Celso Amorim visita Cuba e fala em construir 'relação exemplar' com a ilha

Assessor especial de Lula diz que país da América Central está 'em seu coração, com muita força'

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São Paulo

Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reuniu-se com o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel, nesta sexta (18) e disse que o Brasil quer restaurar laços comerciais e políticos com a ilha. A viagem a Havana foi um pedido direto do líder brasileiro, segundo o ex-chanceler.

"Queremos fazer da relação entre Brasil e Cuba uma relação exemplar, uma relação de grande amizade, que também contribua para a paz em nossa região, porque a paz é o grande objetivo da diplomacia; crescimento econômico também, mas a paz é fundamental", afirmou Amorim.

Celso Amorim cumprimenta o líder cubano, Miguel Díaz-Canel, em Havana
Celso Amorim cumprimenta o líder cubano, Miguel Díaz-Canel, em Havana - 18.ago.23/Governo de Cuba via AFP

No início do mês, ele afirmou à Folha que a viagem serviria como uma espécie de prospecção para entender de que forma o governo brasileiro poderia ajudar o país. Na sexta, Cuba publicou um texto com declarações de Amorim à assessoria do regime, destacando que, segundo o diplomata, técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) irão ao país em menos de um mês.

Um grupo de empresários também deve embarcar para Havana nas próximas semanas, ainda que Amorim não tenha divulgado os nomes que integrarão a comitiva nem de quais setores os empresários fazem parte. Em junho, a Folha mostrou que o Brasil promoveria uma missão da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, na ilha, que enfrenta grave crise financeira.

Havana tem dívidas com Brasília, mas o governo brasileiro afirma ainda estar calculando o valor dessa conta –a maior parte do montante está relacionada ao financiamento das obras do Porto de Mariel.

Amorim, entretanto, disse no início do mês que a viagem não teria como objetivo fazer nenhuma negociação. Para ele, Cuba sempre foi excelente pagadora, mas a situação econômica do país foi agravada pelo recrudescimento das sanções impostas pelos Estados Unidos e pela pandemia de Covid.

O diplomata brasileiro também afirmou na sexta que especialistas do Ministério da Saúde visitarão o país "porque Cuba está muito desenvolvida nisso [saúde]". "Sabemos de todo esse progresso."

Cuba foi parte fundamental do programa Mais Médicos, criado pelos governos petistas. A iniciativa importava médicos cubanos, que trabalhavam principalmente em cidades afastadas dos grandes centros urbanos. Parte dos salários pagos aos profissionais no país era transferida para o regime cubano.

O programa foi esvaziado na Presidência de Jair Bolsonaro (PL), que criou uma outra iniciativa: o Médicos pelo Brasil tinha em 2022 cerca de 3.000 profissionais contratados, ao passo que o Mais Médicos ultrapassou 18 mil, atuando em 4.058 municípios.

Ainda na conversa com a assessoria cubana, Amorim disse que a ilha está em seu coração, "com muita força", e que acompanhou "um pouco da Revolução Cubana de longe". Afirmou também que se interessa pelo cinema cubano e que não se esquece do filme "Memórias do Subdesenvolvimento", de Tomás Gutiérrez Alea, que aborda o movimento liderado por Fidel Castro.

Díaz-Canel, por sua vez, postou na plataforma X, o ex-Twitter, que teve um encontro agradável com Amorim. "Ratificamos nossa disposição de avançar em setores prioritários e com oportunidades para o desenvolvimento das relações bilaterais em benefício de ambos os povos", escreveu.

A viagem de Amorim ocorre em meio a uma virada na relação entre os países. Desde 2016, a missão brasileira na ilha era chefiada por um encarregado de negócios, na esteira do distanciamento entre Havana e Brasília ocorrido após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O regime cubano tratou o episódio como um golpe de Estado parlamentar.

Cuba e Brasil encerraram oficialmente o período de estremecimento pouco depois de Lula assumir a Presidência, quando ambos os países nomearam embaixadores. Em fevereiro, o petista indicou para o posto Christian Vargas, à época diretor do Departamento de Integração Regional do Itamaraty.

Lula esteve com Díaz-Canel em junho, durante a Cúpula do Novo Pacto Financeiro, em Paris, liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. De acordo com interlocutores do governo brasileiro, na ocasião os dois líderes discutiram a conjuntura mundial e da América Latina.

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