União Africana suspende Níger após golpe de Estado e hesita em usar força

Organização pede avaliação dos impactos de intervenção militar mencionada por bloco regional para remover junta golpista

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São Paulo

A União Africana suspendeu o Níger de todas as suas atividades em retaliação ao golpe de Estado que levou uma junta ao poder do país há quase um mês. A organização também orientou seus membros a evitar qualquer ação que possa legitimar os militares no comando e manifestou reservas sobre uma possível intervenção militar para restituir a democracia na nação.

Por meio de nota divulgada nesta terça-feira (22), o Conselho de Paz e Segurança do grupo, que se reuniu em 14 de agosto, afirmou que a suspensão vai durar até o "efetivo restabelecimento da ordem constitucional no país". Também reiterou os apelos aos militares nigerinos para que libertem o presidente eleito, Mohamed Bazoum, em prisão domiciliar desde o dia do golpe, 26 de julho.

Policiais na traseira de uma caminhonete durante patrulha em Niamey - 21.ago.23/AFP

A União Africana ainda enfatizou sua preferência pela via diplomática e pediu uma "avaliação das implicações econômicas, sociais e de segurança" do uso da força proposto pela Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental).

Por fim, a organização disse que rejeita veementemente qualquer interferência por parte de atores de fora do continente, incluindo empresas militares privadas —uma provável referência ao grupo mercenário russo Wagner, que atua no vizinho Mali. Nesta segunda, o chefe do grupo militar, Ievguêni Prigojin, postou um vídeo no qual parecia estar na África em que promovia as atividades do Wagner na região.

Desde o golpe, a Cedeao tenta negociar com a junta enquanto deixa em aberto a possibilidade de usar a força para restaurar a democracia. Na última sexta-feira (18), por exemplo, o bloco regional disse que estava pronto para iniciar uma intervenção armada. Nesta terça-feira, porém, o mediador da Cedeao Abdulsalami Abubakar, ex-líder militar nigeriano, disse que a visita ao Níger no fim de semana foi "muito frutífera" e que ainda tem esperança de uma solução pacífica. "Ninguém quer ir para a guerra", disse ele a repórteres em Abuja, capital de seu país.

A opção pela via diplomática é apoiada pelo Parlamento da Cedeao, uma das instituições do bloco. "Nossa posição se deve às graves implicações de uma intervenção militar no Níger. [Não há] alternativa a uma solução diplomática", disse Ali Ndume, membro nigeriano do Parlamento.

Ao mesmo tempo, o bloco anunciou na semana passada que firmou um "Dia D" em data não revelada para iniciar uma possível intervenção militar se os esforços diplomáticos falharem.

No sábado (19), o novo líder do Níger, o general Abdourahamane Tiani, havia condenado a possibilidade de uma intervenção sobre o seu país e anunciou um período de transição de no máximo três anos antes de organizar eleições e devolver o poder aos civis. O plano foi rejeitado pela Cedeao.

O golpe em Niamey é o sétimo na África Ocidental e Central desde 2020. Dos 15 países-membros da Cedeao, quatro estão suspensos devido a rupturas institucionais —Guiné, Burkina Fasso, Mali e, mais recentemente, Níger. O cenário fez o bloco subir o tom e afirmar que não toleraria novas derrubadas de governos na região.

A tomada de poder no final de julho causou preocupação entre aliados ocidentais e Estados africanos democráticos, que temem pelo aumento da presença de grupos islâmicos na região do Sahel, onde o país está localizado. O empenho internacional na normalização democrática em Niamey reflete, aliás, sua importância geopolítica: além de ter reservas de urânio e petróleo significativas, sua instabilidade pode contribuir para aumentar a influência da Rússia no continente.

Nesta segunda-feira (21), a Argélia disse por meio de sua rádio estatal que recusou um pedido francês para sobrevoar seu espaço aéreo para realizar uma operação militar no Níger. Paris, que tem 1.500 soldados em solo nigerino, nega ter feito tal solicitação. Ela não anunciou planos de intervir militarmente para derrubar a junta militar.

Com Reuters e AFP

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