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Cresce número de migrantes chineses cruzando a fronteira sul dos Estados Unidos

População do país asiático já representa o quarto maior grupo a tentar entrar ilegalmente em solo americano

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Washington | The New York Times

Apesar da distância e da dificuldade na jornada, no último ano mais de 24 mil cidadãos chineses foram detidos ao tentar cruzar a fronteira para os Estados Unidos saindo do México. Isso é mais do que nos 10 anos anteriores combinados, de acordo com dados do governo americano.

Normalmente, eles voam para o Equador, onde não precisam de visto, e em seguida, como centenas de milhares de outros migrantes da América Central e do Sul e de locais mais distantes, pagam a contrabandistas para guiá-los na selva entre Colômbia e Panamá, a caminho dos Estados Unidos. Uma vez lá, entregam-se às autoridades da fronteira e muitos solicitam asilo.

Migrantes da América Central e China escoltados por guardas das Forças Armadas do Texas
Migrantes da América Central e China escoltados por guardas das Forças Armadas do Texas - REUTERS

E a maioria tem sucesso, alimentando assim novas tentativas. Os chineses têm mais êxito do que pessoas de outros países com pedidos de asilo nos tribunais de imigração. E aqueles que não conseguem, acabam ficando de qualquer maneira, porque a China geralmente não os aceita de volta.

No debate polarizador sobre imigração, isso é uma peculiaridade pouco discutida do sistema dos EUA e os funcionários americanos não podem obrigar os países a aceitar de volta seus próprios cidadãos. Na maioria das vezes, isso não é um problema. Mas cerca de uma dúzia de países não são muito cooperativos, como é o caso da China.

Do total de 1,3 milhão de pessoas nos Estados Unidos com ordens finais de deportação, cerca de 100 mil são chinesas, de acordo com um funcionário do governo que falou sob anonimato.

Os migrantes fazem parte de um êxodo de cidadãos que estão frustrados com as restrições severas relacionadas à pandemia de coronavírus e à direção do regime autoritário de Xi Jinping. A tendência foi chamada de "filosofia de fuga", com cidadãos escapando para Japão, Europa e Estados Unidos.

"O maior motivo para mim é o ambiente político", disse Mark Xu, 35, professor de inglês de uma escola chinesa, em fevereiro, enquanto esperava para embarcar em um barco em Necoclí, na Colômbia, uma cidade litorânea no norte. A China era tão sufocante, acrescentou, que se tornou "difícil respirar".

Ele estava entre cerca de 100 migrantes chineses que partiram naquela manhã para iniciar a jornada pela perigosa Darién, a única rota terrestre para os Estados Unidos a partir da América do Sul. Xu disse que aprendeu sobre a travessia pelo YouTube e por pesquisas no Google, incluindo "como sair da China" e "como escapar".

Nos últimos dois anos, a área tem sido uma das partes mais difíceis de uma jornada desesperada para um grande número de migrantes que buscam ir para o norte. Até agora, 481 mil pessoas atravessaram a selva este ano, em comparação com 248 mil no ano passado, segundo autoridades panamenhas.

A maioria dos migrantes tem sido venezuelanos, equatorianos e haitianos que fogem de crises em seus países, incluindo problemas econômicos e de segurança. Mas este ano, cada vez mais chineses embarcaram na jornada.

Tantos têm cruzado que os cidadãos chineses agora são o quarto maior grupo a atravessar a selva. Muitos voam para a Turquia antes de seguir para o Equador e chegar aos Estados Unidos. De acordo com dados do governo, nos últimos 10 anos, menos de 15 mil migrantes chineses foram pegos cruzando a fronteira sul ilegalmente.

Os níveis históricos de migração pela fronteira sul são um grande problema político nos Estados Unidos, onde o presidente Joe Biden enfrenta uma forte pressão para conter o fluxo, e os migrantes chineses são uma pequena fração.

A maioria dos que chegaram aos Estados Unidos no último ano eram adultos de classe média que seguiram para Nova York após serem liberados da custódia.

A cidade tem sido um destino principal para migrantes de outras nações também, especialmente venezuelanos, que contam com os recursos da região, incluindo seus abrigos. Mas poucos dos migrantes chineses estão ficando nos abrigos. Em vez disso, eles estão indo para onde os cidadãos chineses têm ido há gerações: Flushing, no Queens —ou, para alguns, o Manhattan Chinês.

"Nova York é uma comunidade de imigrantes chineses autossuficiente", disse o reverendo Mike Chan, diretor executivo do Chinese Christian Herald Crusade. Os recém-chegados não precisam falar inglês porque muitos falam mandarim ou cantonês, acrescentou, o que facilita a busca por emprego também. Esse tipo de rede ajuda as pessoas a encontrar advogados de imigração, moradia e outras necessidades básicas.

A rota deles para Flushing através de uma selva sul-americana é o que torna os recém-chegados diferentes. No passado, a maioria dos chineses solicitantes de asilo vinha com visto e depois fazia a solicitação, quando já estava nos Estados Unidos. Nos anos 1990, última vez que houve um influxo de migrantes chineses entrando ilegalmente, eles vieram pelo mar. Mas o volume atual é muito maior.

Os migrantes que buscam asilo têm que esperar cerca de seis meses após apresentarem sua solicitação para obter permissão para trabalhar legalmente. Os recém-chegados terão que esperar anos para que seus casos sejam concluídos no sistema.

Em geral, os solicitantes de asilo chineses têm mais sucesso nos tribunais de imigração do que a maioria. De acordo com dados analisados pelo Transactional Records Access Clearinghouse da Universidade de Syracuse, cerca de 67% dos solicitantes da China receberam asilo entre 2001 e 2021.

E aqueles que recebem ordem de deportação não são suscetíveis de serem deportados.

Muzaffar Chishti, pesquisador sênior do Migration Policy Institute, disse que enquanto isso continuar acontecendo, a tendência migratória continuará.

"Se você chegar aos Estados Unidos, é mais provável você ficar", disse ele. "Então, definitivamente vale a pena correr esse risco."

Ainda assim, o êxodo de cidadãos chineses, especialmente em idade de trabalho, para os Estados Unidos e outros lugares, apresenta um desafio para a China a longo prazo, de acordo com Carl Minzner, pesquisador sênior de estudos chineses no Conselho de Relações Exteriores.

Pela primeira vez em 60 anos, a população da China está diminuindo, com menos nascimentos do que mortes. E sua economia está crescendo na taxa mais lenta em 40 anos.

Com outros países que se recusaram a receber seus cidadãos, os Estados Unidos retiveram dinheiro de ajuda ou usaram alavancagem semelhante para obter cooperação. Também tem a capacidade de restringir o acesso a determinados vistos, como fez em 2017 com Camboja, Eritreia, Guiné e Serra Leoa.

Mas esses argumentos não têm sido convincentes para a China, que recebe pouca ajuda dos EUA. E à medida que suas relações com os Estados Unidos se deterioraram ao longo dos anos, a questão não parece ser uma prioridade.

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