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Irã processa jornalistas por não usarem hijab um dia depois de soltá-las da prisão

Profissionais foram condenadas por cobrirem caso de Mahsa Amini e ganharam liberdade após pagamento de fiança

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Dubai | Reuters

As jornalistas do Irã Niloufar Hamedi, 31, e Elaheh Mohammadi, 36, acusadas de atentar contra a segurança nacional na cobertura do caso de Mahsa Amini —jovem morta em 2022 pela chamada polícia moral— foram soltas da prisão neste domingo (14), mas não ficaram livres da perseguição do regime.

As profissionais foram mais uma vez processadas nesta segunda (15), menos de 24 horas após ganharem a liberdade, agora por aparecem nas redes sociais com os cabelos soltos e sem usar o hijab, o véu islâmico.

"Depois que imagens das rés sem hijab foram divulgadas online, um novo processo foi aberto contra elas", disse a agência de notícias do Judiciário iraniano Mizan, referindo-se a um vídeo amplamente compartilhado que mostra as mulheres celebrando a libertação com suas famílias. Detalhes do novo processo não foram divulgados.

As jornalistas Niloufar Hamedi (dir.) e Elaheh Mohammadi (esq.) comemoraram a saída da prisão
As jornalistas Niloufar Hamedi (dir.) e Elaheh Mohammadi (esq.) comemoraram a saída da prisão - Sahand Taki - 14.jan.24/Sharq News Online/AFP

Hamedi e Mohammadi haviam sido condenadas a 13 e 12 anos de prisão, respectivamente, e foram soltas após o pagamento de fiança. As jornalistas foram presas logo após o início dos protestos em todo o país desencadeados pela morte da jovem Amini. Elas foram acusadas de conluio com o governo dos Estados Unidos, além de atentar contra a segurança nacional.

Mahsa Amini morreu sob custódia, três dias após ter sido detida pela polícia moral do Irã em 13 de setembro de 2022. Ela foi presa também por supostamente violar regras que exigem que as mulheres cubram os cabelos com o hijab. O caso desencadeou uma onda de protestos no país, e centenas de pessoas foram mortas e feridas durante manifestações nos meses seguintes.

O mistério em torno da morte de Amini conta com versões conflitantes. Um médico legista do regime iraniano atribuiu o óbito a condições médicas pré-existentes, enquanto um especialista em direitos humanos da ONU disse que as provas estabelecem que Amini morreu após ser espancada pela polícia moral.

Niloufar Hamedi trabalhava para o jornal Shargh e noticiou a morte de Amini. Ela fotografou o pai e a avó da jovem se abraçando após descobrirem que ela havia morrido e postou uma imagem com a legenda "o vestido preto de luto se tornou nossa bandeira nacional".

Já Elaheh Mohammadi, repórter do Ham-Mihan, escreveu que centenas de pessoas gritavam "mulher, vida, liberdade" durante o funeral de Amini, em Saghez, sua cidade natal.

O fato de Amini ser curda acrescentou às manifestações a dimensão da violência étnica no Irã; há um número desproporcional de curdos executados pelo regime todos os anos. Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio ao regime e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, segundo imagens publicadas nas redes sociais.

Irã anuncia mais uma condenação contra vencedora do Nobel da Paz

A iraniana vencedora do Prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi, 51, presa em Teerã desde 2021, foi condenada a 15 meses de prisão por "propaganda" contra a República Islâmica, anunciou sua família em um comunicado divulgado no Instagram.

Mohammadi também foi proibida de permanecer em Teerã, de sair do país e de usar o celular, se for libertada, por um período de dois anos em todos os casos, segundo a publicação.

Esta é a quinta condenação da ativista de direitos humanos, três delas relacionadas com suas atividades na prisão, desde sua última detenção, em março de 2021. No total, ela foi condenada a 12 anos e três meses de prisão e a 154 chicotadas, de acordo com a família.

A ativista iraniana se recusou a comparecer ao seu último julgamento, em 19 de dezembro, negando a legitimidade do tribunal.

"O veredicto parece um comunicado político contra Narges Mohammadi, que é acusada de estimular as opiniões contra o regime islâmico para semear o caos. É acusada de agir em nome dos inimigos do país", afirma a família da ativista.

Mohammadi ganhou o Nobel da Paz de 2023 "por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos".

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