Zelenski admite dificuldade, mas rebate general e nega impasse na guerra

Chefe das Forças Armadas havia dito que contraofensiva não chegou a objetivo desejado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, refutou a afirmação de seu principal general de que a guerra com a Rússia está num impasse, e que a contraofensiva do país contra os invasores fracassou em atingir seu objetivo estratégico após cinco meses de combates.

"O tempo passa e as pessoas estão cansadas, mas isso não é um impasse", afirmou Zelenski no sábado (4), durante uma entrevista com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Kiev, na qual queixou-se da atenção mundial à crise em Israel. Ele concordou que "há dificuldades" e que ainda não logrou nenhum sucesso importante na sua contraofensiva, contudo.

Soldado ucraniano inspeciona trincheira russa perto de Robotine, no sul do país
Soldado ucraniano inspeciona trincheira russa perto de Robotine, no sul do país - Reuters - 4.nov.2023

O general Valeri Zalujni, o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, escreveu para a revista britânica The Economist um ensaio de nove páginas detalhando os problemas estruturais e as virtudes de seu país na guerra.

Concluiu que o plano da contraofensiva de chegar até a Crimeia, cortando a ponte terrestre estabelecida pelos russos no sul do país, era otimista demais. Nenhum dos lados teve vitórias decisivas desde então, mas Moscou tem demonstrado iniciativa renovada, que Zalujni atribui à disposição de Vladimir Putin de sacrificar seus soldados.

Na conversa com Von der Leyen, Zelenski voltou a pedir reforço de sistemas antiaéreos e caças para o país. "A Rússia domina os céus", afirmou.

A fala de Zalujni evidenciou rusgas entre as lideranças militar e civil do país invadido há pouco mais de 20 meses. O assessor presidencial Ihor Jovka criticou diretamente o general. "Se eu fosse militar, provavelmente a última coisa que eu faria seria comentar à imprensa e ao público sobre o que está acontecendo na frente de batalha, ou pode acontecer", afirmou.

"Porque isso facilita o trabalho do agressor. Se nós podemos ter sucesso assim, talvez seja um plano profundamente estratégico. Mas me parece muito estranho", ironizou.

O Kremlin, por sua vez, tripudiou da situação. "Não, [a guerra] não chegou a um impasse", disse o porta-voz Dmitri Peskov, "porque é um absurdo Kiev falar sobre possibilidade de vitória". "Assim que o regime de Kiev entender isso, algumas perspectivas se abrirão", disse.

Na sexta (3), Zelenski trocou o chefe das Forças Especiais da Ucrânia sem explicar o motivo. Elas são responsáveis pelas mais audaciosas operações da guerra, como os ataques à base da Frota do Mar Negro da Rússia, na Crimeia anexada.

Já neste domingo (5), em meio à relutância do Congresso americano de liberar novos fundos para sustentar esforço de guerra ucraniano, o presidente disse em uma entrevista à rede americana NBC que os EUA irão pagar caro se não apoiarem Kiev.

"Se a Rússia matar todos nós, atacará depois países da Otan [aliança militar ocidental], e vocês terão de enviar seus filhos e filhas para lá. Sinto muito, será um preço muito mais alto", afirmou. O presidente Joe Biden tem tentado passar um novo pacote orçamentário de R$ 500 bilhões, a maior parte para a Ucrânia, mas com ajuda a Israel e outras frentes.

Os republicanos, de olho na corrida eleitoral de 2024, têm barrado a iniciativa na Câmara dos Representantes. As dificuldades ucranianas em campo têm colocado em dúvida a eficácia do apoio ocidental ao país, que já envolveu mais de R$ 500 bilhões até julho, com o envio de tanques e outros armamentos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.