Irã reforça repressão a protestos com prisão de jornalistas; 83 pessoas já morreram

Repórter que cobriu funeral de Mahsa Amini é o caso mais recente; 25 profissionais foram detidos, diz organização

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Paris | AFP

O Irã deteve nesta quinta-feira (29) uma repórter que cobriu o funeral de Mahsa Amini, disse o advogado da profissional, na mais recente de uma série de prisões de jornalistas desde o início dos protestos deflagrados pela morte da jovem sob custódia da polícia moral.

Elahe Mohammadi foi convocada por autoridades judiciais e detida por forças de segurança a caminho do interrogatório, segundo seu advogado, Mohammad Ali Kamfirouzi, no Twitter.

As jornalistas iranianas Niloufar Hamedi e Elahé Mohammadi, em foto sem data divulgada após a prisão das duas profissionais pelo regime; Hamedi divulgou o caso de Mahsa Amini para o mundo e Mohammadi cobriu seu funeral
As jornalistas iranianas Niloufar Hamedi e Elahé Mohammadi, em foto sem data divulgada após a prisão das duas profissionais pelo regime; Hamedi divulgou o caso de Mahsa Amini para o mundo e Mohammadi cobriu seu funeral - @Omid6887 no Twitter

ONGs de direitos humanos acusam o Irã de realizar uma onda de prisões de profissionais da imprensa, especialmente aqueles que cobriram a morte de Amini. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), pelo menos 25 foram detidos desde o início das manifestações.

Mohammadi cobriu para o jornal iraniano Ham Mihan o funeral de Amini, jovem de 22 anos que morreu em 16 de setembro após ser detida em Teerã por não usar o véu islâmico de forma adequada. Na semana passada, as forças de segurança já tinham revistado a casa da profissional em Teerã, acrescentou seu advogado.

O funeral de Amini em sua cidade natal de Saghez, na província do Curdistão, foi um dos pontos de partida para os protestos, que se estendem há vários dias e já deixaram dezenas de mortos e feridos. Segundo o cálculo mais recente do grupo Direitos Humanos no Irã, são ao menos 83 mortes, incluindo de algumas crianças.

Seu marido indicou no Twitter que, em um breve telefonema, a jornalista lhe disse que estava sendo transferida para a prisão de Evin, na capital iraniana, e que não foi informada das acusações contra ela.

Na mesma prisão está Niloufar Hamedi, repórter do jornal Shargh que foi ao hospital onde Amini estava em coma e ajudou a divulgar o caso ao mundo. Seu marido disse que ainda não sabia do que ela estava sendo acusada.

Nesta quinta, as autoridades iranianas lançaram um alerta às celebridades que apoiam os protestos. "Tomaremos ações contra os famosos que sopraram as brasas dos distúrbios", disse o governador da província de Teerã, Mohsen Mansouri, segundo a agência de notícias ISNA.

Vários atletas, atores e cineastas iranianos apoiam o movimento e pediram às autoridades que ouçam as demandas da população.

No domingo (25), por exemplo, o diretor de cinema iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Oscar, pediu ao mundo que mostre solidariedade aos manifestantes. O ex-jogador da seleção iraniana de futebol Ali Karimi também publicou várias mensagens de apoio aos atos em suas redes sociais e, no início da semana, o atacante Sardar Azmoun, do Bayer Leverkusen (ALE), disse que não poderia ficar calado diante das inúmeras mortes deixadas pela repressão.

Talibãs atiram contra manifestantes em Cabul

No Afeganistão, os talibãs dispersaram um ato diante da embaixada do Irã, no qual mulheres disseram compartilhar a luta das iranianas. Com gritos de "mulher, vida, liberdade", 25 afegãs protestaram durante 15 minutos em Cabul antes de soldados darem tiros para o alto e, segundo as presentes, tentarem agredi-las.

Mulheres protestam em frente à embaixada do Irã em Cabul, no Afeganistão, em apoio aos atos que pedem justiça por Mahsa Amini - Wakil Kohsar/AFP

Os talibãs rasgaram as placas exibidas por elas, que traziam frases como "O Irã levantou, agora é a nossa vez" e "De Cabul ao Irã, diga não à ditadura". As mulheres, algumas de óculos escuros e máscaras, recolheram os pedaços de cartazes formando bolas de papel com eles, para revidar a ação.

Os homens armados também ordenaram que os jornalistas apagassem as imagens dos protestos.

Em Oslo, onde também houve um protesto em frente à embaixada iraniana nesta quinta, manifestantes tentaram invadir o edifício e foram contidos pela polícia, que prendeu 95 pessoas. Alguns deles tiveram ferimentos leves.

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