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EUA fazem visita surpresa para avaliar crise na Guerra da Ucrânia

Secretário Blinken vai a Kiev sob bombas, com troca de ministro e problemas na contraofensiva

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São Paulo

Os Estados Unidos, principais fiadores da Ucrânia em sua luta contra a invasão russa iniciada em 2022, deram uma demonstração de apoio a Kiev nesta quarta-feira (6) com o envio não anunciado do secretário de Estado, Antony Blinken, à capital ucraniana.

Apoio e preocupação, dado que os ucranianos passam por uma crise aguda no conflito, que já dura mais de um ano e meio. Sua propalada contraofensiva iniciada em junho não teve ganhos substanciais, o ministro da Defesa acaba de ser trocado e as Forças Armadas alertam para o risco de colapso da frente ante uma renovada ação russa no nordeste do país.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, durante encontro em Kiev - Brendan Smialowski - 6.set.23/Pool/Reuters

Mesmo a chegada não anunciada de Blinken por trem ocorreu poucas horas após os russos retomarem ataques com drones e mísseis contra a capital. Também houve novos bombardeios contra a infraestrutura de exportação de grãos no rio Danúbio, com ao menos um morto no porto de Izmail, e um ataque particularmente mortífero em Kostiantinvka, no leste do país, que deixou 17 mortos.

Como não seria diferente, Blinken trouxe otimismo nas palavras e dinheiro no bolso, no caso mais um pacote de ajuda militar de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões).

"Queremos assegurar que a Ucrânia tenha o que precisa, não só para ser bem-sucedida na contraofensiva, mas para o longo prazo, para garantir que ela tenha um poder de dissuasão forte", afirmou ele na sua primeira parada, um encontro com o chanceler Dmitro Kuleba —os dois posaram para fotos em uma unidade do McDonald's em Kiev.

O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba, e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, comendo batatas fritas em um McDonald's de Kiev - Brendan Smialowski - 6.set.23/Pool/Reuters

No último mês, cresceu no Ocidente a noção de que a contraofensiva baseada em novos equipamentos e treinamento de tropas pela Otan dificilmente atingirá o objetivo de cortar a ligação terrestre estabelecida entre a Rússia e a península da Crimeia, que Vladimir Putin anexou em 2014.

A cobrança se fez na forma de comentários anônimos em Washington e algumas falas, como a sugestão do chefe de gabinete do secretário-geral da Otan de que Kiev deveria ceder território para a Rússia para conseguir assegurar a sua entrada no clube militar.

Kuleba disse, em resposta, que os críticos deveriam "calar a boca". O presidente Volodimir Zelenski, com quem Blinken já se reuniu nesta quarta, admitiu a lentidão na operação militar e creditou isso entre outras coisas à pouca quantidade de tanques pesados que recebeu do Ocidente —os números são incertos, mas oscilam entre 100 e 200.

Na oposição republicana nos EUA, de olho já na eleição presidencial de 2024, surgiram vozes questionando o comprometimento militar, já que os EUA deram quase US$ 50 bilhões (R$ 250 bilhões) de ajuda bélica a Kiev até aqui, e a idoneidade das Forças Armadas ucranianas —devido a diversos casos de corrupção que emergiram nos últimos meses.

No domingo (3), Zelenski respondeu a isso demitindo Oleksii Reznikov, o ministro da Defesa, cujo substituto, Rustem Umerov, foi confirmado nesta quarta pelo Parlamento. Ele tem experiência como negociador, tendo participado das conversas fracassadas com os russos no começo do conflito e, depois, do acordo para exportação de grãos pelo mar Negro em 2022.

Segundo membros do governo Joe Biden vazaram a repórteres antes da viagem de Blinken, o objetivo é tomar o pulso das necessidades ucranianas ante as dificuldades da contraofensiva e preparar o país para o período do inverno, no fim do ano para o Hemisfério Norte.

Houve alguns ganhos na ação, principalmente nas duas últimas semanas, com algumas unidades chegando à última das três linhas defensivas russas em um ponto de Zaporíjia (sul), mas nada que indique um rompimento decisivo da frente em favor de Kiev. Blinken disse que os avanços são "muito promissores".

Por outro lado, cresceu a pressão militar com os bombardeios aos portos ucranianos depois que Putin deixou o acordo de grãos em julho por não considerar cumpridas as contrapartidas ocidentais para facilitar sua venda de produtos agrícolas —com a volta de bancos de crédito agrário russos ao sistema de trocas internacionais Swift e a permissão a seguradoras de cobrir navios com produtos de Moscou.

Além disso, os russos avançam de forma ameaçadora contra a região de Kharkiv e o norte de Donetsk [leste]. Nesta mesma quarta, o chefe das forças terrestres ucranianas, Oleksandr Sirskii, publicou uma avaliação sombria na sua conta do Telegram, chamando a situação de muito grave.

"O inimigo não abandonou seu plano de chegar às fronteiras regionais. Nossa tarefa principal é garantir uma defesa confiável, prevenir a perda de nossos bastiões e posições nas direções de Kupiansk e Limansk, assim como avançar para as linhas designadas na direção de Bakhmut [mais a sul]", afirmou.

Ainda nesta quarta, um bombardeio na cidade de Kostiantinivka, no leste ucraniano, deixou pelo menos 17 civis mortos, incluindo uma criança, e 32 feridos. Segundo autoridades, um mercado lotado foi atingido. Imagens de câmeras de segurança compartilhadas por Zelenski na plataforma X, o ex-Twitter, mostram o momento em que ocorre uma forte explosão e pessoas correm para se abrigar.

Zelenski disse que Kostantinivka é uma cidade pacífica e chamou a ação de "maldade descarada". "O mal russo deve ser derrotado o mais rápido possível", disse o ucraniano. A Rússia não se manifestou sobre o ataque, mas já disse várias vezes que não tem alvos civis.

Blinken não comentou o ataque. O americano ouvirá ainda pedidos para a aceleração do plano de envio de caças americanos F-16 à Ucrânia, uma demanda que remonta aos primeiros dias da invasão. Ele viajou com a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, a quem agradeceu pela oferta de 16 aviões do estoque do país.

A Holanda prometeu talvez outros 45 caças, mas nenhuma das aeronaves deverá estar operacional antes do ano que vem, até porque os pilotos precisam ser treinados e isso leva ao menos seis meses.

Os EUA não sugeriram oferecer caças próprios, mas deram a autorização para a reexportação e para o treinamento dos aviadores. Nesta semana, Zelenski disse ter chegado a algum tipo de acordo com a França no tema, mas não o divulgou.

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