Descrição de chapéu Coreia do Norte China

Coreia do Sul faz maior parada militar em 10 anos em reação à ameaça do Norte

Aliada de Pyongyang, China se compromete a discutir situação de segurança na península com sul-coreanos

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Seul | Reuters

A Coreia do Sul realizou nesta terça-feira (26) seu primeiro desfile militar de grande escala em uma década. A demonstração, justificada por comemorações do Dia das Forças Armadas, ocorre em um momento de tensão crescente na península coreana —há apenas um mês, o vizinho do país ao Norte simulou um ataque nuclear contra Seul.

A magnitude do evento contrastou com a discrição com que os sul-coreanos celebravam a data desde 2013, remetendo mais às pomposas paradas militares organizadas todos os anos pelo regime de Kim Jong-un.

Tanques são exibidos em parada militar na capital sul-coreana, Seul
Tanques são exibidos em parada militar na capital sul-coreana, Seul - Anthony Wallace/AFP

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, justificou a mobilização com menções diretas ao rival do Norte. Em discurso numa base aérea de Seul, o líder prometeu aumentar o apoio ao setor de defesa e alertou Pyongyang contra o uso de armas nucleares. "Se a Coreia do Norte usar as armas, terá uma resposta esmagadora", disse Yoon, enfatizando a aliança militar de seu país com os Estados Unidos.

O destaque da data foi, no entanto, o desfile que começou no principal distrito comercial e empresarial de Seul e terminou na movimentada praça de Gwanghwamun. Ao longo do trajeto de dois quilômetros, multidões ignoraram a chuva e foram às ruas ver de perto a rara exibição de equipamento militar.

Tanques, drones, mísseis e artilharia de autopropulsão produzidas pela indústria sul-coreana ocuparam as ruas, além de milhares de soldados do país e cerca de 300 do total de 28,5 mil militares americanos baseados na nação do Leste Asiático.

"Armas como os drones não tripulados mostram o quanto o nosso país se desenvolveu", disse Cho Kyu-bok, 75, que mora em Goyang, a cerca de 30 km de Seul, e foi à capital só para acompanhar o desfile.

Enquanto parte do público aplaudia as tropas, grupos de ativistas protestavam contra o que diziam ser uma escalada desnecessária das tensões. Próximo do local do desfile, um homem crítico ao governo segurava uma faixa com a mensagem "parem a corrida armamentista".

A mobilização ganhou força com a postura dura que o presidente Yoon vem adotando em relação à ditadura ao norte. Na semana passada, por exemplo, ele afirmou que o encontro de Kim com Vladimir Putin em Vladivostok, no extremo leste da Rússia, era uma provocação direta. Embora nenhum dos líderes tenha citado explicitamente o objetivo da reunião, analistas dizem que ela pode ter sido motivada pelo interesse do Kremlin no arsenal de munição pesada norte-coreana para emprego na Guerra da Ucrânia —Moscou, por sua vez, poderia retribuir com tecnologias aeroespacial e nuclear.

Em resposta às críticas feitas ao encontro, Kim chamou Yoon de "fantoche traidor" e "idiota diplomático". Nesta terça, o representante norte-coreano na ONU, Kim Song, afirmou que o incentivo americano à militarização do Sul faz com que a península que abriga os dois países esteja "à beira de uma guerra nuclear", e afirmou que Seul está "obcecada pela submissão voluntária aos EUA e pelo confronto fratricida".

Coreia do Sul e EUA firmaram um pacto de compartilhamento de estratégias nucleares para o caso de uma guerra com Pyongyang, levando o norte comunista e o sul capitalista a atingirem seu menor nível de interações da história recente.

Uma das poucas aliadas da Coreia do Norte além da Rússia, a China anunciou nesta terça que Japão e Coreia do Sul concordaram em realizar uma cúpula de líderes para discutir a situação de segurança na região. Wang Wenbin, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, disse que as três nações admitiram a necessidade de novas tentativas de trazer paz e estabilidade à península coreana. A data do encontro, porém, não foi divulgada.

O desfile de terça-feira começou na base aérea nos arredores de Seul, onde mísseis Hyunmoo, interceptadores de mísseis L-SAM e drones de reconhecimento estavam entre os equipamentos militares em exibição. Um voo de caças F-35 teve de ser cancelado devido ao mau tempo, segundo autoridades.

O Hyunmoo é um dos mais recentes mísseis da Coreia do Sul. Segundo analistas, ele faz parte dos planos de Seul para atacar o Norte em um eventual conflito. Já o L-SAM foi concebido para atingir mísseis em altitudes de 50 km a 60 km.

Ainda nesta terça, a Justiça da Coreia do Sul decidiu que a proibição do envio de folhetos de propaganda à Coreia do Norte era inconstitucional, anulando uma lei aprovada em 2020 pelo partido do ex-presidente Moon Jae-in que tentava arrefecer as tensões com Pyongyang.

A lei, que determinava prisão de até três anos aos infratores ou o pagamento de multa de até 30 milhões de won (R$ 110 mi), foi alvo de críticas de ativistas de direitos humanos e legisladores conservadores, que acusavam o texto de violar a liberdade de expressão.

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