Descrição de chapéu Governo Lula Venezuela

Lula diz que veto a candidatura de opositora na Venezuela é grave

Declaração foi dada após reunião bilateral com presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Planalto

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de grave o veto da Venezuela à candidatura da opositora Corina Yoris e afirmou que não há justificativa política ou jurídica para se proibir um adversário de disputar eleições.

A declaração, feita em encontro com jornalistas no Palácio do Planalto nesta quinta-feira (28), reforça as críticas feitas pelo Itamaraty nesse mesmo sentido dois dias antes. Também envia um sinal de que o Palácio do Planalto endossa a repreensão contra o regime chavista, algo considerado importante por diplomatas brasileiros uma vez que a resposta de Caracas, em tom agressivo, sugeriu uma divisão de postura entre a chancelaria e o chefe do Executivo.

O presidente do Lula (PT) em evento na base naval de Itaguaí (RJ), com o presidente francês, Emmanuel Macron. - Pablo Porciuncula-27.3.2024/AFP

"Eu fiquei surpreso com a decisão [de bloquear Yoris]. Primeiro, a decisão boa da candidata proibida pela Justiça [María Corina Machado] indicar uma sucessora. Achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata [substituta] não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça", declarou Lula. "Foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata".

"Não tem explicação jurídica, política você proibir um adversário [de] ser candidato".

Yoris foi indicada para a disputa pela principal líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, inabilitada a concorrer a cargos públicos por 15 anos.

O petista ainda fez uma comparação com sua situação em 2018, quando, preso no âmbito da Operação Lava Jato, foi proibido de concorrer por decisão da Justiça Eleitoral —mas pôde designar Fernando Haddad como seu candidato.

Ele contou ainda ter argumentado ao ditador Nicolás Maduro, durante encontro entre os dois na cúpula da Celac em São Vicente e Granadinas, que o pleito realizado no país deveria ser o mais democrático possível. "Disse para ele [Maduro] que a coisa mais importante para reestabelecer a normalidade na Venezuela era não ter problema no processo eleitoral. Era que a eleição fosse convocada da forma mais democrática possível."

"O fato de uma candidata ter sido proibida pela Justiça ser candidata não era um agravante", afirmou Lula. "Porque vocês não podem esquecer que, aqui no Brasil, eu fui proibido de ser candidato quando era o primeiro colocado em todas as pesquisas de opinião pública."

"Eu indiquei outro candidato, perdemos as eleições. Mas fez parte do jogo democrático. Participei, perdi, paciência".

Os comentários de Lula sobre o tema ocorreram após seu encontro bilateral com o presidente francês, Emmanuel Macron. Os dois chefes de Estado assinaram acordos de cooperação.

O presidente francês elogiou a postura de Lula de criticar o recrudescimento da repressão contra opositores na Venezuela. Ele disse que o petista adotou uma "posição muito corajosa". "Nós a compartilhamos totalmente, e seu papel é determinante para encontrar uma saída para essa crise".

Em seguida, Macron foi além: disse que o quadro em que as eleições na Venezuela estão sendo instaladas não pode ser considerado democrático.

"[É preciso] fazer tudo para convencer o presidente Maduro e seu sistema a reintegrar todos os candidatos que se apresentem e, em seguida, criar as condições mais transparentes de organização dessas eleições pelos observadores regionais e internacionais".

Depois das declarações, Lula e Macron seguiram para o Itamaraty, onde foi oferecido um almoço em homenagem ao francês. À tarde, Macron teve um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), último compromisso da sua visita de três dias ao Brasil.

Este foi o terceiro dia do líder no país, que também esteve em Belém (PA), Itaguaí (RJ) e São Paulo (SP). Lula acompanhou-o nas duas primeiras cidades.

No Pará, Lula e Macron anunciaram um plano de investimentos em bioeconomia para a amazônia. A iniciativa pretende alavancar € 1 bilhão (cerca de R$ 5,3 bilhões) em recursos públicos e privados nos próximos quatro anos, embora ainda haja pouca informação sobre que ferramentas serão usadas para atingir essa meta. O montante deve ser voltado tanto para a floresta amazônica em território brasileiro quanto para aquela que está na Guiana Francesa (território do país europeu).

Em Itaguaí, os dois presidentes defenderam a ampliação da cooperação militar entre seus países. A França é parceira do Brasil no projeto de desenvolvimento de submarinos de propulsão convencional e nuclear.

Em São Paulo, Macron teve uma agenda extensa. Fez um discurso em um fórum econômico organizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e seguiu para o campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital, onde participou da cerimônia de inauguração da unidade do Institut Pasteur de São Paulo.

Em seguida, o presidente da França foi ao Lycée Pasteur, na Vila Mariana, onde houve uma recepção para a comunidade francesa com chefs de cozinha renomados. No mesmo local, Macron participou de um coquetel com estudantes e jornalistas de seu país.

Mais tarde, participou de um jantar misterioso, restrito a convidados, no hotel Rosewood, um dos mais luxuosos da cidade, no bairro da Bela Vista, na região do centro.

A viagem de Macron marca o principal capítulo de uma aliança política pensada pelos dois chefes do Executivo como uma espécie de ponte entre os países ricos e os emergentes —parceria esta que começou a ser construída antes de mesmo de o petista iniciar seu terceiro mandato.

Essa ideia foi reforçada por Lula em seu discurso. Ele afirmou que a relação representa uma ponte entre o Sul Global e o mundo desenvolvido e disse que o país europeu, entre as potências tradicionais, é o mais próximo do Brasil.

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