Mil reservistas ameaçam cruzar os braços em Israel contra reforma judicial

Em resposta, ministro da Defesa diz que tenta adiar uma votação da proposta e que busca consenso nacional

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São Paulo

Em protesto contra os planos de uma reforma judicial, 1.142 reservistas da Força Aérea de Israel divulgaram carta nesta sexta (21) ameaçando abandonar seus deveres de serviço voluntário —um anúncio sem precedentes que pode impactar as operações militares.

A carta é o mais recente sinal de oposição entre militares às mudanças legislativas patrocinadas pela coalizão do premiê Binyamin Netanyahu, a mais à direita da história de Israel. Há uma onda de reservistas que dizem se negar a servir a um país antidemocrático, de acordo com a mídia local.

Botas militares penduradas durante um dos protestos contra a reforma judicial em Tel Aviv simbolizam o cruzar de braços de alguns dos membros da reserva de Israel
Botas militares penduradas durante um dos protestos contra a reforma judicial em Tel Aviv simbolizam o cruzar de braços de alguns dos membros da reserva de Israel - Amir Cohen - 19.jul.23/Reuters

Em Israel, aqueles que serviram em unidades especiais geralmente continuam cumprindo suas funções quando vão para a reserva. Por isso, o movimento preocupa —cerca de metade das equipes enviadas para missões de combate, por exemplo, é de reservistas que se voluntariam após o serviço militar obrigatório, segundo veteranos.

Em resposta ao manifesto, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que tentará adiar uma votação sobre a reforma marcada para a próxima semana e que "está tomando medidas para alcançar um amplo consenso e para garantir a segurança do Estado de Israel".

Na carta endereçada aos parlamentares, ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e ao chefe da Força Aérea, os militares da reserva pedem acordos amplos sobre a reforma e reivindicam que o governo mantenha a independência do Poder Judiciário.

"A legislação permite ao governo agir de maneira irracional", escrevem os reservistas. "Ela prejudicará a segurança do Estado de Israel, fará com que percamos a confiança e violará nosso consentimento de seguir arriscando nossas vidas —e levará, com profunda tristeza, à suspensão de nosso dever de reserva voluntária."

Em resposta à carta, o ministro da Segurança Nacional de Israel, o extremista Itamar Ben-Gvir, afirmou que "recusar o serviço era perigoso para o país". Uma das figuras mais radicais do governo, ele já foi indiciado várias vezes por incitação ao racismo e fez parte do grupo que rechaça a ideia de acordos com palestinos.

Já o porta-voz militar, o contra-almirante Daniel Hagari, afirmou que "examinaria os significados [da carta]". "A segurança dos cidadãos do Estado de Israel está nos militares permanentes e de reserva", disse.

A reforma que causou uma das maiores crises domésticas na história recente do país altera o processo de nomeação de juízes e reduz o poder da Suprema Corte. Críticos afirmam que medidas como tirar do Supremo o poder de vetar leis aprovadas pelo Parlamento ou aumentar a influência do governo sobre a nomeação de juízes removeriam os contrapesos do Estado democrático.

Os defensores do projeto, porém, afirmam que a reforma impõe ao Judiciário um limite necessário para restaurar o equilíbrio entre os Três Poderes.

Na semana passada, o trâmite da reforma judicial no Knesset, o Parlamento israelense, avançou após um hiato de três meses, fazendo os protestos massivos que eclodiram no país do Oriente Médio no começo do ano também voltarem às ruas.

Após Netanyahu ensaiar um recuo em alguns pontos da reforma, seus aliados atropelaram as negociações com a oposição e votaram a favor de um texto que proíbe os tribunais de usar o chamado "padrão de razoabilidade" para invalidar decisões do governo.

Em janeiro, a Suprema Corte usou esse recurso para ordenar o afastamento de Aryeh Deri, então número 2 do governo e titular das pastas do Interior e da Saúde, por uma condenação por fraude fiscal.

Até mesmo os presidentes dos maiores bancos de Israel se juntaram ao coro de críticas nesta sexta-feira. "Os investidores com os quais conversamos nos últimos meses estão muito preocupados com os últimos acontecimentos. A preocupação deles com a divisão da nação e, claro, a nossa, está interrompendo investimentos e causando danos que podem ser irreversíveis e destrutivos para a economia de Israel", disse o presidente-executivo do banco Leumi, Hanan Friedman.

Com Reuters

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