Descrição de chapéu China

'Desaparecimento' de chanceler alimenta rumores sobre diplomacia da China

Ministro Qin Gang não é visto há semanas e tem faltado a série de eventos importantes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em novo mistério envolvendo uma autoridade do alto escalão do Partido Comunista Chinês, o chanceler da Qin Gang não é visto em público há várias semanas, apesar do período intenso de atividade diplomática em Pequim. O "desaparecimento" alimenta especulações dentro e fora do país que vão de problemas de saúde até o envolvimento do ministro em um caso extraconjugal.

Qin Gang, 57, que mantinha uma agenda movimentada desde que assumiu o cargo, em dezembro passado, é considerado um homem de confiança do líder chinês, Xi Jinping. Ou pelo menos era.

O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, em Oslo, na Noruega
O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, em Oslo, na Noruega - Terje Pedersen - 12.mai.23/NTB via Reuters

Qin foi visto pela última vez no dia 25 de junho, quando se reuniu em Pequim com o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Andrei Rudenko. Desde então, o chanceler tem faltado aos compromissos.

O chanceler não compareceu a uma reunião na semana passada com líderes da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) na Indonésia, onde o chinês também tinha um encontro marcado com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Na ocasião, ele foi substituído por Wang Yi, diretor da Comissão Central de Relações Exteriores, um órgão do Partido Comunista Chinês, e ex-chanceler.

No último dia 10, Qin também deveria ter se reunido em Pequim com o chefe da diplomacia da União Europeia, o espanhol Josep Borrell, mas o regime chinês cancelou a visita sem dar explicações. Ainda no início do mês, Qin esteve ausente das reuniões com a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e, mais recentemente, ele não se encontrou com o enviado do governo americano para o clima, John Kerry.

Sem entrar em detalhes, Pequim se limita a dizer que o chanceler não pôde comparecer aos encontros por "motivos de saúde". Ao mesmo tempo, autoridades da chancelaria chinesa enfatizam que as atividades diplomáticas estão sendo realizadas normalmente.

Mas as justificativas são consideradas vagas e não evitam o surgimento de rumores nas redes sociais. Desaparecimentos repentinos de funcionários ligados ao regime muitas vezes são associados a problemas políticos, e o caso Qin não tem sido diferente.

Um dos boatos associa o "sumiço" do chanceler a uma suposta relação amorosa com a jornalista Fu Xiaotian, 40, que trabalha para a emissora Phoenix TV, de Hong Kong. Os rumores dizem que o casal teria tido um filho escondido, mas que o regime não aprovou o relacionamento por se tratar de um caso extraconjugal. A carreira do chanceler, então, teria sido congelada como punição.

O boato ganhou força nos últimos dias porque a apresentadora, assim como o chanceler, não aparece em público há várias semanas. Ao mesmo tempo, ataques contra a jornalista têm sido frequentes na rede social Weibo, o equivalente ao Twitter chinês, e o regime não tem feito esforços para impedir os insultos.

Outros boatos dizem que o chanceler foi acusado de traição e até mesmo pego em um caso de espionagem. O mistério envolvendo Qin ocorre num momento estratégico para a diplomacia chinesa, em que Pequim e Washington têm buscado intensificar diálogos.

Qin e Blinken tiveram uma conversa que se prolongou por quase seis horas, no mês passado, durante uma reunião em Pequim. Ao final, tanto a mídia estatal chinesa como o Departamento de Estado dos EUA descreveram os diálogos como "francos e construtivos". Também foi acertada uma "visita recíproca" de Qin a Washington, mas a data da viagem nunca chegou a ser confirmada.

A tese de perseguição política remete ao caso de Wang Lijun, ex-chefe de polícia da cidade de Chongqing que sumiu em 2012. Na época, o regime disse que ele estava recebendo um "tratamento de férias" para estresse e excesso de trabalho. Na verdade, ele havia fugido para o consulado dos EUA na cidade vizinha de Chengdu, numa tentativa de pedir asilo. Não deu certo. Wang acabou capturado pelo regime e condenado a 15 anos de prisão por abuso de poder, suborno e deserção.

Em outro caso de suposta perseguição política, Hu Jintao, 79, ex-líder da China e antecessor de Xi Jinping, foi retirado de forma inesperada da cerimônia de encerramento do Congresso do Partido Comunista ocorrida no ano passado. Ele estava sentado à esquerda de Xi quando foi levado para fora do principal auditório do Grande Salão do Povo por dois seguranças. Vídeo da agência AFP mostra um deles tentando levantar Hu de sua cadeira, atraindo olhares das autoridades em volta.

Após silêncio na mídia estatal e censura nas redes, a agência Xinhua disse que Hu teve um mal-estar. O mesmo tipo de censura parece estar sendo aplicada no caso Qin. Segundo o jornal britânico The Guardian, ao digitar no Weibo a pergunta "onde está Qin Gang?", a plataforma traz como resposta: "sem resultados".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.