Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin ameaça atacar caças F-16 fora da Ucrânia

Presidente diz que poderia ter destruído Kiev; missão de paz africana tem contratempos

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São Paulo

O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta sexta-feira (16) que poderá fazer suas forças atacarem caças F-16 de nações ocidentais em bases fora da Ucrânia, caso eles participem de ações de combate contra forças do Kremlin no país invadido em 2022.

A sugestão, feita de forma meio oblíqua a ponto de não chamar a atenção do noticiário no Ocidente, ocorreu no Fórum Econômico de São Petersburgo, evento esvaziado neste ano pela Guerra da Ucrânia.

Putin durante sessão plenária do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo
Putin durante sessão plenária do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo - Mikhail Koritvo/RIA/AFP

"Os tanques [usados na contraofensiva ucraniana] estão queimando, muitos foram destruídos, inclusive o [modelo alemão] Leopard. Estão queimando, assim como irão os F-16. Não há dúvida disso", disse Putin.

"Mas se esses [caças] estiverem em bases aéreas fora da Ucrânia e forem usados nas hostilidades, nós teremos de olhar como e onde seremos afetados", disse o presidente russo, sobre a reação ao eventual emprego dos aviões americanos por Kiev. Ele não elaborou, mas respondia a uma especulação corrente de que os F-16 prometidos por países da Otan podem eventualmente ficar baseados na Polônia, país vizinho da Ucrânia que é membro da aliança militar ocidental. Ninguém confirma tal cenário, contudo.

A ameaça de Putin, por vazia que seja, enseja um cenário complexo. Se os russos tentarem derrubar um F-16 a serviço da Ucrânia em solo ou no espaço aéreo polonês, isso será lido como uma agressão a um membro da Otan. Logo, pelo artigo 5 da carta do órgão, todos os outros 30 integrantes terão de reagir.

Seria a Terceira Guerra Mundial, em resumo. Putin completou seu raciocínio, dizendo que há "sérios riscos de a Otan ser tragada ainda mais na guerra". O russo diz, não sem razão, que o conflito hoje é do Ocidente contra a Rússia, por procuração. "Logo a Ucrânia não terá mais equipamento militar próprio", disse.

Assim, "ela dependerá exclusivamente do Ocidente" para continuar a guerra. Há certo exagero, mas não muito. A atual contraofensiva é amparada no equipamento ocidental doado, blindados e tanques à frente.

Em relação aos caças, há pouca concretude nas informações até aqui. A Otan, reunida em Bruxelas, disse que o treinamento de pilotos ucranianos já começou. A Dinamarca, local presumido de tal treino, afirmou por sua vez que está se preparando para tal.

Seja como for, há dúvidas: quais modelos de F-16 serão disponibilizados, por quem e quando, fora a questão acerca de quando os pilotos —acostumados a modelos soviéticos MiG-29 e Su-27— estarão prontos para usar um caça que é da mesma geração, mas de escola de engenharia e pilotagem diversa.

Especula-se que os F-16 prometidos sejam dos arsenais de países como Dinamarca e Holanda, que os têm de sobra, mas em versões bastante desatualizadas. As defesas aéreas russas instaladas na Ucrânia talvez não tenham dificuldades contra eles.

Putin voltou a fazer bravatas nucleares, dizendo que a Rússia pode, mas não usará tais armas, salvo em risco existencial do país. A Casa Branca mordeu a isca e reagiu, dizendo que o presidente apenas ameaça.

A Otan, por sua vez, disse não ter registrado mudança essencial na postura russa, embora veja com preocupação a colocação de bombas atômicas táticas na Belarus, ditadura aliada da Rússia junto à Europa. Putin confirmou o movimento nesta sexta.

No fórum econômico, que teve como grande estrela o líder dos Emirados Árabes Unidos, xeque Mohammed bin Zayed, Putin disse ainda que suas forças "não destruíram porções centrais de Kiev" porque não quiseram, na primeira fase da guerra —encerrada com o fracasso em tomar a capital.

Por fim, Putin ainda insultou o judaísmo do presidente Volodimir Zelenski, dizendo que segundo seus amigos judeus ele é "uma desgraça para a religião". Isso vai em linha com sua retórica de que está tentando "desnazificar e desmilitarizar" a Ucrânia.

Na Ucrânia, a violência segue em alta. A contraofensiva de Kiev está em curso, com ganhos laterais reportados para os ucranianos em Zaporíjia, no sul, mas dura resistência em Donetsk, no leste. Os russos dizem evitar quaisquer rompimentos de suas frentes, e até aqui parecem não ter exagerado nesse item.

Em Kiev, a visita de uma comitiva africana liderada pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, acabou em confusão e desacertos. Segundo o governo local, houve ataques com mísseis russos durante a passagem do grupo, algo negado por um porta-voz sul-africano —o país é um aliado distante de Moscou.

O fato é que a África do Sul e outros países do continente têm estreita relação com a Rússia. Zelenski piorou as coisas ao questionar a delegação sobre sua próxima parada, Moscou. O mal-estar, segundo relatos, foi evidente. Para agravar a situação, a comitiva que acompanhava o grupo ficou presa muito tempo no avião na Polônia, com jornalistas e porta-vozes acusando o pessoal em terra de racismo.

Na reunião de ministros da Defesa da Otan, em Bruxelas, houve dissenso acerca de um documento comum sobre segurança continental dos parceiros europeus do clube. Sobrou ao secretário-geral, Jens Stoltenberg, focar a ideia de um "comitê Otan-Ucrânia" a ser estabelecido na cúpula da entidade em julho.

Ele não significa adesão, até porque as regras da aliança não permitem a entrada de membros em guerra. Mas visa a sinalizar a Putin que seu "casus belli" original, a entrada de Kiev na Otan, seguirá no horizonte.

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