Pentágono nega apuração de que Cuba sediará base da China para espionar EUA

Segundo Wall Street Journal, instalação permitiria a Pequim capturar mensagens em regiões militares

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São Paulo

O Pentágono negou nesta quinta-feira (8) ter conhecimento de que a China fechou um acordo secreto com Cuba para instalar uma base de espionagem na ilha, a cerca de 160 quilômetros da Flórida. A informação havia sido publicada pelo The Wall Street Journal.

Segundo o jornal, a estação permitiria a Pequim capturar comunicações no sudeste dos EUA, que abriga infraestruturas militares, e oferecer capacidade de monitorar o tráfego de navios.

A publicação não informa o valor do acordo, mas diz que a China concordou em pagar "vários bilhões de dólares" para que Cuba permitisse a instalação da base. O plano, ainda segundo o WSJ, vem alarmando a Casa Branca devido à proximidade da ilha com o território americano.

Os líderes da China, Xi Jinping (à esq.), e de Cuba, Miguel Díaz-Canel, durante encontro em Pequim
Os líderes da China, Xi Jinping (à esq.), e de Cuba, Miguel Díaz-Canel, durante encontro em Pequim - Ding Lin - 25.nov.22/Xinhua

O governo americano disse que as informações são incorretas. "Com base nas informações que temos, posso dizer o conteúdo publicado não é preciso e que não sabemos que China e Cuba desenvolvem um novo tipo de estação de espionagem", afirmou o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder.

Na mesma linha, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que a reportagem é imprecisa. Mas, em nota, falou em "esforços da China para investir em infraestrutura em todo o mundo, que pode ter fins militares, inclusive neste hemisfério".

"Monitoramos o tema de perto e seguimos confiantes de que podemos cumprir os nossos compromissos de segurança em casa, na região e em todo o mundo", acrescentou.

Procurada pelo Wall Street Journal, a embaixada da China em Washington disse que não estava ciente do caso. Já o vice-chanceler de Cuba, Carlos Fernandez de Cossio, chamou a reportagem de "totalmente mentirosa e infundada".

Na chamada Guerra Fria 2.0, Washington considera Pequim seu principal rival econômico e militar, e uma base chinesa com capacidades de inteligência próxima dos EUA seria uma ameaça sem precedentes.

O acordo é divulgado num momento em que Washington e Pequim procuram aliviar as tensões após a derrubada, em fevereiro, de um suposto balão espião chinês que sobrevoou os EUA. Pequim repudiou a ação e disse que o artefato era de pesquisas. Antes, em janeiro, documento vazado revelou a avaliação feita por um general americano de que as superpotências devem travar uma guerra em 2025.

Para descongelar as relações, William Burns, diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, e um dos funcionários de maior confiança do presidente Joe Biden, fez uma viagem à China no mês passado. A visita indica como a Casa Branca estava preocupada com as relações deterioradas entre os países.

Os esforços de reaproximação, porém, podem ter sido em vão, já que a possível base em Cuba coloca em dúvida uma viagem do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a Pequim. No começo do ano, o principal diplomata dos EUA adiou uma visita à China devido ao incidente do suposto balão espião.

A reportagem teve repercussão no Capitólio. O senador Bob Menendez, democrata que preside o Comitê de Relações Exteriores do Senado, disse que o plano representaria "um ataque direto aos EUA". "Portanto, espero que o governo pense em como reagirá."

Já Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e atual candidata à Presidência pelo Partido Republicano, criticou o presidente americano nas redes sociais. "Biden precisa acordar para as verdadeiras ameaças chinesas à nossa porta", escreveu ao comentar a publicação.

Apesar da condenação à iniciativa de Pequim, o governo americano tem um longo histórico de espionagem na China e arredores. As forças americanas também fazem com frequência atividades com o uso de aviões espiões no mar do Sul da China, área no Sudeste Asiático.

Em abril, o chefe do Departamento de Segurança Nacional de Taiwan disse ao Parlamento da ilha que autoridades do território estavam compartilhando informações de inteligência criptografada em tempo real com o chamado "Five Eyes", a rede formada por EUA, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália.

As relações entre Washington e Havana, por sua vez, continuam tensas. No ano passado, o governo Biden suspendeu as restrições impostas por seu antecessor, Donald Trump, aos voos para a ilha, mas as autoridades cubanas consideraram as medidas insuficientes para reaproximação.

As tensões remontam à Guerra Fria, que teve como momento emblemático a chamada crise dos mísseis, em 1962, quando Moscou instalou armas nucleares soviéticas na ilha. Já nos últimos anos, a economia cubana tem sido impactada pela inflação alta, escassez de combustível e queda na produção agrícola.

Com Reuters

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