Descrição de chapéu América Latina violência

Ameaças de morte contra jornalistas no Equador dobram em 2023

ONG registrou 15 intimidações contra profissionais até agosto deste ano, contra ao menos 7 ocorridas ao longo de 2022 inteiro

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Quito | AFP

Uma das maiores crise de violência da história do Equador tem levado o crime organizado a bater também à porta de seus meios de comunicação. Este ano, pelo menos 15 jornalistas receberam ameaças de morte, informaram nesta quinta-feira (7) organizações de defesa da liberdade de imprensa.

"Trata-se de um aumento de 100% em relação às ameaças de morte registradas em 2021 e 2022, quando houve entre sete e oito intimidações deste tipo", disse Susana Morán, presidente da Fundación Periodistas Sin Cadenas (jornalistas sem correntes, em português). Só entre janeiro e agosto deste ano, a ONG registrou 216 ataques contra jornalistas, 15 dos quais eram ameaças de morte.

Policiais inspecionam restos de carro que explodiu em Quito em meio ao aumento da violência no Equador - Rodrigo Buendia - 31.ago.23/AFP

O mapa de ameaças contra a imprensa se intensificou com um novo e temido ator: os cartéis ligados ao tráfico de drogas. César Ricaurte, da ONG Fundamedios, afirmou que isso fez com que o padrão de violência, antes muito ligado a atores estatais, passasse a ter origem no crime, fosse ele organizado ou comum.

Morán, a presidente da Fundación Periodistas Sin Cadenas, também creditou o aumento dos ataques a jornalistas à chegada do tráfico de drogas no país. Ela diz que os episódios estão se tornando cada vez mais violentos.

Segundo dados fornecidos pelas duas organizações, três jornalistas foram assassinados em 2022, ano que registrou 356 ataques contra a imprensa no país —67 a mais do que em 2021. Também no ano passado, a sede do canal RTS foi alvejada por tiros e, em 2020, um artefato explodiu nas instalações da emissora Teleamazonas.

Mais recentemente, em março deste ano, cinco envelopes com pen drives carregados de explosivos foram enviados a jornalistas de diversos meios de comunicação. Um dos profissionais sofreu ferimentos leves após a detonação. Também em 2023, cinco jornalistas tiveram de deixar o país devido a ameaças contra as suas vidas.

O medo ainda é forte entre os comunicadores, que —num acontecimento sem precedentes— tiveram que cobrir as últimas eleições gerais protegidos por coletes e capacetes à prova de balas após o assassinato de um candidato presidencial conhecido pelas suas investigações jornalísticas.

Fernando Villavicencio, ex-jornalista e um dos candidatos favoritos às eleições presidenciais de 20 de agosto, foi morto a tiros dez dias antes das eleições. Durante anos, ele descobriu escândalos de corrupção de alto nível e resistiu a ataques judiciais e ameaças de políticos e criminosos desconfortáveis com o seu trabalho. Sua investigação magistral resultou na pena de oito anos de prisão para o ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017) por corrupção.

Antes de sua morte, Villavicencio havia afirmado que tinha sido foi ameaçado pelo Los Choneros, uma gangue ligada a dissidentes da guerrilha colombiana das Farc e do cartel mexicano de Sinaloa.

Os ataques contra jornalistas não estão isolados em relação à realidade do resto do país. Entre 2018 e 2022, a taxa de homicídios no Equador quadruplicou, passando de 6 para 26 por 100 mil habitantes. Estimativas de analistas indicam que o país fechará 2023 com uma taxa de pelo menos 40 homicídios por 100 mil habitantes. O México registrou 25, a Colômbia 24 e o Brasil 23, segundo dados oficiais.

As organizações que defendem a liberdade de imprensa ainda identificaram em suas pesquisas zonas em que o poder criminoso leva os jornalistas à autocensura. Por isso, exigiram que o governo do presidente Guillermo Lasso destinasse recursos para proteger os comunicadores.

"O silenciamento ocorre especialmente nas províncias costeiras que são altamente afetadas pelo crime organizado, porque são corredores para estes bens ilícitos. A fronteira norte tem uma situação urgente e dramática", disse Morán.

Nesta quinta-feira, a organização que ela preside apresentou, em conjunto com a Fundamedios e uma terceira entidade, Nos Faltan Tres, uma iniciativa de proteção para jornalistas no Equador que busca verificar ameaças, analisar riscos e proteger profissionais cujas vidas estão em perigo iminente.

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