Lula diz que Netanyahu é extremista e que faltou sensibilidade a Biden

Presidente compara guerra Israel-Hamas a conflito na Ucrânia e volta a falar que Putin não será preso se vier ao Brasil

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São Paulo

Durante seu giro pelo Oriente Médio no qual passou por Arábia Saudita, Qatar e Dubai, o presidente Lula (PT) criticou o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, por sua condução da guerra, disse que faltou sensibilidade a Joe Biden por não ter trabalhado para impedir o conflito e acenou, novamente, ao russo Vladimir Putin.

O presidente Lula discursa na COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
O presidente Lula discursa na COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos - Thaier Al Sudani/Reuters

As declarações do petista se deram durante entrevista em vídeo à rede qatari Al Jazeera publicada nesta sexta-feira (1º). Lula voltou a afirmar que o conflito Israel-Hamas que se desenrola em Gaza "não é uma guerra tradicional, mas um genocídio que mata milhares de crianças e mulheres que não têm culpa alguma".

Questionado sobre a postura de Netanyahu, afirmou que, "como governante, ele é uma pessoa muito extremista, de extrema direita e com sensibilidade baixa em relação aos problemas do povo palestino". "Ele pensa que os palestinos são pessoas de terceira ou quarta classe." Ao voltar ao poder no ano passado, Bibi, como o premiê é conhecido, reuniu a coalizão mais à direita da história de Israel.

O petista mencionou o ex-líder israelense Yitzhak Rabin, trabalhista que assinou os Acordos de Oslo, vislumbre de paz para o duradouro conflito que, no entanto, nunca se concretizou.

Rabin foi assassinado em 1995 por um ultranacionalista judeu. "Conheci pessoas como Rabin que são muito mais sensíveis e certamente teriam trabalhado pela paz", afirmou Lula.

O presidente voltou a defender a solução de dois Estados, que prevê a criação de um Estado para os palestinos, possibilidade que o Brasil defende em fóruns internacionais desde a década de 1940 e que, no entanto, perde tração entre israelenses e entre palestinos atualmente.

A política externa brasileira durante governos petistas, em especial no governo de Dilma Rousseff, chegou a ter tensões com Tel Aviv, notadamente quando Netanyahu, aquele que por mais tempo ocupou o cargo de premiê de Israel e então estava em sua segunda passagem pelo cargo, indicou para embaixador no Brasil em 2015 uma figura que liderava a atuação dos assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada.

O Brasil apresentou sua insatisfação e rejeitou o nome de Dani Dayan naquela que foi a maior crise política entre os dois países desde que estabeleceram relações diplomáticas em 1949.

Como de praxe, o petista também criticou duramente a atuação do Conselho de Segurança da ONU. Membro rotativo, o Brasil esteve na presidência do colegiado em outubro passado e viu fracassarem suas tentativas de aprovar uma resolução pedindo o fim do conflito.

Neste sentido, à Al Jazeera Lula criticou em especial a conduta de Washington, que vetou resolução brasileira com esse teor. "Não posso entender como um homem tão importante como o presidente Biden, do país mais importante do planeta, não teve a sensibilidade de falar para acabar com essa guerra", disse Lula, mencionando a influência política e militar de Washington em Tel Aviv. "Eles poderiam ter parado com a guerra."

O presidente brasileiro também foi questionado sobre o conflito ainda em curso no Leste Europeu, tema sobre o qual acumula declarações polêmicas que desagradaram à Ucrânia, invadida pela Rússia.

"A Rússia diz que alguns territórios pertencem a eles, e [Volodimir] Zelenski diz que pertencem à Ucrânia. Em vez de ir à guerra, porque não levar as pessoas a um referendo para perguntar: você quer pertencer à Ucrânia ou à Rússia?", sugeriu o petista, sem mencionar, porém, que o governo de Vladimir Putin já conduziu referendos ilegítimos sob a ótica do direito internacional para supostamente validar sua anexação de partes do leste do território ucraniano.

Com o Brasil agora na presidência do G20 e com o Rio de Janeiro como futura sede da cúpula do grupo em novembro de 2024, Lula foi questionado sobre a figura de Putin, contra quem há um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional sob a acusação de facilitar a deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia.

Na resposta, teceu uma espécie de comparativo entre as duas guerras em curso. "Uma das acusações contra Putin é por sequestrar crianças. Agora nessa guerra [Israel-Hamas] há crianças sequestradas dos dois lados. Putin será convidado [para reunião do G20 no Rio]. Ele não virá se não quiser vir. Se ele vier, asseguro que será respeitado e não será preso."

O Brasil é signatário do Estatuto de Roma, o documento fundador e a baliza da atuação do Tribunal de Haia, como a corte é comumente conhecida. Assim, em tese, teria de corroborar para que o mandado de prisão expedido pelo tribunal fosse levado a cabo.

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