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Mulher que queria desafiar Putin na Rússia é impedida de disputar eleições

Ex-jornalista Ekaterina Duntsova propõe acabar com guerra na Ucrânia; críticos veem eleição como processo falso

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Londres | Reuters

A ex-jornalista de TV Ekaterina Duntsova foi desqualificada neste sábado (23) de concorrer contra o presidente Vladimir Putin nas eleições na Rússia em março do ano que vem, devido a supostas falhas em sua inscrição como candidata.

A divulgação de um vídeo de uma reunião da comissão eleitoral mostra os membros votando unanimemente para rejeitar a candidatura de Duntsova, que queria concorrer com uma plataforma para acabar com a guerra na Ucrânia e libertar prisioneiros políticos.

Ekaterina Duntsova fala a jornalistas após encontro com a comissão eleitoral em Moscou - Maxim Shemetov - 20.dez.23/Reuters

Sua desqualificação foi considera por críticos de Putin uma prova de que ninguém com opiniões de oposição genuínas poderá concorrer contra ele na primeira eleição presidencial desde o início da guerra —que Moscou, oficialmente, chama de "operação militar especial". Os críticos veem o pleito como um processo ilegítimo com apenas um resultado possível.

Para o Kremlin, Putin vencerá porque ele desfruta de apoio genuíno de toda a sociedade, com índices de aprovação de cerca de 80% nas pesquisas de opinião.

Ella Pamfilova, a chefe da comissão eleitoral, ofereceu palavras de consolo a Duntsova após sua rejeição. "Você é uma mulher jovem, tem tudo pela frente. Qualquer menos pode sempre se transformar em um mais. Qualquer experiência ainda é uma experiência", afirmou.

Capturas de tela divulgadas por um canal no Telegram que representa Duntsova mostraram documentos que a comissão havia destacado como carentes de assinaturas adequadas.

Duntsova disse a jornalistas que sua equipe havia montado a inscrição às pressas e teve dificuldade em encontrar um advogado para certificar a candidatura, depois que dezenas de outros se recusaram.

Ela apresentou os documentos à comissão eleitoral menos de 72 horas antes de ser desclassificada e foi amplamente ignorada pela mídia estatal pró-Kremlin, que também deixou de relatar sua desqualificação.

Quando Duntsova disse no mês passado que queria concorrer, comentaristas a descreveram como louca, corajosa ou como parte de um plano roteirizado pelo Kremlin para criar a aparência de competição.

"Qualquer pessoa sensata que dê esse passo teria medo, mas o medo não pode vencer", disse ela à agência de notícias Reuters em novembro.

Duntsova tem 40 anos e é mãe solo de três filhos. "Hoje a situação na Rússia é assim: qualquer um que queira representar os cidadãos com visões democráticas nas próximas eleições ou está na prisão, ou tem seus direitos restritos e é processado na Justiça, ou é forçado ao exílio", disse, em entrevista à Deutsche Welle. "Por que não uma mulher como presidente, como símbolo de moderação, gentileza e sensibilidade?"

Abbas Galliamov, ex-redator de discursos do Kremlin agora rotulado pelas autoridades como "agente estrangeiro" —o que, na prática, faz dele um inimigo do Estado—, disse que Putin não queria arriscar o mesmo cenário de Aleksandr Lukachenko.

O ditador da Belarus se agarrou ao poder em 2020 com a ajuda do que a oposição e os governos ocidentais disseram ser uma fraude eleitoral para permitir que ele reivindicasse a vitória sobre a candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaia.

"O efeito Tikhanovskaia é absolutamente possível, e no Kremlin eles entendem isso", escreveu Galliamov em um canal no Telegram.

Com Putin no controle total do poder e prestes a se candidatar pela quinta vez, apoiadores e opositores dizem que ele vencerá facilmente o pleito para um novo mandato de seis anos. Se ele completar o novo período, será oficialmente o líder mais duradouro da Rússia desde o século 18, superando todos os governantes soviéticos, incluindo Josef Stálin.

O oponente mais conhecido de Putin, Alexei Navalni, está cumprindo sentenças de prisão que totalizam mais de 30 anos, e seus apoiadores dizem que nem mesmo sabem onde ele está, depois de serem informados de que Navalni havia sido transferido da colônia penal anterior no início deste mês. Advogados tiveram acesso a ele pela última vez em 6 de dezembro.

Navalni deixou a Rússia para receber tratamento médico na Alemanha depois de ser alvo de um envenenamento que ele atribuiu ao Kremlin. O governo russo, por óbvio, nega a acusação, a despeito do obscuro histórico de mortes suspeitas daqueles que são considerados inimigos de Moscou.

O período que Navalni passou na Alemanha, contudo, foi considerado pelas autoridades russas uma violação das regras de detenção do opositor. Ele foi preso, portanto, assim que voltou para seu país de origem.

O Partido Comunista da Rússia, cujos candidatos terminaram em um distante segundo lugar para Putin em todas as eleições desde 2000, reuniu-se neste sábado para indicar Nikolai Kharitonov, um homem de 75 anos que concorreu anteriormente em 2004 e obteve 14% dos votos contra os 71% de Putin.

Outra das siglas que se denominam de oposição no Parlamento, o partido A Rússia Justa, informou também neste sábado que apoiaria a candidatura de Putin, de acordo com a agência de notícias estatal RIA.

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