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Terceira noite de protestos na França registra centenas de detidos

Prevendo outra noite turbulenta, governo mobiliza 40 mil agentes, que efetuaram ao menos 667 detenções

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Nanterre (França) | AFP

Centenas de pessoas foram detidas na terceira noite de protestos na França após a morte de um jovem por um policial, que teve a prisão preventiva por homicídio voluntário decretada pela Justiça.

Prevendo outra noite turbulenta, o governo mobilizou 40 mil agentes em todo o país, que efetuaram até o momento 667 detenções, segundo o ministro do Interior. A maioria dos detidos tem entre 14 e 18 anos.

A violência começou na última terça-feira (27), nos arredores de Paris, e se estendeu a outras partes da França, depois da morte de Nahel, 17. O adolescente foi atingido por um disparo à queima-roupa efetuado por um agente durante uma blitz, registrado em vídeo.

Em um relatório interno, as agências de segurança previam "uma generalização" da violência nas próximas noites, com "ações voltadas contra as forças da ordem e os símbolos do Estado", disse uma fonte policial.

Bombeiros apagam chamas em veículos após protestos pela morte de Nahel, em Nanterre
Bombeiros apagam chamas em veículos após protestos pela morte de Nahel, em Nanterre - Stephanie Lecocq - 28.jun.23/Reuters

"Não culpo a polícia, culpo uma pessoa: a que tirou a vida do meu filho", disse Mounia, mãe de Nahel, na primeira entrevista desde o caso. Segundo ela, o agente "viu um rosto árabe, um pequeno rapaz, e quis tirar sua vida". Durante o dia, ela liderou uma marcha de protesto em sua cidade, Nanterre, a oeste de Paris, que terminou com confrontos com a polícia, destruição de mobiliário urbano e gás lacrimogêneo.

Saques no centro de Paris

Ao cair da noite, a violência emergiu com mais força. Em Paris, lojas no centro comercial Halles e na rua Rivoli, que leva ao Museu do Louvre, foram vandalizadas, saqueadas ou incendiadas, segundo a polícia.

Em Pau, no sudoeste, manifestantes jogaram coquetel molotov contra uma delegacia, segundo a prefeitura. Em Lille, no norte, uma repartição distrital foi incendiada, e outra, apedrejada.

Na noite anterior, delegacias, prefeituras, escolas e carros foram incendiados em várias cidades, com um balanço de 180 detidos e 170 membros das forças de segurança feridos.

O presidente Emmanuel Macron criticou os episódios de violência, classificado por ele de "injustificáveis", contra "as instituições e a República", e a primeira-ministra Élisabeth Borne fez um apelo para "evitar uma escalada". Três cidades próximas à capital francesa decretaram toque de recolher noturno. Na região de Paris, ônibus e bondes deixaram de circular às 21h locais.

Agente pede perdão


Após a onda de protestos gerada pela reforma do sistema previdenciário, entre janeiro e maio, a França vive um cenário semelhante pela morte de Nahel, que teria se negado a obedecer às ordens de dois agentes durante uma blitz de trânsito em Nanterre.

Um vídeo publicado nas redes sociais, cuja autenticidade foi comprovada pela agência de notícias AFP, mostra o momento em que um agente aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera o veículo. A fuga do jovem terminou poucos metros à frente, quando o carro bateu num poste. Ele morreu pouco depois devido ao disparo.

Segundo a emissora francesa BFMTV, em setembro de 2022 Nahel foi apresentado a um juiz de menores por desobedecer autoridades em janeiro do mesmo ano. Ele iria novamente a um tribunal em setembro por outra recusa a uma ordem de parada, no final de semana passado, segundo o canal. Os episódios foram registrados em um sistema da Justiça francesa, como de praxe —o que não significa que ele tinha antecedentes criminais, já que não houve condenação.

"Ser conhecido da polícia não significa absolutamente nada", afirmou a sua defesa. "Esses arquivos carecem de precisão." Tanto vítimas quanto suspeitos são registrados nesse sistema, segundo a imprensa francesa.

Nesta quinta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva por homicídio doloso do policial de 38 anos suspeito de ter atirado no adolescente, segundo o Ministério Público, que considerou que o uso de sua arma não foi legalmente justificável. Seu advogado afirmou que o agente pediu perdão à família e que estava "extremamente comovido" com a violência do vídeo veiculado com o ocorrido.

"As primeiras palavras que ele pronunciou eram para pedir perdão, e as últimas, para pedir perdão à família", disse Laurent-Franck Liénard ao canal BFMTV. "Ele está destruído. Não acorda de manhã para matar gente. Não quis matar", acrescentou.

O drama gerou indignação generalizada, do presidente Macron ao jogador de futebol Kylian Mbappé, especialmente no momento em que a violência policial é um tema recorrente na França, onde 13 pessoas morreram em situações similares à de Nahel em 2022. "Sempre os mesmos são atacados, os negros e os árabes, os bairros pobres. Matam um menino de 17 anos assim, sem motivo. Esta morte nos causa muito ódio", disse à AFP Ayoub, 16, vestido de preto, durante a marcha em Nanterre.

Na memória coletiva dos franceses ainda estão os tumultos que explodiram em 2005 nas periferias das grandes cidades, depois que dois adolescentes morreram eletrocutados quando fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, nordeste da capital. O governo do então presidente conservador Jacques Chirac decretou estado de emergência, uma medida que tanto a direita quanto a ultradireita pedem neste momento, mas que, por ora, não está sendo cogitada pelas autoridades.

O governo enfrenta uma situação delicada, em particular porque as críticas feitas por membros do gabinete de Macron geraram mal-estar entre as associações de policiais. Agora, o Executivo tenta combinar firmeza diante dos distúrbios com um apaziguamento para evitar o agravamento da tensão.

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