Descrição de chapéu BBC News Brasil guerra israel-hamas

O que se sabe sobre explosão em hospital de Gaza que deixou centenas de mortos

Mais de 400 pessoas morreram no episódio, de acordo com autoridades da região

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BBC News Brasil

Centenas de pessoas morreram em Gaza nesta terça-feira (17), em um dos episódios mais mortíferos até agora do conflito entre Israel e o Hamas iniciado em 7 de outubro, após o ataque de membros do grupo terrorista ao território israelense.

Uma explosão em um hospital de Gaza, onde estavam centenas de pacientes, médicos e socorristas, e cerca de mil refugiados, deixou centenas de mortos. Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no incidente.

Os feridos do hospital Al-Ahli foram levados para outra clínica próxima - Getty Images

Vídeos divulgados pela mídia local e internacional mostraram o caos fora do hospital Al-Ahli Arab, na Cidade de Gaza, com vítimas ensanguentadas e mutiladas sendo carregadas em macas no escuro. Com o passar do tempo, a magnitude do incidente começou a se revelar:

  • O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza afirmou que as mortes chegavam às centenas;
  • O Hamas disse que havia centenas de vítimas sob os escombros;
  • O Hamas e outros grupos pró-Palestina culparam as forças israelenses pela explosão;
  • O governo israelense atribuiu a explosão a um lançamento fracassado de foguete do grupo Jihad Islâmica, aliado do Hamas;
  • A ONG Médicos Sem Fronteiras, que tem profissionais no hospital, descreveu a explosão como "um massacre";
  • A Jordânia anunciou o cancelamento de uma reunião em Amã na qual deveriam participar o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, opositor do Hamas

O episódio ocorreu em meio a ataques aéreos israelenses à Faixa de Gaza que até agora deixaram mais de 4.000 mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Estes bombardeios são a resposta israelense ao ataque de grande escala do Hamas contra Israel de 7 de outubro, no qual morreram mais de 1.400 pessoas, a grande maioria civis, segundo dados do governo.

O que aconteceu no hospital?

Por volta das 19h50, horário local, uma forte explosão abalou o hospital Al-Ahli Arab, que é financiado pela Igreja Anglicana dos EUA. Os relatos iniciais apontavam para a suposta queda de um foguete.

O Hamas e Israel trocaram milhares de projéteis desde o início do conflito. Mas até agora não há provas claras sobre o que causou a explosão. Centenas de vítimas ficaram no chão, incluindo feridos e mortos. As imagens mostraram um grande número de pessoas deitadas.

"Parte do hospital está em chamas", disse o cirurgião britânico-palestino Ghassan Abu Sittah à BBC. "Não sei se é no pronto-socorro, mas tenho certeza que a sala de cirurgia [foi atingida]. Parte do teto caiu. Há vidro por toda parte."

Outro médico disse que 80% do hospital estava inutilizado e que centenas de pessoas morreram ou ficaram feridas na explosão. Além dos pacientes e dos trabalhadores, dentro e fora do prédio havia civis —cerca de mil, segundo os últimos relatórios— em busca de um local seguro em meio aos bombardeios.

Até a semana passada, havia cerca de 6.000 refugiados no local, mas um ataque aéreo no sábado (14) que deixou quatro feridos fez com que cerca de 5.000 deixassem os arredores do hospital.

Troca de acusações

Vídeos que não foram verificados de forma independente mostram lançamentos de foguetes e uma explosão no solo. O Hamas, que controla Gaza desde 2007, imediatamente culpou Israel pelo incidente, classificando o episódio como "crimes de guerra". "O hospital abrigava centenas de pacientes doentes e feridos, e pessoas deslocadas à força de suas casas", disse o regime em Gaza.

Pouco depois veio a resposta israelense. Em comunicado, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) negaram ter bombardeado o local. "A inteligência e múltiplas fontes que temos em mãos indicam que [a facção palestina aliada do Hamas] Jihad Islâmica é a responsável pelo lançamento fracassado de um foguete que atingiu o hospital de Gaza."

"Um hospital é um edifício muito sensível e não é alvo das IDF", acrescentou outro comunicado. O Jihad Islâmica, segunda maior milícia na região depois do Hamas, negou responsabilidade em um comunicado enviado à agência Reuters.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, culpou "terroristas bárbaros" pela explosão. Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, que é rival política do Hamas, disse que o episódio foi um "horrível massacre de guerra" e que Israel "ultrapassou todos os limites".

Quais foram as reações?

No vizinho Líbano, o grupo islâmico Hizbullah apelou ao mundo árabe para protestar nesta quarta-feira (18) em "um dia de fúria" contra o ocorrido no hospital.

A Casa Branca confirmou que a cúpula de que Biden participaria na Jordânia na data foi cancelada, mas sua visita a Israel e sua reunião com Netanyahu, ocorreram conforme o previsto.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, afirmou em comunicado que "condena veementemente" a situação no hospital. "O direito humanitário internacional deve ser respeitado, o que significa que os cuidados de saúde devem ser ativamente protegidos e nunca visados."

Os Médicos Sem Fronteiras, ONG que tem profissionais de saúde em Gaza, incluindo no hospital Al-Ahli, também se juntou às condenações. "Isso é um massacre. É absolutamente inaceitável. Nada justifica este ataque horrível contra um hospital, seus pacientes e profissionais de saúde, bem como contra as pessoas que ali procuraram refúgio. Os hospitais não são um alvo. Este derramamento de sangue deve acabar. Basta", disse a ONG nas suas redes sociais.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, se pronunciou no X, o antigo Twitter: "Estou horrorizado com a morte de centenas de civis palestinos".

Os líderes de vários países ocidentais e asiáticos expressaram repulsa à violência. "Os Estados Unidos defendem inequivocamente a proteção da vida civil durante o conflito e lamentam que profissionais médicos e outras pessoas inocentes tenham sido mortas ou feridas nesta tragédia", disse Biden em comunicado.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que "nada pode justificar o ataque a um hospital" ou a civis.

A Rússia convocou uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para discutir o assunto.

Na outra região ocupada por palestinos, a Cisjordânia, houve um protesto de grande porte após o episódio. As forças de segurança da Autoridade Palestina dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que atiravam pedras e xingavam Mahmoud Abbas na cidade de Ramallah. Houve também manifestações de apoio aos palestinos em países como o Líbano, a Tunísia e a Jordânia.

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