Putin quer exercício militar com Coreia do Norte e China contra os EUA

Segundo The New York Times, ditador norte-coreano deve encontrar líder russo neste mês

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São Paulo

Em meio a uma aproximação que pode envolver um encontro entre o ditador Kim Jong-un e o presidente Vladimir Putin, a Rússia afirmou nesta segunda (4) estar estudando exercícios militares inéditos com a Coreia do Norte, aliada do Kremlin e da China, que poderá participar das manobras que farão frente à crescente assertividade bélica dos Estados Unidos na região.

A afirmação foi feita pelo ministro Serguei Choigu (Defesa) à agência estatal Tass. Ressaltando que falava em caráter pessoal, o embaixador russo em Pyongyang, Alexander Matsegora, afirmou que "a necessidade de alguma resposta conjunta parece apropriada", à luz dos "constantes exercícios conduzidos pelos EUA e seus aliados" Coreia do Sul e Japão.

Imagem da agência norte-coreana KCNA mostra míssil lançado em simulação de ataque nuclear contra o Sul no domingo (3)
Imagem da agência norte-coreana KCNA mostra míssil lançado em simulação de ataque nuclear contra o Sul no domingo (3) - KCNA - 3.set.2023/Reuters

Nos últimos meses, a cooperação militar entre Moscou e Pyongyang aprofundou-se, gerando críticas dos EUA. Também nesta segunda, o jornal americano The New York Times afirmou que Kim deve encontrar-se com Putin para discutir o assunto em Vladivostok ou Moscou, ainda neste mês. Não houve manifestação do Kremlin.

Para a Casa Branca, a visita que Choigu fez ao país de Kim Jong-un para celebrar os 70 anos do armistício da guerra que dividiu a península coreana prova que os norte-coreanos estão prontos para ajudar Putin em seu esforço de guerra na Ucrânia. Pyongyang tem amplos estoques e capacidade produtiva de munição para artilharia, vital para a as operações russas, com a vantagem da comunalidade dos padrões bélicos empregados pelos dois países.

É uma via de duas mãos, com os russos podendo auxiliar os norte-coreanos em seu ambicioso programa de mísseis balísticos para uso convencional e nuclear. Analistas apontam indícios de que Moscou forneceu motores para um modelo capaz de atingir os EUA testado em 2017, embora nenhum dos lados confirme isso.

A aproximação entre os países ocorre em meio ao momento de maior tensão na península nos últimos anos. Após Kim acelerar seus testes com mísseis balísticos, assustando particularmente o Japão, o governo de Joe Biden respondeu de forma diferente da usual: em vez de abrir negociações, escalou o enfrentamento militar.

Assim, os EUA criaram com Seul um grupo de trabalho para o caso de guerra nuclear e enviaram pela primeira vez desde 1981 um submarino equipado com ogivas atômicas para o Sul. Biden, que já havia promovido o renascido militarismo de Tóquio, realizou uma cúpula inédita com os líderes japonês e sul-coreano no mês passado.

De lá para cá, aumentaram o número de manobras militares com os parceiros, como junto à costa da ilha sul-coreana de Jeju semana passada, ao mesmo tempo em que fazia um grande exercício com Seul, inclusive simulando ataques com bombardeiros estratégicos B-1B.

Isso levou Pyongyang a protestar e a realizar duas simulações de ataque nuclear tático contra os sul-coreanos, com lançamento de mísseis reais desarmados. Agora é a vez de a crise se ampliar no escopo da Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington, com os lados bem definidos.

A influência do conflito na Ucrânia já havia se refletido na região do Indo-Pacífico, com o grupo Quad (EUA, Japão, Índia e Austrália) admoestando Xi Jinping a não se animar a fazer o mesmo contra Taiwan, apesar das diferenças históricas entre a ilha autônoma e o país independente europeu.

Xi segue como o maior apoiador de Putin, e tem estreitado laços militares com patrulhas conjuntas e exercícios. No ano passado, como é usual, a China participou da maior manobra anual russa, que sempre ocorre em setembro em uma das principais regiões militares russas —no caso, o jogo de guerra Vostok (Oriente).

Neste ano, seria a vez, pela rotação, do exercício Zapad (Ocidente), que ocorreu pela última vez em 2021 e envolve forças russas e da Belarus. Com 200 mil militares, aquela manobra foi vista como um ensaio para a invasão subsequente da Ucrânia.

Mas Choigu afirmou à Tass que a guerra impede sua realização, de forma jocosa. "Não, este ano nós estamos fazendo exercícios na Ucrânia", afirmou.

Além de necessitar de homens e equipamento, uma manobra no momento em que a Belarus, aliada de Moscou e seu títere militar, se estranha com os vizinhos da Otan [aliança militar ocidental] na Polônia e nos Estados bálticos poderia gerar atritos potenciais perigosos.

Ainda assim, eles seguem, com manobras frequentes da Rússia na região de Kaliningrado, exclave ensanduichado entre Polônia e Lituânia. No próximo sábado (9), a Otan fará, por sua vez, o primeiro exercício visando deter um ataque russo com forças navais no mar Báltico.

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