Ultradireita da Espanha, Vox faz aliança para governar 10 grandes cidades

Partido, que se aliou ao conservador PP para liderar prefeituras, sai fortalecido para eleições gerais de julho

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São Paulo

Ao se aliar ao conservador Partido Popular (PP), a legenda de ultradireita Vox conquistou dez grandes cidades espanholas após as eleições locais realizadas no final de maio, no que pode ser um prelúdio do pleito do mês que vem, que definirá a composição do Legislativo e um eventual novo primeiro-ministro.

Entre as 50 capitais de províncias, o PP estará no poder em 30 delas —e em cinco dividirão o poder com a controversa sigla fundada em 2013 por seus dissidentes. Alcalá de Henares, onde nasceu o escritor Miguel de Cervantes, Móstoles e as autônomas Ceuta e Melilha também serão governadas pela aliança.

Já o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que atualmente governa a Espanha, conquistou quatro capitais: Barcelona, Vitoria, Cuenca e León. Apenas em Soria a sigla conseguiu maioria absoluta.

Apoiadores do Vox agitam bandeiras da Espanha em protesto em Madri - Pierre Philippe Marcou - 28.mai.22/AFP

"Em mais de 140 municípios do país, o bom senso prevalecerá", disse neste sábado (17) o presidente do Vox, Santiago Abascal, indicando que, com a aliança, pretende colocar em marcha sua agenda conservadora para acabar com, nas palavras do partido, secretarias municipais "ideológicas", como as de Igualdade —para o Vox, os órgãos "esbanjaram" milhões de euros e "não resolveram problemas reais".

Segunda cidade mais populosa da província de Alicante, Elche estará nas mãos da coalizão. Ali funcionará a Secretaria de Família e Idosos sob a liderança da vereadora Aurora Rodil, do Vox, que neste sábado disse defender a vida dos "nascidos" e dos "nascituros". Está no papel ainda o fim da ciclovia dessa cidade.

Em Ciudad Real, onde o PP incluiu o Vox no governo mesmo sem precisar da sigla para governar, planeja-se promover "as famílias e a natalidade", "conservar os espaços naturais sem demagogia ambientalista", "ampliar o orçamento da Semana Santa" e "reestruturar as secretarias sem nomenclaturas ideológicas".

O combate à crise climática também pode ficar fora dos planos na gestão desses municípios. Notório negacionista do aquecimento global, o Vox chegou a afirmar, em 2021, que um informe do IPCC (painel da ONU com especialistas em mudanças no clima) sobre as consequências da crise ambiental era "o maior alerta de pânico climático", e Abascal classificou o aquecimento do planeta de "religião climática".

A vitória da aliança de direita levou o premiê espanhol, o socialista Pedro Sánchez, a antecipar as eleições legislativas de novembro para 23 de julho. As pesquisas indicam que o PP alcançará a maioria em grande parte dos redutos eleitorais —mas, para formar um governo, precisará se aliar ao Vox. A ameaça de um governo ultraconservador foi o tema central da campanha para a reeleição de Sánchez

"Estamos numa maré de direita na Espanha", disse Miguel Ángel Revilla, governador da Cantábria, numa entrevista coletiva após a divulgação dos resultados iniciais no dia 28 de abril. Em relação às últimas eleições, o PP cresceu de 23% para 31%, o PSOE diminuiu de 29% para 28% e o Vox duplicou sua votação geral, de 3,5% para 7%. Outros partidos não alcançaram 3% da votação geral.

A aliança entre conservadores e ultradireitistas, porém, dá mostras de que enfrentará desafios. Na sexta (16), o deputado do Vox do Legislativo de Valência José María Llanos afirmou que "a violência de gênero e a violência machista não existem". Mesmo com a avalanche de críticas, reafirmou a posição no Twitter.

"Gostaria de retificar e condenar todos os tipos de violência contra as mulheres, incluindo a violência sexista. O que nego é a existência de violência de gênero", afirmou. Ele disse que tentará erradicar "todos os tipos de violência" por meio de marcos legais que "permitam que todas as vítimas sejam protegidas".

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, correu para apagar o incêndio e apresentar uma imagem mais moderada. "A violência de gênero existe, e cada assassinato de uma mulher nos choca como sociedade", postou o político. "No PP não daremos nenhum passo atrás na luta contra este flagelo."

Com AFP

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