de que Taiwan será estopim, e tema gera discussão

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São Paulo

Os Estados Unidos e a China travarão uma guerra em 2025, provavelmente devido a uma tentativa de Pequim de tomar à força Taiwan, ilha autônoma que considera uma província rebelde.

A previsão seria vista como mero alarmismo de interessados em maiores orçamentos de defesa, mas foi feita por um importante general americano em um documento estrategicamente vazado, causando grande agitação nos meios militares em Washington e Pequim.

O porta-aviões de propulsão nuclear americano USS Ronald Reagan, baseado no Japão, em exercício com navios de guerra da Coreia do Sul em setembro passado
O porta-aviões de propulsão nuclear americano USS Ronald Reagan, baseado no Japão, em exercício com navios de guerra da Coreia do Sul em setembro passado - Marinha da Coreia do Sul - 29.set.22/Yonhap/Reuters

"Espero estar errado. Mas meu instinto diz que vamos lutar em 2025", escreveu em um memorando supostamente interno o general Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA. O texto emergiu em redes sociais e foi confirmado pelo site The Drive com a Força Aérea.

Minihan usa termos duros. Diz que o líder chinês, Xi Jinping, "assegurou seu terceiro mandato e montou seu conselho de guerra em outubro de 2022". "As eleições presidenciais em Taiwan são em 2024, e elas darão a Xi uma razão. As eleições nos EUA são em 2024 e oferecerão a Xi uma América distraída. O time de Xi, suas razões e oportunidades estão todas alinhadas para 2025".

O militar, que comanda a frota de transporte e reabastecimento aéreo dos EUA, pediu que seu pessoal esteja pronto para a guerra, sugerindo inclusive que visitem "campos de tiro". "Mirem a cabeça", escreveu.

O vazamento ocorreu na sexta (27). No domingo (29), um influente deputado republicano saiu em defesa da conclusão do general. "Também espero que esteja errado, mas penso que ele está certo, infelizmente", afirmou à Fox News Michael McCaul, presidente do poderoso Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara.

"Já disse que as vulnerabilidades econômica e política da China fazem tal conflito improvável, mas quando um general de quatro estrelas e um dos poucos políticos que eu de fato respeito falam algo assim, sou compelido a rever meu pensamento", escreveu George Friedman, um dos principais formuladores de geopolítica dos EUA no site de sua consultoria, a Geopolitical Futures.

"Que ambos digam a mesma coisa sugere que alguém em Washington os informou sobre o tema", disse. Ele segue, por ora, com a previsão de que não haverá guerra porque não seria do interesse de ninguém.

Em favor dessa leitura está a reaproximação entre Xi e Joe Biden, que se encontraram no fim do ano passado, em Bali, e a abertura de canais de diálogo entre as duas potências. Ao mesmo tempo, o chinês mantém uma retórica mais agressiva para seu público interno, pedindo prontidão para guerras.

Biden pode não estar mais na Presidência em 2025, o que embaralha o jogo de adivinhação —seu antecessor, Donald Trump, lançou a Guerra Fria 2.0 contra a ascensão da China sob Xi em 2017.

Mas os fatores objetivos estão colocados: ambas as economias estão sob estresse, mas analistas apontam que o caso chinês é mais complexo por envolver uma queda provavelmente estrutural.

Do lado do Partido Democrata, de Biden, houve ceticismo. "Fico preocupado quando qualquer pessoa começa a dizer que a guerra com a China é inevitável. Generais deveriam ser mais cautelosos com o que dizem", afirmou o ex-chefe do Comitê dos Serviços Armados da Câmara, Adam Smith, à mesma Fox News.

Na China, analistas viram no vazamento um recado contra a eventual invasão de Taiwan. "Parece que os militares americanos estão usando esses alertas para declarar sua posição dia após dia: se a China pretende atacar Taiwan, então os americanos devem reagir com intervenção militar", disse o professor Zhu Feng (Universidade de Nanjing) ao jornal honconguês South China Morning Post.

Para ele, há um problema prático: "Tais alertas podem encorajar pilotos americanos a serem mais agressivos quando encontrarem seus colegas chineses, aumentando o risco de conflitos".

Pode ser, embora nos últimos anos tenham sido pilotos chineses os que quase causaram colisões entre seus caças e aviões espiões americanos em pontos de tensão, como o estreito de Taiwan ou o mar do Sul da China, que Pequim considera 85% seu e os EUA dizem ser uma área livre para navegação.

A tensão entre EUA e China chegou ao paroxismo em agosto passado, quando a então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, fez a primeira visita de uma autoridade no seu cargo a Taiwan em 25 anos. Pequim respondeu com exercícios simulando um bloqueio aeronaval que precede qualquer invasão, e mantém um regime de incursões aéreas e outros testes de defesa em alto grau desde então.

A tensão se espraia na região. Tóquio adotou um militarismo não visto desde a Segunda Guerra Mundial, o grupo Quad (EUA, Índia, Japão e Austrália) se robusteceu e Seul quer maior integração com forças nucleares americanas, dadas as ameaças da Coreia do Norte, uma aliada de Pequim.

Além disso, Xi mantém estreito relacionamento com Vladimir Putin, o presidente russo que desafia o Ocidente com a Guerra da Ucrânia. Aumentaram as ações militares conjuntas. Biden já advertiu o chinês para não se inspirar no colega quando formula sua política para Taiwan.

Os líderes russo e chinês devem se encontrar em breve, disse o Ministério das Relações Exteriores em Moscou na segunda (30) —talvez até antes do aniversário de um ano da invasão, em 24 de fevereiro.

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