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Polícia da Índia faz busca em escritório de portal de notícias crítico a Narendra Modi

Site NewsClick é acusado de 'propaganda estrangeira'; oposição diz que governo persegue imprensa por meio de ação coercitiva

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São Paulo

A polícia da Índia fez uma busca no escritório do portal de notícias online NewsClick, em Nova Déli, e nas casas de jornalistas e escritores ligados a ele nesta terça-feira (3). A operação faz parte de uma investigação sobre suspeita de financiamento estrangeiro ilegal da empresa de mídia, de acordo com dois funcionários do governo ouvidos pela agência de notícias Reuters.

Segundo o jornal indiano The Indian Express, a polícia havia prendido o fundador e editor-chefe do portal, Prabir Purakayastha, e o jornalista Amit Chakravarty, que trabalhava no órgão de imprensa.

A polícia de Nova Déli disse em um comunicado que havia interrogado 37 suspeitos do sexo masculino no escritório do portal de notícias e nove suspeitos do sexo feminino em suas casas ou em locais ligados ao NewsClick. De acordo com a corporação, os jornalistas também foram revistados.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fala com a imprensa em Nova Déli, na Índia - Adnan Abidi - 18.set.23/Reuters

Mais cedo, laptops e telefones celulares foram apreendidos como parte da investigação, disseram funcionários do governo e jornalistas.

De acordo com um funcionário do Ministério do Interior responsável pela inspeção policial, "uma equipe especial de investigações lançou uma operação de busca para identificar todas as pessoas que possivelmente estavam recebendo fundos do exterior para administrar um grupo de mídia com a principal agenda de espalhar propaganda estrangeira."

Ainda segundo o mesmo funcionário, as buscas fazem parte de uma operação da agência de crimes financeiros da Índia e apuram a suspeita de lavagem de dinheiro pelo NewsClick.

Outro membro da equipe do ministério, que também preferiu o anonimato, afirmou que as inspeções foram realizadas nas casas de mais de uma dúzia de jornalistas e outros escritores ligados ao portal.

O site da empresa, fundada em 2009, diz que ela reporta notícias da Índia e de outros lugares com foco em "movimentos progressistas". Segundo a publicação, "o objetivo do NewsClick sempre foi relatar, em profundidade, notícias e opiniões ignoradas pela mídia corporativa, cuja agenda é ditada pelos ricos e poderosos do país."

Funcionários disseram que a investigação começou após uma reportagem do jornal americano The New York Times de agosto mencionar o NewsClick como parte de uma rede global que recebe fundos do bilionário americano Neville Roy Singham, supostamente para publicar propaganda chinesa.

O fundador do NewsClick, Purkayastha, disse na época que as acusações não eram novas e que a organização responderia a elas no tribunal.

O Press Club of India (PCI), uma associação de jornalistas e profissionais de mídia com sede em Nova Déli, disse estar profundamente preocupado com as buscas. "O PCI solidariza-se com os jornalistas e exige que o governo divulgue detalhes", escreveu o grupo na rede social X (ex-Twitter).

Uma declaração da aliança INDIA, uma coalizão de 28 partidos políticos de oposição, disse que nos últimos nove anos o governo tem perseguido e suprimido deliberadamente a imprensa usando agências de investigação. O grupo se refere às ações do governo do primeiro-ministro Narendra Modi como "coercitivas" e "direcionadas apenas contra organizações de mídia e jornalistas que falam a verdade".

Um porta-voz do partido de Modi, o nacionalista Bharatiya Janata (BJP), disse que as buscas eram justificadas, pois o financiamento estrangeiro a grupos de mídia deve ser avaliado por agências de investigação.

A Índia caiu para a 161ª posição entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, uma classificação anual da organização sem fins lucrativos Repórteres Sem Fronteiras. O governo de Modi rejeita as conclusões do grupo, questionando a metodologia, e afirma que a Índia tem uma imprensa vibrante e livre.

Em agosto, a liberdade de expressão na Índia sofreu mais um revés com aprovação da Lei de Proteção de Dados Pessoais Digitais no país. A legislação permite ao governo bloquear o acesso a determinadas plataformas online —"quando for do interesse público"— e enfraquece a Lei de Direito à Informação ao permitir que autoridades neguem fornecimento de dados considerados pessoais, como, por exemplo, salários de funcionários públicos.

Especialistas e ativistas alertam para o que veem como crescente autoritarismo digital no país. Desde 2021, o governo do BJP adotou uma série de leis e regulamentos para aumentar o controle sobre as plataformas digitais e a mídia online.

com Reuters

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