Mortes motivam rebeliões em presídios do Equador, e 90 agentes são feitos reféns

País é assolado por conflito entre facções criminosas; presidente decreta estado de emergência e toque de recolher

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São Paulo

Uma série de episódios de violência nos últimos dias que inclui rebeliões em presídios e o assassinato de um prefeito agravou a crise de segurança no Equador, palco de um pujante tráfico de drogas e de confrontos cada vez mais frequentes entre facções criminosas.

O Snai, órgão responsável pela administração de presídios do país, informou nesta segunda (24) que cerca de 90 agentes penitenciários eram mantidos reféns em cinco prisões na região de Guayaquil, uma das mais populosas do país. As rebeliões explodiram após a morte de seis detentos em um confronto entre gangues ocorrido na véspera —outras 11 pessoas ficaram feridas.

Militares montam guarda do lado de fora de prisão em Guayaquil, no Equador
Militares montam guarda do lado de fora de prisão em Guayaquil, no Equador - Marcos Pin/AFP

A crise não se restringe a Guayaquil. Presos em 13 cadeias fazem greve de fome em dez províncias espalhadas pelo país. Eles reclamam da falta de atenção do governo e da insegurança nos presídios.

Mais de 420 detentos foram assassinados no Equador desde fevereiro de 2021. Os confrontos entre as facções que disputam o controle das cadeias e de territórios para a venda de drogas resultam em episódios com o saldo de dezenas de corpos carbonizados, desmembrados e decapitados.

Um comitê de pacificação criado pela equipe do presidente Guillermo Lasso descreveu no ano passado as prisões equatorianas como "armazéns de seres humanos e centros de tortura". O relatório ainda chama a atenção para o crescimento do tráfico de drogas e da violência no país. A taxa de homicídios saltou de 14 para 25 por 100 mil habitantes de 2021 para 2022, também segundo o governo.

Numa tentativa de conter a crise atual, Lasso declarou estado de emergência e toque de recolher das 22h às 5h nas províncias de Manabi e Los Rios e na cidade de Duran. Segundo o governo, a medida foi implementada devido a uma "comoção interna grave" e é válida por 60 dias, mas poderá ser prorrogada.

"Não podemos negar que o crime organizado permeou o Estado, as organizações políticas e a própria sociedade. É um problema que vem aumentando há mais de uma década", disse Lasso após reunião do gabinete de segurança. O estado de emergência permite ao governo mobilizar as Forças Armadas em patrulhas conjuntas com a polícia.

O Snai afirmou que as autoridades dialogam com os porta-vozes dos centros de detenção para conhecer as razões da greve de fome e evitar outras mortes. No domingo, um jornalista da agência AFP relatou ter ouvido disparos na unidade prisional onde ocorreu o confronto entre as facções. Imagens divulgadas pelo Ministério Público mostram objetos destruídos e um buraco no chão do presídio, além de policiais fortemente armados. Após a crise, as autoridades reforçaram a segurança em todas as prisões do país.

No ano passado, uma delegação das Nações Unidas afirmou que a violência nas prisões do Equador foi causada por anos de negligência do Estado com o sistema penitenciário. O presidente Lasso, um ex-banqueiro conservador que enfrentou audiências de impeachment por acusações de corrupção —as quais ele nega—, tem se esforçado para lidar com a crescente violência no país, usado como ponto de trânsito para a cocaína que se desloca para a Europa e para os Estados Unidos.

O Equador tornou-se em poucos anos o país da "corrida ao ouro" do narcotráfico. Grandes cartéis de lugares tão distantes quanto México e Albânia estão unindo forças com quadrilhas dos presídios e das ruas, desencadeando uma onda de violência diferente de qualquer outra vista na história recente do país. Em 2021, as autoridades apreenderam um recorde anual de 210 toneladas de entorpecentes.

Em outro caso de violência ocorrido no fim de semana, o prefeito da cidade de Manta, Agustin Intriago, 38, foi assassinado a tiros no domingo. A polícia disse que o político, reeleito em fevereiro, estava inspecionando obras públicas no momento do ataque. Segundo as investigações, um homem armado saiu de um caminhão roubado e abriu fogo contra Intriago, atingindo ele e uma mulher que passava pelo local. Ambos morreram. Agentes de segurança do prefeito reagiram e feriram o motorista do veículo, que agora está sob custódia enquanto recebe atendimento médico no hospital.

Edwin Noguera, comandante da polícia regional, disse que o homem detido é venezuelano e sem antecedentes criminais. Ele estava acompanhado de outra pessoa que teria feito o disparo e fugiu.

Os policiais afirmaram ainda que encontraram uma granada no caminhão e uma arma que provavelmente foi usada no ataque. Não se sabe o motivo do ataque contra o prefeito, embora a polícia tenha dito que ele relatou ter recebido ameaças de mortes, sem fornecer mais detalhes.

Com Reuters e AFP

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