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Lago no Himalaia indiano mata ao menos 42 e deixa milhares de desabrigados na Índia

Inundações destruíram casas e veículos, que foram soterrados por lama; cerca de 150 pessoas estão desaparecidas

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Guwahati (Índia)

Ao menos 42 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas no Himalaia indiano após inundações provocadas pelo transbordamento de um lago glacial, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (6) pelas autoridades do país. De acordo com o governo, o número de vítimas pode aumentar, já que cerca de 150 moradores da região estão desaparecidos.

O lago Lhonak, localizado na base de uma geleira perto de Kangchenjunga —a terceira montanha mais alta do mundo—, perto das fronteiras com o Nepal e a China, transbordou na quarta-feira (4), provocando inundações que atingiram vales e destruíram casas e veículos.

Caminhões ficam cobertos por lama após inundações no estado de Sikkim, na Índia
Caminhões ficam cobertos por lama após inundações no estado de Sikkim, na Índia - Divulgação Exército da Índia/via Reuters

As autoridades indianas só divulgaram detalhes do incidente nesta quinta-feira (5), um dia depois do ocorrido. Desde então, o número de vítimas tem crescido a cada atualização. Dezenas de militares e socorristas participam das operações de busca e resgate nas regiões mais impactadas.

Quase 8.000 pessoas, muitas das quais perderam suas casas, foram levadas para acampamentos improvisados em escolas, repartições públicas e albergues. Entre os mortos estão seis soldados do Exército indiano que atuavam no estado de Sikkim, onde fica o Lhonak. Autoridades do estado de Bengala Ocidental, ao sul do lago, informaram ter encontrado outros 22 corpos, arrastados até lá pela água.

As Forças Armadas indianas disseram que socorristas de suas equipes haviam resgatado cerca de 1.500 turistas que estavam presos até esta sexta. As condições meteorológicas melhoraram nas últimas horas, e autoridades anunciaram que poderia haver uma janela de oportunidade para retirar de helicóptero outras pessoas isoladas.

As aeronaves militares também estavam sendo usadas para transportar alimentos e medicamentos às comunidades mais atingidas. "Estamos fazendo todo o possível para levar socorro à população e também para restaurar infraestruturas", disse V.B. Pathak, funcionário do governo de Sikkim.

Uma torrente de água correu vale abaixo após o transbordamento do lago, somando-se à correnteza de um rio que já havia transbordado devido a fortes chuvas. As inundações danificaram uma represa e também destruíram edifícios, pontes e linhas telefônicas, o que tem dificultado a retirada da população e a comunicação com milhares de pessoas isoladas.

As estradas ficaram gravemente danificadas, e 14 pontes foram destruídas, o que também dificulta o acesso às regiões atingidas. Diante da crise, o primeiro-ministro Narendra Modi prometeu dar "todo o apoio possível" aos impactados e anunciou o desbloqueio de financiamento público para reconstruções necessárias.

Analistas dizem que, após transbordar, o lago perdeu quase dois terços de seu tamanho original, equivalente à área de 150 campos de futebol. Os números foram calculados com base em imagens de satélite divulgadas pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial. Os danos se estendem por mais de 120 quilômetros.

De 2011 e 2020, as geleiras do Himalaia derreteram 65% mais rápido do que na década anterior, segundo relatório publicado em junho pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (ICIMOD, na sigla em inglês).

"A principal causa é a mudança climática, e a situação vai piorar", disse à agência de notícias AFP Arun Bhata Shrestha, especialista no tema do ICIMOD. "Mesmo o cenário mais modesto mostra que [...] as cheias de lagos glaciais serão muito mais frequentes."

A temperatura média na superfície da Terra aumentou quase 1,2°C em comparação com a era pré-industrial, e as regiões montanhosas são as mais impactadas pelo aquecimento, segundo climatologistas.

Milhões de pessoas têm sofrido os impactos de fenômenos meteorológicos extremos e ondas de calor prolongadas em todo o mundo nas últimas semanas. O IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática) já afirmou que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças é causada pela ação humana.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

A Ásia foi o continente mais afetado, contabilizando mais de 3.400 desastres nesse período, responsáveis por quase 1 milhão de mortes.

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