Descrição de chapéu Governo Lula

Na Guiana, Lula volta a chamar ação de Israel em Gaza de genocídio

Presidente faz referência velada a disputa entre país anfitrião e Venezuela pela região do Essequibo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Georgetown (Guiana)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a chamar as ações de Israel na Faixa de Gaza de genocídio, em sua fala no encontro de líderes do Caribe em Georgetown, capital da Guiana, nesta quarta-feira (28).

"O genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a nossa humanidade porque questiona nosso próprio senso de humanidade e confirma uma vez mais a preferência pelos gastos militares em vez de investimentos no combate à fome, na Palestina, África, América do Sul e Caribe", afirmou o presidente durante a reunião da Caricom (Comunidade do Caribe).

Lula durante a chegada a Georgetown, capital da Guiana
Lula durante a chegada a Georgetown, capital da Guiana - Ricardo Stuckert - 28.fev.2024/Divulgação

O governo Lula vive crise diplomática com Israel após o presidente comparar as ações militares de Tel Aviv ao extermínio de judeus pela Alemanha nazista, no último dia 18, durante reunião na sede da União Africana na Etiópia.

"Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou o brasileiro.

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou na ocasião que Lula havia cruzado uma "linha vermelha" ao se referir ao Holocausto.

O que se seguiu foi um aumento de tensões entre os dois governos, com recados e falas contundentes de ambos os lados. O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi chamado para reprimenda fora do protocolo diplomático, no Memorial do Holocausto, quando Lula foi declarado "persona non grata" no país pelo chanceler, Israel Katz, até que se desculpasse.

Meyer foi chamado de volta pelo governo brasileiro, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, convocou o representante israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para conversas.

Lula não se desculpou pela fala e, depois, afirmou que não falou a palavra Holocausto em seu discurso na Etiópia. De fato ele não usou o termo, apesar da comparação evidente. "Primeiro que eu não disse a palavra 'holocausto'. Holocausto foi interpretação do primeiro-ministro de Israel. Não foi minha", disse, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na Rede TV.

Crítico frequente do presidente brasileiro, o ministro das Relações Exteriores israelense rebateu o argumento de Lula sobre o uso do termo.

Lula também se referiu à Guerra da Ucrânia ao falar sobre o encarecimento de alimentos e fertilizantes. —efeito colateral da invasão russa que completou dois anos no último sábado (24). "Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2,2 trilhões em armas. Todos sabemos que guerras provocam destruição, sofrimento e mortes, sobretudo de civis e inocentes. O Brasil seguirá lutando pela paz mundial. Uma guerra na distante Ucrânia afeta todo o planeta porque encarece os preços de alimentos e fertilizantes."

Ao comentar a relação do Brasil com os países caribenhos, Lula falou sobre a paz na região, referência velada à disputa entre a anfitriã do evento com a Venezuela, que reivindica a região do Essequibo, território na fronteira com o Brasil cuja área corresponde a cerca de dois terços da Guiana.

"A Caricom abriu-se para o sul, rejeitando a condição da zona de influência de potências alheias à região. Temos o desafio de manter a autonomia em meio à rivalidade geopolítica. Cabe a nós manter a região como zona de paz", afirmou.

Mais cedo, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, elogiou a atuação do líder brasileiro. "Eu vejo o papel do presidente Lula na região como crucial. Ele tem uma grande responsabilidade sobre seus ombros para fornecer liderança regional e já vem fazendo isso", afirmou Ali, citando o papel de mediação de Brasília no acordo estabelecido entre Caracas e Georgetown sobre a região em disputa.

"Ele é uma voz de estabilidade, uma voz da razão, e eu acredito que seu papel é garantir que a paz e a estabilidade continue e que todas as partes cumpram e ajam dentro dos limites da lei internacional", completou o guianense.

Lula e Ali se reuniram ainda nesta quarta, junto do líder do Suriname, e nesta quinta (29), encontram-se em uma reunião bilateral em um centro de convenções de Georgetown, onde haverá a inauguração de uma sala com o nome do presidente brasileiro. Lula conversou também com a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, nesta quarta.

Lula diz que Brasil vai inaugurar centro de formação para jovens haitianos

O presidente brasileiro ressaltou a crise de segurança vivida pelo Haiti, um membro da Caricom. Ele afirmou que o Brasil oferece treinamento à polícia haitiana e irá criar um centro de formação para jovens do país.

"Estamos oferecendo treinamento à polícia nacional haitiana e vamos inaugurar um centro de formação profissional para jovens haitianos no sul do país no valor de US$ 17 milhões [R$ 84 milhões]", disse o presidente.

Lula instou os países da região a participar da missão multinacional das Nações Unidas para Porto Príncipe. "Escutar a voz da região é imprescindível. É de suma importância o engajamento caribenho na missão multinacional da ONU e o empenho do grupo de personalidades iminentes da Caricom na mediação entre as forças políticas haitianas", disse o brasileiro.

"No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população atingida pela tragédia. Infelizmente, a comunidade internacional não deu ouvidos quando o Brasil alertou que o esforço de estabilização só seria sustentável com apoio maciço ao desenvolvimento e ao fortalecimento institucional do país", afirmou.

O Haiti vive uma espiral de crises, marcada principalmente pela violência das gangues. O Brasil tem um papel histórico de atuação no país depois de ter liderado uma operação da ONU, a Minustah, por 13 anos. O Quênia concordou em julho de 2023 a liderar uma nova missão internacional e enviar policiais do país para a nação caribenha. Aprovado pelo Parlamento, o envio, no entanto, foi vetado pelo Supremo Tribunal do Quênia, freando a iniciativa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.