Gustavo Petro chega cambaleante a seu primeiro ano de poder na Colômbia

Alvo até de seu filho, presidente tropeça em proposta de paz com guerrilhas e vê reformas patinarem no Legislativo

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São Paulo

Às vésperas de completar um ano na Presidência da Colômbia, Gustavo Petro viu irromper o maior escândalo do seu governo. Nesta quinta-feira (3), o procurador Mario Burgos afirmou que o filho mais velho do presidente, Nicolás, disse em um interrogatório ter recebido dinheiro ilegal para a campanha de 2022 de Petro —inclusive de um ex-narcotraficante.

Petro completará na próxima segunda-feira (7) um ano como o primeiro líder de esquerda da Colômbia. Ele chega a essa marca com uma imagem positiva para 48% da população, segundo pesquisa do Centro Nacional de Consultoria, com margem de erro de 3,4 pontos percentuais. O levantamento, feito com 920 pessoas no final de julho —portanto, antes dos últimos acontecimentos no país—, mostra uma sociedade dividida nesse ponto: 45,7% tem uma imagem negativa do presidente.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na sessão de abertura do segundo ano do Legislativo - Vannessa Jimenez - 20.jul.23/Reuters

Fora das ruas, os primeiros movimentos do Legislativo neste segundo semestre desenham novos desafios para os planos do presidente. No dia 20 de julho, o Senado começou seu segundo ano legislativo impondo uma derrota ao governo de Petro ao eleger Iván Name, apoiado pela oposição, para a Presidência da Casa. A senadora Angélica Lozano, nome endossado pelo governo, teve apenas quatro votos a menos.

Ainda não se sabe quais serão as estratégias do presidente para fortalecer a sua coalizão no Senado, mas elas serão essenciais para suas ambições de reformar setores importantes da sociedade colombiana, como o sistema público de saúde, a rede prisional e a aposentadoria. Algumas das reformas, porém, já ruíram, como a trabalhista, que em junho não passou no primeiro debate na Câmara por falta de quórum.

Na ocasião, Petro reconheceu a gravidade da derrota e culpou "o capital e os meios de comunicação". Segundo ele, o fracasso "demonstra que a disposição para a paz e o pacto social não existem no poder econômico".

O Senado, por sua vez, frustrou a tentativa de reformar o sistema político do país —projeto apresentado em setembro do ano passado que instituiria, entre outros pontos, listas fechadas com alternância entre homens e mulheres para o Legislativo, em uma tentativa de fortalecer partidos em vez de indivíduos.

A reforma da saúde, por outro lado, escapou desse destino ao ser aprovada por 10 votos a 8 em seu primeiro debate em uma comissão da Câmara. Em maio, a mesma comissão avançou e aprovou 117 dos 139 artigos do projeto que mexe na administração das EPS, ou Entidades Promotoras de Saúde —instituições privadas responsáveis por organizar o Sistema Geral de Saúde do país. Tal façanha, porém, custou a Petro a demissão de ministros contrários ao projeto e o afastamento de bancadas mais conservadoras no Congresso.

Já a "paz total", termo cunhado pelo presidente para aprofundar a pacificação das guerrilhas do país desarmando por meio de acordos a última delas, a ELN (Exército de Libertação Nacional), voltou a caminhar após um compromisso de cessar-fogo de seis meses firmado no início de junho —meses antes, em janeiro, a ELN havia desmentido um acordo propagandeado pelo governo.

O acordo representa uma vitória de Petro, que começou um terceiro ciclo de negociações com o grupo armado no dia 2 de maio após um ataque da guerrilha matar nove militares e colocar os diálogos em xeque. Uma quarta rodada de negociações foi agendada para 14 de agosto, na Venezuela.

Em outra derrapada na comunicação, Petro precisou se retratar após ter afirmado erroneamente que quatro crianças indígenas haviam sido resgatadas na Amazônia após a queda de um avião —o episódio cinematográfico teria um desfecho positivo 40 dias depois do acidente.

Ainda está incerto, porém, quais serão as consequências das declarações de seu filho sobre o financiamento da campanha de 2022. Assim como aconteceu em outros escândalos, opositores pediram à Comissão de Acusações da Câmara de Representantes uma investigação de Petro. Embora a entidade abrigue 12 petristas contra seis opositores, na última quarta-feira (2) ela passou a ser presidida pelo membro do Partido Conservador Colombiano Wadith Manzur.

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