Descrição de chapéu 11 de setembro

Talibã proíbe atividades suecas no Afeganistão após queima do Alcorão

Livro sagrado do islã foi incendiado em protesto próximo a mesquita de Estocolmo, no mês passado

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São Paulo

O regime do Talibã anunciou nesta terça-feira (11) a proibição de qualquer atividade de organizações públicas ou privadas da Suécia no Afeganistão. A medida é uma retaliação à queima do Alcorão, o livro sagrado do islã, em um protesto próximo a uma mesquita de Estocolmo no mês passado.

"Após o insulto ao sagrado Alcorão e a permissão para ofender crenças muçulmanas, o Emirado Islâmico do Afeganistão ordena a interrupção de todas as atividades da Suécia", disse em nota Zabiullah Mujahid, porta-voz do Talibã.

Soldados do Talibã montam guarda em frente a mesquita na cidade de Mazar-i-Sharif, no Afeganistão
Soldados do Talibã montam guarda em frente a mesquita na cidade de Mazar-i-Sharif, no Afeganistão - Atif Aryan - 21.mai.23/AFP

O governo sueco fechou sua embaixada no Afeganistão em 2021, quando o Talibã retomou o poder. Entre as organizações que podem ser impactadas pela medida está o Comitê Sueco para o Afeganistão, que emprega 7.400 funcionários no país e desenvolve atividades nas áreas de saúde e educação.

"Por mais de 40 anos, o Comitê Sueco para o Afeganistão vem trabalhando em estreita colaboração com a população rural e em profundo respeito tanto pelo islã quanto pelas tradições locais no Afeganistão", afirmou o comitê em nota. "Somos independentes e imparciais em relação a todos os atores políticos e Estados e condenamos veementemente toda a profanação do sagrado Alcorão."

Em 2022, cerca de 2,5 milhões de afegãos foram atendidos nas clínicas de saúde do comitê. O Talibã não deu detalhes de quais entidades serão atingidas, nem se o Comitê Sueco para o Afeganistão será fechado.

O setor de ajuda humanitária no Afeganistão tem sido prejudicado sob o regime do Talibã, que implementou uma série de restrições. Em dezembro passado, um decreto do grupo extremista proibiu que mulheres trabalhem em ONGs no país —o grupo alega que elas estavam descumprindo regras de vestimenta islâmica. Antes disso, o regime já havia proibido mulheres de frequentarem universidades.

Ao mesmo tempo, os valores de financiamento para o plano humanitário anual administrado pelas Nações Unidas sugerem que os países doadores estão recuando no apoio financeiro.

A queima do Alcorão ocorreu no fim de junho, na Grande Mesquita de Estocolmo, no primeiro dos três dias do Eid al-Adha, celebração conhecida como a "festa do sacrifício". O refugiado iraquiano Salwan Momika, 37, arrancou folhas de uma cópia do livro sagrado, limpou a sola dos sapatos com elas e queimou o livro.

No dia seguinte, ele afirmou que não se arrependia do ato e que poderia repeti-lo. Ao jornal Expressen disse que tinha noção das consequências do gesto e que havia recebido "milhares de ameaças de morte".

Governos e líderes de países muçulmanos, incluindo Turquia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos, criticaram o ato. Os EUA e o papa Francisco também condenaram a queima do Alcorão.

Em protesto, apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr saíram às ruas em Bagdá, no Iraque. Os manifestantes fizeram um ato em frente à embaixada da Suécia e exigiram o fim dos elos entre os países.

O Talibã reassumiu o governo do Afeganistão em agosto de 2021. No mês passado, o grupo anunciou a segunda execução pública de uma pessoa condenada desde que retomou o poder. As penas evidenciam que os líderes do grupo buscam repetir os aspectos mais sombrios de sua forma de ver o mundo. Logo após a volta ao poder, eles prometeram moderação e direitos às mulheres, principal alvo de sua repressão.

Relatório divulgado pela ONU, porém, indica que o tratamento destinado às afegãs pelo Talibã pode equivaler a um "apartheid de gênero", já que seus direitos das mulheres continuam a ser desrespeitados.

Com Reuters

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