Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel diz que jornalistas da Al Jazeera mortos em Gaza eram 'agentes terroristas'

Profissionais viajavam a trabalho no momento em que foram atingidos; Hamas diz que denúncias são falsas

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São Paulo

O Exército de Israel acusou nesta quarta-feira (10) dois jornalistas da rede qatari de notícias Al Jazeera mortos em um bombardeio na Faixa de Gaza de serem "agentes terroristas" filiados aos grupos extremistas Hamas e Jihad Islâmico, responsáveis por ataques contra israelenses.

A Al Jazeera negou a informação, afirmando em nota estar em "choque diante das tentativas falsas e enganosas do Exército israelense" de justificar as mortes. Ainda no comunicado, a rede disse que "era evidente" que as autoridades do Estado judeu estavam tentando se defender, justificando o ocorrido, e desviar as atenções.

As acusações também foram classificadas de falsas pelo Hamas e pelas famílias dos jornalistas mortos. Um dos profissionais, Mustafa Thuraya, por exemplo, trabalhava há anos como operador de câmera e fotógrafo para vários meios de comunicação internacionais, disse à agência de notícias à AFP seu primo Mohamed Thuraya.

Familiares e amigos lamentam em Gaza morte de jornalista Hamza Dahdouh acusado por Israel de ser terrorista
Familiares e amigos lamentam em Gaza morte de jornalista Hamza Dahdouh acusado por Israel de ser terrorista - 7.jan.24/AFP

Ele e Hamza al-Dahdouh, outro cinegrafista, foram mortos em um bombardeio no sul de Gaza. Eles estavam em uma viagem de carro a serviço da rede qatari no momento em que foram atingidos.

"Antes do bombardeio, os dois pilotavam drones que representavam uma ameaça iminente às tropas israelenses", disse o Exército em comunicado, acusando-os de "envolvimento direto" em ataques contra as forças de Israel. Questionadas pela AFP sobre o tipo de drone usado e a natureza da ameaça, as Forças Armadas responderam apenas que estavam investigando o caso.

O Exército disse que Thuria foi identificado em um documento encontrado pelos soldados em Gaza como membro de uma brigada militar do Hamas, enquanto Dahdouh pertencia ao Jihad Islâmico.

Os militares divulgaram uma cópia do que seria outro documento que contém uma lista dos agentes de uma unidade de engenharia eletrônica do Jihad no qual aparece o nome de Dahdouh e o seu suposto número militar. As informações não puderam ser verificadas de forma independente.

O pai de Hamza, Wael al-Dahdouh, redator-chefe da sucursal da Al Jazeera na Faixa de Gaza, já havia perdido a mulher e outros dois filhos em um ataque atribuído a Israel nas primeiras semanas da guerra. Mais recentemente, na segunda (8), dois de seus sobrinhos —Ahmed al-Dahdouh e Muhammad al-Dahdouh— morreram em circunstâncias semelhantes à de Hamza, vítimas de um bombardeio quando viajavam de carro em Rafah, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

Segundo levantamento do CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas), com sede em Nova York, 79 jornalistas morreram durante o conflito Israel-Hamas: 72 palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses, fazendo deste o conflito mais letal para profissionais da imprensa nessa região nos últimos 30 anos.

O sindicato dos jornalistas palestinos afirma que o número de vítimas do conflito que atuam na mídia é ainda maior do que o estimado pelo CPJ e contabiliza 102 mortos e 71 feridos entre seus associados.

Diante das mortes, o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) vem cobrando uma investigação. O Estatuto de Roma e as Convenções de Genebra, documentos que balizam as leis sobre conflitos —e, portanto, também servem como base para caracterizar o que é um abuso ou um crime de guerra—, fornecem proteção jurídica aos profissionais de imprensa, ainda que não detalhem sua atuação.

Em dezembro, a agência da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados disse que estava "alarmada com o número sem precedentes de jornalistas e trabalhadores da comunicação social mortos em Gaza desde 7 de outubro", quando ataques do grupo terrorista Hamas no sul de Israel provocaram a guerra.

O escopo das ofensivas israelenses em Gaza passou a ser criticado até mesmo por Washington, aliado de Tel Aviv. Na quarta, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que jornalistas não devem ser um alvo na guerra. "Eles [profissionais] têm todo o direito de cobrir o conflito. Queremos que sua presença seja completamente respeitada", afirmou o americano.

Com AFP

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