Descrição de chapéu guerra israel-hamas Itamaraty

Brasil pede que Israel não bombardeie abrigo de seus cidadãos em Gaza

Escola católica que já foi atacada vira refúgio para 13 dos 22 brasileiros que aguardam repatriação

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São Paulo

O Itamaraty reuniu 13 dos 22 brasileiros que moram em Gaza e pediram para serem retirados da região em uma escola católica nesta quarta-feira (11) —o total anterior era de 28, mas uma família desistiu. O governo pediu a Israel que poupe o edifício de ataques durante sua campanha aérea contra o grupo palestino Hamas, que comanda a região desde 2007.

Os outros 15 cidadãos preferiram aguardar uma decisão sobre a remoção em suas casas. Israel sabe onde fica o refúgio: a Rosary Sister School já foi alvo de um ataque do Estado judeu, em maio de 2021, quando seu edifício sofreu danos.

Ruínas do campo de refugiados de Jabalia, em Gaza, após ataque aéreo israelense
Ruínas do campo de refugiados de Jabalia, em Gaza, após ataque aéreo israelense - Yahya Hassouna/AFP

Naquela oportunidade, as Forças de Defesa de Israel afirmaram que a escola estava vazia e sendo usada por terroristas do Hamas como refúgio. Ela fica no extremo sudoeste da cidade de Gaza, capital da Faixa homônima.

Ainda nesta quarta, dois dos 30 brasileiros que haviam se registrado junto ao Escritório de Representação do Brasil em Ramallah (Cisjordânia) para deixar o território sob ataque desistiram de ir embora. Sobraram 15 crianças, seis mulheres adultas, seis homens adultos e uma mulher idosa. Nesta quinta (12), mais uma família desistiu, e agora são 23 no total.

A situação é bem mais delicada do que a dos quase 3.000 brasileiros, 60% deles turistas, que pediram repatriação em voos da Força Aérea Brasileira que já estão com saídas diárias. Afinal, eles estão em Israel e, apesar da situação de risco inerente aos combates e ataques de foguetes do Hamas, o acesso ao aeroporto de Ben Gurion, em Tel Aviv, está aberto.

Já Gaza vive um bloqueio desde 2007, com o Egito controlando a fronteira sul. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, está negociando com o Cairo uma forma de liberar a saída, no posto de controle único de Rafah, para um ou dois ônibus com brasileiros.

Não é negociação simples, nem exclusiva: os Estados Unidos e outros países com mais moradores na região também estão na mesma tratativa. Especula-se um salvo-conduto para até 2.000 pessoas por dia, mas nada está certo.

O problema maior, contudo, está em Israel. O país está cercando Gaza e promovendo o maior ataque aéreo de sua história, como parte da retaliação pela mega-ação terrorista do Hamas no sábado passado (7), que já deixou mais de 1.200 israelenses mortos, 189 deles soldados.

Do lado palestino, são ao menos 1.100 mortos até aqui, mas o isolamento do cerco, com corte de luz e água para a região, impede resgates sob os edifícios reduzidos a escombros. A situação relatada pelos brasileiros de extrema apreensão.

Assim, para um comboio, por mínimo que seja, deixar a cidade de Gaza rumo a Rafah, seria preciso uma coordenação que parece bastante improvável com as forças de Israel. A agência da ONU na região tenta negociar um corredor para fazer essa retirada também, mas até agora não houve acordo.

Além disso, há a hipótese de que existam brasileiros sequestrados pelo Hamas durante a ação e mantidos como reféns em Gaza.

Horas após afirmar em vídeo que há cidadãos brasileiros entre os sequestrados, Jonathan Conricus, o porta-voz internacional do Exército de Israel, disse à Folha que pode haver brasileiros, mas que isso não está completamente confirmado.

Conricus declarou que informações sobre a possível presença de brasileiros são fruto de relatos de fontes anônimas e do trabalho em campo dos militares. Eles tampouco sabem quantos brasileiros seriam. "A situação toda é muito fluida neste momento, realmente torcemos para que não haja brasileiros entre os sequestrados", afirmou.

Mais cedo, ele havia dito em uma transmissão ao vivo no X (antigo Twitter) que, além de israelenses, estariam entre os reféns do Hamas cidadãos americanos, britânicos, franceses, alemães, italianos, brasileiros, argentinos, ucranianos, entre outros.

"Entre as dezenas de capturados pelo Hamas, muitos têm dupla nacionalidade", afirmou o tenente-coronel. "Portanto, esse não é um desafio só de Israel, isso preocupa a muitos países ao redor do mundo."

Até a noite desta quarta, o Itamaraty afirmava não ter recebido informações concretas da Defesa de Israel sobre o assunto, mas que a embaixada do Brasil em Tel Aviv busca confirmar a informação.

Desde o início do conflito, a morte de dois brasileiros já foi confirmada: Bruna Valeanu, 24, e Ranani Glazer, 23, estavam em uma festa de música eletrônica a menos de 6 km da Faixa de Gaza atacada pelos terroristas. Há também outro brasileiro desaparecido. Não está claro se a informação inicial de que pode haver brasileiros entre os reféns conta a pessoa desaparecida como possível capturada pelo Hamas.

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