Descrição de chapéu América Latina

Justiça da Guatemala ordena suspensão de resultado de 1º turno das eleições

Decisão de Corte Constitucional do país causa preocupação entre entidades como União Europeia e OEA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Menos de uma semana após o anúncio de que os candidatos Sandra Torres, 67, e Bernardo Arévalo, 64, disputariam o segundo turno das eleições à Presidência da Guatemala, a Suprema Corte do país acatou o pedido de nove partidos e ordenou neste domingo (2) a suspensão dos resultados das eleições do último dia 25.

A ex-primeira-dama Torres era a favorita na disputa e obteve 15,8% dos votos na ocasião. Já Arévalo, do partido de esquerda Movimiento Semilla, que aparecia em oitavo lugar nas pesquisas, recebeu 11,8% dos votos.

Sandra Torres (esq.) e Bernardo Arévalo (dir.) foram os mais votados no 1° turno das eleições na Guatemala
Sandra Torres (esq.) e Bernardo Arévalo (dir.) foram os mais votados no 1° turno das eleições na Guatemala - Cristina Chiquin - 25.jun.2023/REUTERS

A decisão foi tomada pela Corte Constitucional a partir de um pedido empenhado pelo partido da própria Torres, Unidade Nacional da Esperança, em conjunto com o Vamos —legenda do atual presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei—, e outras siglas aliadas.

A máxima instância judicial do país afirmou que serão avaliadas suspeitas de irregularidades e que deseja garantir a segurança do processo eleitoral, segundo informações da agência Reuters. Ainda não se sabe se haverá uma recontagem dos votos ou mesmo se o processo será finalizado até a realização do segundo turno, marcado para 20 de agosto.

Outra sigla que requisitou a suspensão dos resultados foi o Partido Valor, pelo qual Zury Ríos, filha do ex-ditador Efraín Ríos Montt (1982-1983), concorria. A sigla denunciou na sexta-feira (30) a suposta alteração de mais de mil atas. Estas representariam 0,82% das 121.227 atas apuradas de um total de 122.293, de acordo com dados oficiais.

Ríos, que estava entre os três favoritos nas pesquisas, ficou em sexto lugar, com apenas 6,57% dos votos, enquanto o candidato do governo, Manuel Conde, ficou em terceiro lugar, com 7,84%.

Azarão na disputa, Arévalo disse que a decisão da Suprema Corte não possui mérito legal e que é perigosa para o processo eleitoral. "Não podemos deixar que os mesmos velhos partidos, frustrados e desapontados com seus maus resultados no primeiro turno, manchem e questionem a livre decisão de milhares de guatemaltecos", disse ele em vídeo publicado nas redes sociais.

O movimento dos magistrados surpreendeu representantes da União Europeia (UE) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acompanharam o processo eleitoral.

A UE pediu às instituições judiciais e aos partidos políticos que "respeitem a vontade dos cidadãos expressa livremente nas eleições de 25 de junho". Ao longo da semana, a entidade europeia já havia afirmado que, apesar do compromisso dos eleitores com a democracia, os partidos derrotados buscavam deteriorar o Estado de Direito através de uma judicialização do pleito com "fins políticos".

A OEA se manifestou no mesmo sentido, instando "os Poderes do Estado, Legislativo, Judiciário e Executivo, a respeitarem a separação de Poderes, a integridade do processo eleitoral, assim como o trabalho e as conclusões alcançadas neste processo".

"O respeito à expressão do povo por meio do voto é essencial para manter a plena confiança nas eleições por parte dos cidadãos e da comunidade internacional", ressaltou o organismo regional em um comunicado.

O clima atual na Guatemala é de grande descrença nas instituições. Considerando os votos totais da eleição do último dia 25, nenhum dos 22 candidatos superou os votos nulos e brancos, que somaram 24,4% do total das cédulas —quatro anos atrás, a cifra era de 13%. Já a participação popular no pleito foi de 59,9%, contra 62% nas eleições passadas.

A própria caminhada até o primeiro turno foi conturbada. Quatro aspirantes à Presidência tiveram suas candidaturas suspensas, um grupo que incluía o líder nas pesquisas, o empresário Carlos Pineda, que ganhou popularidade no TikTok. Segundo a Justiça, o Prosperidade Cidadã, partido de Pineda, teria cometido uma série de ilegalidades no evento em que ele foi proclamado candidato.

Além do empresário, Thelma Cabrera, única postulante indígena num país em que metade da população se identifica como tal, também foi barrada. Seu candidato a vice, o ex-procurador de direitos humanos Jordán Rodas, foi acusado de supostos atos de corrupção e se exilou na Espanha.

Foram suspensas ainda as candidaturas de Roberto Arzú, filho do ex-presidente Álvaro Arzú (1996-2000), e de Óscar Rodolfo Castañeda.

Nação mais populosa da América Central, com 18 milhões de habitantes, a Guatemala está submersa em uma agenda autoritária de perseguição judicial e exílio de opositores e jornalistas. O país tem o quinto pior índice de percepção de corrupção da América Latina, segundo a ONG Transparência Internacional, e é controlada por um complexo sistema de interesses que envolve oligarquias, militares, empresários e narcotraficantes.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.