Vídeos adulterados e até trecho de jogo inundam internet e desinformam sobre guerra Israel-Hamas

Informações falsas circulam em redes sociais e arriscam obscurecer evidências do terrorismo do Hamas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

Nos dias seguintes à ofensiva do Hamas em Israel, que matou mais de 1.200 pessoas em ataques generalizados a kibutzim, festival de música, cidades e outros lugares, imagens violentas e vídeos inundaram as redes sociais.

Da mesma forma, informações falsas e enganosas, vídeos antigos e não relacionados e fotos com alegações imprecisas e fabricadas sobre o envolvimento de países como Estados Unidos e Ucrânia também têm circulado, adicionando confusão e engano a um momento já caótico.

O sistema de defesa aérea Iron Dome (redoma de ferro) de Israel intercepta foguetes lançados de Gaza - Mahmud Hams - 11.out.23/AFP

As informações falsas circulando online correm o risco de obscurecer evidências reais de atrocidades que estão surgindo à medida que soldados israelenses retomam o controle dos lugares que foram atacados: vídeos e fotos, corroborados por relatos de testemunhas, que mostram que atiradores palestinos atacaram e mataram civis israelenses em grande número. Soldados e equipes de emergência ainda estão recuperando os mortos, incluindo crianças, em muitas comunidades.

Imagens de videogames, não um ataque do Hamas

Usuários de redes sociais compartilharam um trecho que supostamente mostra imagens de "um novo ataque aéreo em partes de Israel". Mas as imagens são, na verdade, retiradas de um jogo de videogame, "Arma 3", como mostra um vídeo compartilhado no YouTube em 2022. Um representante do desenvolvedor do jogo, Bohemia Interactive, também confirmou que o trecho online foi retirado do jogo.

Visuais desse videogame já foram usados no passado para distorcer outros conflitos do mundo real, incluindo a invasão da Rússia à Ucrânia.

Um vídeo mostrando violência em 2015

Perfis nas redes sociais compartilharam um vídeo de uma mulher sendo queimada, cercada por uma multidão de pessoas, sugerindo que mostrava a tortura de uma cidadã israelense capturada em um festival.

"Este é o rosto diabólico dos terroristas jihadistas do Hamas torturando uma garota israelense no Festival da Natureza em Re'im", dizia uma postagem do vídeo no X (ex-Twitter), que depois foi removida.

O vídeo retrata um caso real de violência —mas que ocorreu na América Central em 2015, não em Israel em 2023. As imagens mostram uma adolescente de 16 anos sendo queimada até a morte em uma vila guatemalteca, conforme informou a CNN na época.

Um memorando feito pela Casa Branca

Uma imagem que circula online foi feita para se assemelhar a uma captura de tela de um suposto anúncio da Casa Branca em 7 de outubro, mostrando o fornecimento de US$ 8 bilhões de ajuda a Israel, com algumas pessoas sugerindo que isso indicava que a Ucrânia agora teria concorrência para o auxílio financeiro dos EUA. A Casa Branca, no entanto, não publicou nenhum anúncio desse tipo.

O suposto anúncio se assemelha a memorandos reais emitidos pela Casa Branca, especialmente um anúncio semelhante em julho sobre assistência à Ucrânia.

O presidente Joe Biden fez um discurso na terça-feira (10) sobre os ataques do Hamas e prometeu apoiar Israel, um aliado dos EUA que recebe mais de US$ 3 bilhões em assistência militar todos os anos. Biden e autoridades da Casa Branca disseram que a administração pedirá ao Congresso para autorizar apoio adicional a Israel.

Também na terça-feira, o embaixador americano na Otan disse que a assistência militar dos EUA a Israel não viria em detrimento da Ucrânia. Os EUA já comprometeram cerca de US$ 45 bilhões em armas e ajuda militar à Ucrânia desde a invasão da Rússia em fevereiro de 2022.

Uma reportagem inventada da BBC

Um vídeo fabricado compartilhado no Telegram e no X supostamente mostrava uma reportagem da BBC dizendo que o Bellingcat, um grupo de investigação, havia descoberto que armas fornecidas pela Otan à Ucrânia haviam sido vendidas ao Hamas.

"Bellingcat: fracasso da ofensiva militar ucraniana e ataque do Hamas vinculados", afirmava o texto de abertura do vídeo. Contudo, a BBC nunca publicou esse relatório, e a afirmação subjacente não é comprovada.

O fundador do Bellingcat, Eliot Higgins, chamou o vídeo de "100% falso". Shayan Sardarizadeh, um jornalista da BBC, também disse que era falso.

O presidente Volodimir Zelenski da Ucrânia condenou o Hamas e expressou repetidamente apoio a Israel. O Hamas e a Rússia, disse ele em um discurso na segunda-feira (9), são "o mesmo mal, e a única diferença é que há uma organização terrorista que atacou Israel, e aqui está um Estado terrorista que atacou a Ucrânia".

Uma Igreja Ortodoxa intocada

Uma imagem —postada no X sob as palavras "últimas notícias"— afirmava mostrar aviões de guerra israelenses bombardeando a Igreja Ortodoxa de São Porfírio, a maior igreja em Gaza.

Autoridades da instituição divulgaram uma declaração dizendo que os relatos eram falsos. "Gostaríamos de informar que a Igreja de São Porfírio em Gaza está intacta", disseram no Facebook. "As notícias que circulam sobre ela ter sido danificada são falsas."

Israel diz ter lançado centenas de ataques visando o Hamas em Gaza desde sábado. Residentes do território e autoridades de saúde afirmam que mesquitas, hospitais e escolas estão sendo atingidos, e autoridades da ONU disseram que os ataques aéreos danificaram instalações de água, saneamento e higiene, afetando mais de 400 mil pessoas.

CNN não apresentou reportagem ou ataque

A CNN publicou na segunda-feira imagens reais de uma correspondente, Clarissa Ward, e seus colegas se abaixando para se proteger enquanto foguetes eram disparados perto da fronteira entre Israel e Gaza.

Uma versão manipulada da reportagem foi amplamente compartilhada online, com áudio editado sobre o vídeo para sugerir que uma sala de controle estava dando instruções à equipe, insinuando que ela encenou o momento.

"CNN desmascarada por fingir um ataque em Israel", diz uma publicação no X com o vídeo.

"O áudio no vídeo postado e compartilhado no X é fabricado, impreciso e distorce irresponsavelmente a realidade do momento que foi transmitido ao vivo na CNN", disse um porta-voz da rede, que pediu aos espectadores que assistam às imagens reais em uma plataforma confiável.

Relato falso de desocupação da embaixada dos EUA

Na quarta-feira (11), circularam relatos falsos online afirmando que a Embaixada dos EUA no Líbano estava sendo desocupada, levando autoridades a desmentirem publicamente a afirmação.

A embaixada respondeu com um comunicado na tarde de quarta-feira, dizendo que o local "não foi evacuado e está aberto e operando normalmente". "Relatos dizendo o contrário são falsos", afirmou.

Autoridades da embaixada aconselharam os cidadãos americanos na área a terem cautela e evitarem viajar para a fronteira entre Líbano e Israel, onde o Exército israelense e o grupo Hizbullah trocaram tiros nos últimos dias.

Israel invadiu brevemente o Líbano em 2006 depois que integrantes do Hizbullah cruzaram a fronteira e sequestraram dois soldados israelenses, e os recentes disparos na fronteira do grupo têm levantado temores de um conflito regional mais amplo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.