Celso Amorim vai a Cuba para intensificar retomada das relações pós-Bolsonaro

Viagem ocorre na próxima semana, com expectativa de encontro do assessor com o líder da ilha, Díaz-Canel

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que seu assessor especial para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, vá a Cuba para aprofundar a retomada das relações diplomáticas entre o Brasil e o país caribenho.

O diplomata viaja no próximo dia 15 para Havana, onde deve ficar por cinco dias. Segundo auxiliares, sua agenda ainda não está fechada, mas Amorim deve se reunir com o líder cubano, Miguel Díaz-Canel, e com os ministros de Relações Exteriores e Finanças locais. Futuras visitas de Díaz-Canel ao Brasil e de Lula a Cuba também podem ser discutidas no encontro.

O ex-chanceler Celso Amorim em encontro com a imprensa em Brasília
O ex-chanceler Celso Amorim em encontro com a imprensa em Brasília - Adriano Machado - 12.mai.23/Reuters

À Folha, Amorim afirma que a viagem servirá como uma espécie de "prospecção" para entender de que forma o governo brasileiro pode ajudar o país. "O Brasil sempre teve [com Cuba] relações boas, intensas, não só no governo Lula, mas desde antes. Visitei [Cuba] pela primeira vez, no governo [de José] Sarney. Depois, nesse período mais triste das relações internacionais, abandonamos."

O ex-chanceler diz ainda que Havana, que tem dívidas com Brasília, sempre foi excelente pagadora, mas que a situação econômica do país foi agravada pelo recrudescimento das sanções dos Estados Unidos e pela pandemia de Covid-19.

O governo brasileiro afirma ainda estar calculando o valor dessa dívida —a maior parte do montante está relacionada ao financiamento das obras do Porto de Mariel. Amorim diz, entretanto, que a viagem não tem como objetivo fazer nenhuma negociação.

Reportagem da Folha de junho mostrou que o Brasil prevê promover uma missão da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, na ilha, que enfrenta grave crise financeira. Cubanos representam a segunda nacionalidade que mais pede refúgio no Brasil, atrás apenas dos venezuelanos. As cifras observadas no ano passado para cidadãos da ilha atingiram um recorde.

A viagem de Amorim ocorre em meio a uma virada na relação entre os países, após anos de distanciamento durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Desde 2016, a missão brasileira na ilha era chefiada por um encarregado de negócios, na esteira do distanciamento entre Havana e Brasília ocorrido após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O regime cubano tratou o episódio como um golpe de Estado parlamentar.

De lá para cá, apenas altas autoridades brasileiras visitaram o país insular: Ricardo Barros (PP-PR), então ministro da Saúde de Michel Temer (MDB), em 2018; e Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo, este ano.

Cuba e Brasil encerraram oficialmente o período de estremecimento pouco depois de Lula assumir a Presidência, quando ambos os países nomearam embaixadores.

Em fevereiro, o petista indicou para o posto Christian Vargas, à época diretor do Departamento de Integração Regional do Itamaraty. Antes, ele tinha servido na missão do Brasil junto à União Europeia (1999-2002); em Montevidéu (2002-2004); em Buenos Aires (2007-2009); em Paris (2009-2011); em Washington (2015-2018); e em Moscou (2018-2020).

Vargas trabalhou ainda na assessoria internacional da Presidência no período em que a área era chefiada por Marco Aurélio Garcia, um dos formuladores da política externa dos dois primeiros mandatos de Lula.

Em março, o governo concedeu o agrément —autorização formal para receber um representante estrangeiro em seu país— a Adolfo Curbelo Castellanos, designado pelos cubanos para a embaixada em Brasília.

Lula esteve com Díaz-Canel em junho, durante a Cúpula do Novo Pacto Financeiro, em Paris, liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O encontro foi outro gesto para descongelar a relação. Segundo interlocutores do governo brasileiro, na ocasião os dois líderes discutiram a conjuntura mundial e da América Latina.

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