Descrição de chapéu Todas União Europeia

Parlamento Europeu dá prêmio a Mahsa Amini, cuja morte provocou onda de revolta no Irã

Jovem curda morreu sob custódia da polícia moral do regime teocrático em setembro de 2022

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Morta sob a custódia da polícia moral do Irã, a curda Mahsa Amini foi homenageada nesta quinta-feira (19) com o prêmio Sakharov, distinção em defesa dos direitos humanos dada pelo Parlamento Europeu. "Apoiamos com orgulho aqueles que, com coragem e ousadia, continuam a lutar por igualdade, dignidade e liberdade no Irã", disse Roberta Metsola, presidente do órgão legislativo, em nota.

A morte da jovem, então com 22 anos, em setembro de 2022, foi o estopim para a maior onda de protestos no país desde a Revolução Islâmica de 1979. Os atos representaram um desafio histórico ao regime clerical liderado pelo aiatolá Ali Khamenei —que respondeu às mobilizações com uma ampla repressão.

Manifestante segura retrato de Mahsa Amini durante manifestação em frente à embaixada do Irã em Bruxelas, na Bélgica - Kenzo Tribouillard - 23.set.22/AFP

Amini morreu três dias depois de ser presa em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta. Agentes da polícia moral, responsável por aplicar os códigos de conduta religiosos do regime, alegam que ela sofreu um ataque cardíaco após a detenção, mas sua família afirma que o óbito foi consequência de agressões que ela sofreu por parte das forças de segurança.

Alimentaram a tensão no país a pressão internacional para que sua morte fosse investigada e o desalento da população com a crise econômica. Na época, imagens de iranianas tirando seus véus e cortando seus cabelos como forma de protesto ganharam o mundo .

Segundo ativistas, os atos fizeram as autoridades suspenderem a detenção de mulheres que não se vestiam de acordo com as normas —o controle foi retomado alguns meses depois.

Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que mais de 500 pessoas, incluindo 71 menores de idade, foram mortas nas manifestações, e milhares outras foram presas. Depois do pico dos atos, o Irã —cujo código penal prevê pena de morte— realizou sete execuções ligadas aos protestos.

Este é o segundo grande prêmio que vai para uma iraniana em menos de um mês. No começo de outubro, o Prêmio Nobel da Paz de 2023 foi concedido à ativista de direitos humanos Narges Mohammadi, 51, presa em Teerã sob a acusação de "espalhar propaganda contra o Estado".

Mohammadi é perseguida há 30 anos pelo regime islâmico por seu ativismo, iniciado quando ela ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. Ela foi presa 13 vezes pelas forças estatais e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, de acordo com Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê da premiação.

O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é oferecido pelo Parlamento Europeu desde 1988 a indivíduos ou organizações defensoras de direitos humanos e de liberdades fundamentais. Nesta edição, foram finalistas, além de Amini, a dupla formada pela advogada Vilma Núñez e o bispo Rolando Álvarez, que se opõem à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua; e grupos de mulheres que lutam pelo direito ao aborto na Polônia, em El Salvador e nos Estados Unidos.

Os vencedores recebem € 50 mil (R$ 266 mil). O nome da honraria celebra o físico nuclear Andrei Sakharov, obrigado pela União Soviética a se isolar e viver longe de Moscou na década de 1980 após criticar a invasão do regime ao Afeganistão. Edições anteriores homenagearam o sul-africano Nelson Mandela, a oposição ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai.

No ano passado, o Sakharov foi para a população ucraniana. A escolha na época foi pouco surpreendente por reforçar a aliança entre a União Europeia e Kiev selada no início da invasão russa. Dias antes, o Nobel da Paz havia premiado ONGs da Rússia e da Ucrânia que se opõem ao presidente Vladimir Putin e o ativista Ales Bialiatski, preso pela ditadura da Belarus, aliada de Moscou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.