Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump é indiciado por caso de documentos secretos e volta ao banco dos réus

Republicano fez anúncio em rede social e se torna primeiro líder americano a enfrentar acusações federais

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Washington

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi indiciado mais uma vez nesta quinta-feira (8), agora em nível federal e por supostamente ter mantido documentos confidenciais do governo após deixar a Casa Branca, segundo ele próprio publicou em rede social e foi confirmado pela imprensa americana.

Assim, Trump, que já era o primeiro ex-presidente indiciado por um crime na história do país, reforça o ineditismo e enfrentará o segundo processo criminal —ao menos, porque há outras investigações avançadas que podem colocá-lo no banco dos réus.

O republicano Donald Trump, então presidente dos EUA, em Iowa
O republicano Donald Trump, então presidente dos EUA, em Iowa - Alex Edelman - 14.out.20/AFP

O indiciamento torna ainda mais complexa a corrida eleitoral à Presidência do ano que vem. Mas, até aqui, o republicano tem mostrado habilidade para virar o jogo a seu favor, porque permanece favorito nas pesquisas mesmo com as complicações criminais. "O governo corrupto de [Joe] Biden informou a meus advogados que fui indiciado", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social. Ele afirmou ainda que foi convocado para comparecer ao tribunal federal de Miami na terça (13). "Sou inocente", disse em vídeo.

Segundo a mídia americana, o ex-presidente foi indiciado por sete acusações ligadas ao manuseio de documentos confidenciais e obstrução da Justiça, que só serão conhecidas na terça. Trata-se do primeiro indiciamento de Trump em nível federal. Em março, foi posto no banco dos réus pela Justiça de Nova York.

Segundo o Departamento de Justiça, ele guardou documentos que poderiam comprometer a Inteligência americana ao deixar a Casa Branca em 2021. Entre os possíveis crimes pelos quais o republicano é investigado nesse caso estão violações na lei de espionagem, obstrução da Justiça e conspiração.

Há cerca de um ano, agentes do FBI, a polícia federal americana, apreenderam cerca de 13 mil documentos na propriedade de Trump em Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida.

Cem deles foram marcados como confidenciais, embora um dos advogados de Trump tenha dito anteriormente que todos os papéis sigilosos haviam sido devolvidos ao governo. O republicano já havia se defendido do caso dizendo que tirou o sigilo dos documentos enquanto presidente.

Nas últimas semanas foram se acumulando os indícios de que Trump seria alvo formal de uma nova acusação criminal, sobretudo após a CNN revelar que promotores federais dos EUA obtiveram um áudio em que Trump admite ter mantido papéis secretos do Pentágono sobre um possível ataque ao Irã.

A gravação, feita durante uma reunião em 2021, coloca em xeque o argumento de que o sigilo havia sido suspenso. No áudio, Trump expressa o desejo de compartilhar as informações, mas reconhece as limitações que tem, como ex-presidente, para retirar a confidencialidade dos papéis.

As conversas aconteceram no clube de golfe do ex-presidente em Nova Jersey. Estavam presentes duas pessoas que trabalhavam na autobiografia do ex-chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, e assessores. Eles, aliás, não tinham autorização para ter acesso a dados secretos do governo. Tudo isso fortaleceu a investigação conduzida pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith, designado para supervisionar o caso contra o ex-presidente.

Em abril, Trump já havia sentado no banco dos réus, naquela vez por uma investigação da Justiça local em Nova York, e ouvido 34 acusações relacionadas à compra do silêncio de uma atriz pornô na primeira campanha que disputou, em 2016. Ele negou a prática de crimes.

Pelo caso, vai enfrentar um processo criminal com as primeiras audiências marcadas para março do ano que vem, em meio às primárias para escolher quem será o candidato republicano à Casa Branca.

O que poderia ser um pesadelo político, no entanto, tem se mostrado até benéfico para o ex-presidente, que mostrou mais uma vez a habilidade de virar o noticiário negativo a seu favor.

Após o primeiro indiciamento, ele angariou ainda mais apoio na legenda, arrecadou US$ 10 milhões em menos de uma semana e disparou como o favorito para receber a indicação. Hoje, tem 53,8% das intenções de voto entre os republicanos, segundo o agregador de pesquisas do portal FiveThirtyEight. Em segundo lugar, o governador da Flórida, Ron DeSantis, tem menos da metade, 21,3%.

O caso desta quinta também ensejou manifestações automáticas de apoio mesmo de seus adversários dentro do partido. "Seria muito mais fácil para mim vencer esta eleição se Trump não estivesse na disputa, mas defendo princípios acima da política. Comprometo-me a perdoar Trump e a restaurar o Estado de Direito em nosso país", disse o empresário Vivek Ramaswamy, também pré-candidato republicano.

O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, afirmou que é "um dia sombrio" para o país e que é "inconcebível que um presidente indicie o principal candidato que se opõe a ele", referindo-se ao fato de que a acusação atual parte da esfera federal. Ele prometeu que a Câmara vai procurar responsabilizações pelo ato.

Trump enfrenta ainda outras duas investigações que podem resultar em indiciamento. Uma delas por tentativa de interferência na eleição na Geórgia em 2020, quando perdeu para Biden.

O que pode causar mais dor de cabeça e ser usado para tirá-lo da corrida presidencial, porém, é a investigação sobre sua participação no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. A 14ª Emenda da Constituição americana proíbe que participantes de insurreições ou rebeliões ocupem cargos públicos.

Ele enfrentou também outros reveses recentes na esfera civil. Em maio, um tribunal em Nova York o condenou a pagar US$ 5 milhões à escritora E. Jean Carroll por difamação, em processo em que ela o acusa de abuso sexual.

Colaborou Pedro Lovisi, de Belo Horizonte 

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