Descrição de chapéu partido democrata

Polícia de Nova York terá primeiro latino no comando em quase 200 anos

Edward Caban assume posto após primeira mulher chefe da corporação deixar cargo em menos de dois anos

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Washington

O Departamento de Polícia de Nova York, a maior polícia dos EUA, terá pela primeira vez em 178 anos de história um chefe de ascendência latina. Edward Caban, 55, de origem porto-riquenha, foi empossado nesta segunda-feira (17) pelo prefeito Eric Adams. Agora, vai comandar os 36 mil policiais da cidade —a NYPD, como a corporação é conhecida na sigla em inglês, tem ainda outros 19 mil empregados civis.

Caban nasceu no Bronx, distrito de maioria latina —29% dos moradores de Nova York se identificam como latinos. O cargo é estratégico para o prefeito, que foi policial por 22 anos e ainda é próximo da corporação. Adams, do Partido Democrata, é crítico da ala à esquerda da sigla, que pede corte de verbas para a polícia.

O prefeito de Nova York, Eric Adams, à esq., com o novo comissário da polícia da cidade, Edward Caban
O prefeito de Nova York, Eric Adams, à esq., com o novo comissário da polícia da cidade, Edward Caban - Amr Alfiky/Reuters

Essa proximidade levou a conflitos com Keechant Sewell, primeira mulher a se tornar comissária, agora substituída por Caban. Ela assumiu em 1º de janeiro do ano passado e ficou menos de dois anos no posto. Sewell reclamava de falta de autonomia e, segundo a imprensa, foi pressionada por Adams a retirar uma punição disciplinar aplicada a um agente de alto escalão por abuso de autoridade —o que ela não fez.

Sua gestão viu queda no número de homicídios. Em 2022, primeiro ano dela à frente da polícia, houve 438 assassinatos na cidade, frente 488 em 2021. Em 2023, foram 212 até aqui, 8% a menos que no mesmo período do ano anterior. Já outros crimes de maior gravidade cresceram no primeiro ano de Sewell no cargo, como estupro (8% a mais em 2022 que em 2021), assalto (alta de 26%) e agressão (15%).

Após esse aumento inicial, os índices caíram neste ano em relação aos primeiros seis meses de 2022, com exceção da cifra de agressões. A gestão também foi marcada pela recriação de unidades de patrulhamento ostensivo, rebatizadas de "times de segurança nos bairros". Elas haviam sido suspensas em 2020, acusadas de terem minorias como alvo, com denúncias de assédio e abuso de autoridade.

No mês passado, Mylan L. Denerstein, supervisora da polícia, cargo criado em 2013 por determinação judicial após processos contra o corporação, afirmou em relatório que essas unidades seguem atuando contra a lei, mirando sobretudo minorias raciais. Ao todo, 97% das abordagens foram feitas contra negros ou latinos, e 24% das quais feriam a Constituição, também de acordo com o levantamento.

De 230 carros parados, só dois deles carregavam armas. A situação era pior no Bronx, distrito onde Caban também começou a carreira: em uma das unidades analisadas, apenas 41% das abordagens, 32% das revistas pessoais e 26% das operações de busca seguiram a lei, ainda segundo a supervisora.

É nesse contexto que assume Caban, que entrou na corporação em 1991. Filho de policial, ele foi promovido a sargento em 1994 e a tenente cinco anos depois. Em 2005, assumiu um cargo executivo ao se tornar capitão e, nos anos seguintes, comandou departamentos e supervisionou programas de segurança do governo. No ano passado, já na gestão de Adams, foi promovido a vice-comissário.

Reportagem do tabloide New York Post no ano passado mostrou que Caban respondeu a processos disciplinares em cinco oportunidades. Em uma delas, foi acusado de colar na prova para virar sargento, há 29 anos. Em outra, de ter usado para fins pessoais, em 96 ocasiões, entre 2007 e 2010, o carro da polícia —ele perdeu 20 dias de férias e reembolsou os US$ 430 gastos em pedágio nas viagens pessoais.

Também foi acusado de manter relacionamentos com subordinadas —apuração posterior afirmou não ter encontrado irregularidades. "Alegações de décadas atrás, quase todas refutadas ou que não avançaram, não mancham sua reputação exemplar entre os muitos policiais e comunidades com quem serviu", disse o Departamento de Polícia de NY na ocasião. Segundo reportagem do New York Times, enquanto vice-comissário, Caban tinha ainda linha direta com o prefeito, sem precisar passar pela então chefe da polícia.

Adams não poupou elogios na posse do novo comissário. "É um momento maravilhoso não só para a comunidade falante de espanhol, mas para a cidade toda e para o país", disse. "Caban é um dos melhores de Nova York, um líder que compreende a importância tanto da segurança quanto da justiça", afirmou o prefeito, observando que os crimes graves diminuíram em toda a cidade neste verão no hemisfério Norte.

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