Lula diz que Brasil é contra ação de Israel em Gaza assim como é contra o Hamas

Ao lado do presidente da Guiana, brasileiro afirmou que a América do Sul não precisa de guerras

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Georgetown (Guiana)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que é contra a ação de Israel na Faixa de Gaza da mesma forma que é contra o Hamas, nesta quinta-feira (29), em Georgetown, capital da Guiana.

"Todo mundo sabe que o Brasil é contra a Guerra da Ucrânia. Todo mundo sabe que o Brasil é contra o que está acontecendo na Faixa de Gaza, da mesma forma que fomos contra os atos terroristas do Hamas. E todo mundo sabe que o Brasil não quer e não tem contencioso com nenhum país no mundo", afirmou Lula no encerramento de sua agenda na Guiana.

Foto mostra Lula, um homem idoso, branco, de terno, sorrindo e dando as mãos com Irfaan Ali, um homem negro de meia-idade. Atrás deles, as bandeiras dos dois países.
Lula se encontra com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, em reunião bilateral em Georgetown, capital do país - Ricardo Stuckert - 29.fev.2024/AFP/Presidência da República

A próxima etapa da viagem é São Vicente e Granadinas, no Caribe, onde Lula confirmou que se encontra com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Caracas reivindica a região guianense do Essequibo, correspondente a cerca de dois terços da Guiana, e já ameaçou usar a força para tomar o território, incluído no mapa venezuelano por Maduro após referendo aprovar a incorporação da área.

"Nossa integração com a Guiana faz parte da estratégia do Brasil de ajudar não apenas no desenvolvimento, mas trabalhar intensamente para que a gente mantenha a América do Sul como uma zona de paz no planeta. Nós não precisamos de guerra", disse Lula durante declaração ao lado de Ali, em referência indireta à disputa pelo território guianense.

Lula vai à ilha caribenha para participar da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe), onde se reúnem chefes de Estado e chanceleres das 33 nações do grupo. É lá que ele se encontra com Maduro.

O presidente brasileiro afirmou que a reunião bilateral com Irfaan Ali não discutiu a questão do Essequibo. O encontro, segundo Lula, foi marcado para discutir desenvolvimento e investimento.

"Mas o presidente Ali sabe, como sabe o presidente Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles quando for necessário, porque queremos convencer as pessoas de que é possível, através de muitos diálogos, encontrar a manutenção da paz", disse.

"Da mesma forma que eu não vou discutir com o presidente Maduro essa questão [do Essequibo], porque a reunião não é para isso. Eu vou encontrar com o Maduro lá. A hora que eles quiserem marcar uma reunião e o presidente Ralph [primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves] quiser marcar, o Brasil estará totalmente à disposição para participar", afirmou Lula.

"O assunto não pode ser esquecido, porque é quase que secular, é um assunto que já tem anos, que já passou pela Justiça, já passou pela ONU, e é um assunto que vai continuar", disse o presidente brasileiro a jornalistas.

Durante o pronunciamento ao lado de Ali, o petista disse que, após o impeachment de Dilma, a relação com a Guiana e com a Caricom (Comunidade do Caribe) "teve um apagão".

A ideia da diplomacia brasileira no terceiro mandato de Lula é aprofundar relações com a região, a começar pela reabertura de embaixadas fechadas em nações caribenhas durante o governo de Jair Bolsonaro —caso de São Vicente e Granadinas.

Os projetos de investimentos pensados para a região pretendem integrar em infraestrutura de mobilidade e energética a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa com o norte do Brasil. Uma das rotas do projeto é a pavimentação da conexão terrestre entre Georgetown e Boa Vista, em Roraima, atualmente de baixa qualidade.

"Há outros países na América do Sul com o objetivo de chegar ao Pacífico e diminuir em 10 mil km a distância do nosso comércio com a China, Japão e outros países", disse Lula, em referência ao projeto que criaria uma conexão rodoviária viável do norte do Brasil com a costa guianense, facilitando o acesso ao canal do Panamá.

"O nosso vice-presidente [Geraldo Alckmin] vai junto com o seu vice-presidente [da Guiana, Bharrat Jagdeo] construir todas as equipes técnicas necessárias para que a gente faça acontecer a integração necessária ao desenvolvimento da nossa região", afirmou Lula a Ali durante o pronunciamento.

O petista também ressaltou o combate à crise climática em sua fala e anunciou convite à Guiana para participar de reunião sobre o assunto no âmbito do G20, neste ano sob presidência brasileira, "para falar da monetização da preservação das florestas" do país. A Guiana tem 93% de seu território coberto por florestas, segundo dados de 2021 do Banco Mundial.

O governo local recebeu o encontro da Caricom em um momento de pujança inédita para o país. Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), a Guiana foi a nação que mais cresceu em 2022: 62%. As estimativas para 2023 estão na casa dos 30%, com projeção para que fique em patamar próximo disso pelos próximos quatro anos.

O crescimento, a despeito da área florestal preservada do país, é quase todo devido à descoberta de enormes reservas de petróleo descobertas na costa guianense, em 2015, momento em que o regime Maduro renovou as ameaças contra Georgetown envolvendo o Essequibo.

A ExxonMobil lidera o consórcio com a americana Hess e a chinesa CNOOC que descobriu 11 bilhões de barris de petróleo e hoje produz cerca de 645 mil barris por dia. O presidente Ali afirmou em conferência do setor de energia em fevereiro que os vencedores de um novo leilão para novos poços serão divulgados no fim de março.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.