Descrição de chapéu Financial Times União Europeia

Traficantes se infiltram em cadeias de abastecimento do setor marítimo europeu

União Europeia faz planos para aumentar inspeção em contêineres e cooperação entre portos do continente

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Ian Johnston Laura Dubois
Londres e Bruxelas | Financial Times

Gangues de traficantes se infiltraram nas cadeias de abastecimento de transporte marítimo em um grau "extremo", alertou um importante executivo do setor ao jornal britânico Financial Times enquanto a Comissão Europeia faz planos para reprimir as drogas ilegais que inundam os portos da Europa.

Os envios de cocaína para a União Europeia aumentaram nos últimos anos, à medida que criminosos direcionam o fluxo de drogas para rotas marítimas globais. Um recorde de 303 toneladas foi apreendido em 2021, de acordo com os últimos dados continentais da agência de monitoramento de drogas do bloco.

Agentes aduaneiros belgas procuram por drogas em um contêiner no porto de Antuérpia - François Walschaerts - 7.jan.22/AFP

Como resultado, as empresas de transporte estão lidando com "algumas das pessoas mais perigosas do mundo", disse Keith Svendsen, diretor executivo da APM Terminals, uma divisão do grupo de transporte dinamarquês Maersk. "A maneira como essas pessoas estão se infiltrando em toda a cadeia de abastecimento, não apenas no lado marítimo ou portuário, é bastante extrema."

O alerta surge no momento em que a Comissão Europeia propôs mais coordenação entre portos europeus, governos e empresas privadas por meio da criação de uma "Aliança Portuária Europeia", de acordo com um rascunho da comunicação visto pelo Financial Times.

Uma das propostas envolve estabelecer critérios de risco comuns e prioridades para controles aduaneiros da UE. Serão alocados 200 milhões de euros para financiar equipamentos para escanear contêineres a partir de 2024.

A comissão também instará os Estados membros a implementarem regras de segurança existentes para os portos e fornecerem às empresas de transporte meios para "verificar e avaliar seus funcionários para evitar a corrupção por redes criminosas".

Antuérpia, por exemplo, é o maior centro de tráfico de cocaína na Europa, com um recorde de 110 toneladas apreendidas em 2022, segundo as autoridades aduaneiras.

A cidade portuária da Bélgica verifica apenas cerca de 2% das mercadorias que passam pelo porto, mas planeja verificar todos os contêineres provenientes da América Latina e considerados "de alto risco" até 2028. Atualmente, cerca de 5% desses contêineres são verificados.

Para a indústria de transporte marítimo, a crescente pressão para combater o tráfico de drogas representa um risco de interrupção das operações comerciais das transportadoras de contêineres, que carregam milhões de caixas de aço todas as semanas.

Claudio Bozzo, diretor de operações da empresa de transporte marítimo MSC, disse ao Financial Times em agosto que "sofre consequências quando se trata de custos" para disponibilizar contêineres para inspeções aduaneiras.

Já Svendsen, da Maersk, se recusou a fornecer detalhes sobre os custos do aumento das verificações na empresa, mas disse que "o impacto na cadeia de abastecimento é o mesmo em todas as empresas".

Segundo ele, "é preciso resolver mais problemas" antes de alcançar a meta de Antuérpia de verificar 100% dos contêineres da América Latina. Em vez disso, ele afirma que as verificações devem ser reforçadas na saída dos navios e menciona um investimento de € 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) que a APM Terminals fez em um terminal de contêineres que opera em Moín, na Costa Rica.

Svendsen afirmou que sua maior preocupação é um "dever de cuidado" com sua equipe, não os custos. "Houve incidentes em que ocorreu infiltração e os funcionários foram coagidos a ajudar" gangues de traficantes, contou ele.

As autoridades portuárias de Roterdã detectaram oito toneladas de cocaína em um navio da Maersk em julho, com um valor de rua de € 600 milhões (R$ 3,2 bilhões), a maior apreensão de cocaína na Holanda.

De acordo com Svendsen, a empresa não é responsável pelas drogas em seus contêineres. "O que deu errado é que o tráfico internacional de drogas está usando infraestrutura legítima para mover esse produto, infiltrando-se nas cadeias de abastecimento", afirmou.

A comissão se recusou a comentar o documento vazado, que ainda está sujeito a alterações até sua publicação.

Apesar do crescente consenso político para enfrentar o problema, há efeitos colaterais para a indústria global de transporte marítimo devido a controles aduaneiros mais rigorosos, dizem especialistas.

Richard Neylon, advogado de transporte marítimo da HFW, disse que às vezes "não está ao alcance dos proprietários de navios abrir e inspecionar" contêineres. "[O transporte marítimo é essencial] para o comércio internacional. O risco de tráfico de drogas é uma razão muito difícil para recusar o comércio internacional".

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