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Argentinos se queixam de caos nas primárias e candidata leva 12 minutos para votar

Votação vai escolher candidato da oposição à Presidência e serve como temperatura para pleito em outubro

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Buenos Aires

Os argentinos enfrentaram longas filas neste domingo (13) para escolher os candidatos que participarão das eleições presidenciais em outubro. Na capital, Buenos Aires, as primárias foram marcadas por críticas à organização dos centros eleitorais, com uma demora acima da média porque a votação no pleito local era feita separadamente, por meio de um sistema eletrônico.

Além dos postulantes à Presidência, os argentinos definem neste domingo os candidatos das diferentes forças políticas para um terço do Senado, metade da Câmara de Deputados e para governos importantes, como o da província e da cidade de Buenos Aires. Os eleitores portenhos, portanto, votaram em listas de papel para cargos nacionais e, em seguida, em urnas eletrônicas para cargos locais.

Mulher branca de meia idade e cabelos castanhos deposita cédula em urna
Patricia Bullrich, pré-candidata à Presidência da Argentina pela coalizão Juntos por el Cambio, vota em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 13.ago.23/Reuters

Dúvidas sobre como utilizar a máquina e falhas nos equipamentos em alguns lugares fizeram as filas se estender, apesar de parte dos colégios eleitorais contarem com funcionários que explicavam como usá-la. Muitos esperaram mais de uma hora e meia.

A candidata mais linha-dura da coalizão de direita Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich —que disputa uma vaga interna com o moderado Horácio Larreta—, foi uma das que teve problemas ao votar e precisou ter a urna trocada. "Não pude votar por sete vezes", disse depois de demorar 12 excruciantes minutos para marcar sua escolha numa cena transmitida pelas emissoras de TV. "Os sistemas eleitorais têm que ter um nível de maturidade", reclamou.

"Eu até tenho vontade de votar, mas se tiver muita fila não vou, estão dizendo que as máquinas não funcionam", comentava o motorista de aplicativo Oscar Andres, 52, em frente a uma escola em Belgrano, bairro abastado de Buenos Aires. Ele pretendia votar em Bullrich: "O diálogo não é ruim, mas neste país não serve para muita coisa. Bullrich tem mão dura, não vai se deixar dobrar como [o ex-presidente Mauricio] Macri", opinava.

Ao mesmo tempo, foram muitos os que votaram tranquilamente, como a funcionária administrativa Graciela Vildoza, 77, que saía sorridente de um dos colégios eleitorais da região. "Fui mesária desde que se instalou a democracia nesse país, então para mim não há novidades", disse ela, que também optou por Bullrich "porque é preciso colocar ordem nesse país, tanto na economia quanto na segurança".

A violência e a inflação têm sido os dois grandes temas da corrida eleitoral até aqui. A desvalorização da moeda é citada por 55% da população como sua maior preocupação, e a insegurança, por 38% em uma pesquisa da Universidade de San Andrés —mesmo que a Argentina seja considerada um dos países mais seguros da América Latina.

Pela manhã, a juíza federal eleitoral responsável pela cidade de Buenos Aires, María Servini, enviou um comunicado à instituição eleitoral dizendo ser "preocupante o grau de improviso" observado nos centros de votação, "evidenciando uma falta de habilidade nunca antes vista na organização e execução de um processo eleitoral". O órgão respondeu, em nota, que as condições para a implementação da tecnologia não foram cumpridas pelas autoridades eleitorais da cidade.

O deputado ultraliberal Javier Milei, que também compete pela Presidência, foi outro que disse que o pleito portenho parecia ter sido organizado de "improviso", questionando, sem provas, a lisura da votação: "Quando querem fazer esse tipo de artimanha acontecem essas coisas", afirmou à imprensa depois de votar.

O candidato foi a opção do funcionário aduaneiro Hector Guantay, 39: "Votei em Milei porque gosto dos projetos dele, das ideias que tem para a juventude. Esses que estão aí há 40 anos não conseguiram resolver", afirmou ele, relatando que houve confusão no seu local de votação na cidade de Merlo, na região metropolitana, porque o mesário demorou a chegar.

Hector Guantay, 39, diz que votou no ultraliberal Javier Milei porque gosta de seus projetos para a juventude - Júlia Barbon/Folhapress

Outro local onde as filas foram longas foi o bairro La Boca, point turístico próximo ao Caminito e ao estádio La Bombonera. Ali perto, Julio Cesar Nuñez, 52, contava porque votou no ministro da Economia Sergio Massa, candidato do peronismo. "Está vendo aquela caminhonete ali? Eu trabalho com isso, sou pobre. Não tem como eu votar no outro lado, que vai tirar os meus direitos".

Por volta das 20h30, mais de duas horas após o fim do horário de votação —as seções ficaram abertas das 8h às 18h—, autoridades argentinas anunciaram que 69% da população votou nas primárias. Trata-se do nível de participação eleitoral mais baixo desde que as Paso, como são conhecidas estas eleições na Argentina, foram implementadas, em 2011. A cifra ainda é quase oito pontos percentuais menor do que aquela registrada no último pleito presidencial, em 2019, quando 76,4% do eleitorado foi às urnas.

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