Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Inteligência de Israel descartou alerta detalhado sobre ataque do Hamas

Oficial de alta patente teria respondido que relatório, que se mostraria correto, era 'cenário imaginário'

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Mehul Srivastava
Tel Aviv | Financial Times

Uma autoridade sênior da inteligência do Exército de Israel descartou um alerta detalhado que previa o ataque do Hamas no dia 7 de outubro, chamando-o de "cenário imaginário", segundo duas pessoas familiarizadas com as discussões sobre o assunto.

Sentinelas na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza —muitas delas soldados mulheres que observam e analisam um fluxo constante de vídeo e outros tipos de dados coletados perto da cerca eletrônica que bloqueia o território palestino— enviaram um relatório detalhado semanas antes do atentado para o oficial de inteligência de mais alto escalão no comando sul, ainda de acordo com essas duas pessoas.

Soldado israelense caminha em meio a casas destruídas após ataque do Hamas no kibutz Be'eri, no sul de Israel
Soldado israelense caminha em meio a casas destruídas após ataque do Hamas no kibutz Be'eri, no sul de Israel - Ammar Awad - 25.out.23/Reuters

De acordo com uma pessoa com conhecimento direto do conteúdo do alerta, o relatório foi enviado por meio de um sistema de comunicação seguro e continha avisos específicos, incluindo que o Hamas estava treinando para explodir postos de fronteira em vários locais, entrar em território israelense e tomar kibutzim.

A falha de Israel em impedir o ataque, que o governo israelense diz ter matado mais de 1.200 pessoas, agora é vista como o maior fracasso de inteligência do país desde que Egito e Síria lançaram uma ofensiva surpresa em 1973 no feriado de Yom Kippur, o dia mais sagrado do judaísmo.

Soldados de patente inferior também alertaram que sua análise de vários vídeos mostrava que o Hamas estava ensaiando o sequestro de reféns e que sentiam que um ataque era iminente. O memorando foi desencadeado após imagens mostrarem um comandante militar de alta patente do Hamas supervisionando o treinamento, identificado pelas sentinelas em um banco de dados mantido pela Unidade 8200, parte do corpo de inteligência israelense.

"Este é um cenário imaginário", respondeu o oficial de inteligência de alta patente, de acordo com uma descrição das comunicações compartilhada com o Financial Times.

Nenhuma ação foi tomada, disse essa pessoa com conhecimento do conteúdo do alerta. A KAN, emissora pública de Israel, relatou na quinta-feira (23) detalhes de um aviso semelhante enviado por soldados de patente inferior a seus superiores. A emissora acrescentou que o aviso incluía a possibilidade de uma aeronave ser derrubada e de o Hamas hastear suas bandeiras no território israelense.

Uma segunda pessoa familiarizada com o assunto disse que a falha em levar o relatório a sério se tornou uma discussão que chegou perto de se transformar em uma ação disciplinar dentro da comunidade de inteligência. Essa pessoa havia sido informada de uma descrição semelhante das comunicações.

Em resposta a questionamentos do FT, as Forças de Defesa de Israel disseram que seus "comandantes e soldados estavam exclusivamente focados" em sua missão de derrotar o Hamas. "Após a guerra, uma investigação completa será conduzida para esclarecer todos os detalhes", disseram as IDF.

As duas pessoas familiarizadas com as comunicações afirmaram ao FT que as discussões dentro da comunidade de inteligência sobre a falha em agir em resposta ao memorando ecoaram as ocorridas após as falhas que antecederam a guerra de 1973.

Ambos disseram que os avisos foram descartados não apenas porque vieram de soldados de patentes inferiores, mas também porque se chocaram com a confiança do governo israelense de que havia contido o Hamas por meio de um bloqueio punitivo, bombardeando sua estrutura militar e usando ajuda e dinheiro como meio de aplacar o grupo terrorista palestino.

Um ataque desse tipo pelo Hamas imediatamente desencadearia uma guerra com o Estado judeu, algo que a inteligência israelense estava convencida de que a facção extremista tentava evitar.

O ataque do Hamas no dia 7 de outubro seguiu em grande parte o padrão previsto pelo memorando, incluindo dois kibutzim específicos que foram atacados e o uso de foguetes para distrair o Exército israelense da ofensiva terrestre em curso.

Várias soldados mulheres foram mortas no ataque e um número desconhecido foi sequestrado de suas bases. O subsequente bombardeio aéreo e invasão de Gaza por Israel matou mais de 14 mil pessoas, muitas delas mulheres e crianças, segundo autoridades de saúde palestinas, reduziu grande parte do território a escombros e empurrou quase toda a população de 2,3 milhões para o sul, provocando grave crise humanitária.

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