Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Entenda por que o Holocausto é um tema tão sensível para os adultos

Presidente Lula foi criticado por comparar guerra em Israel à morte de 6 milhões de judeus

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São Paulo

Um dos assuntos que mais movimentaram o noticiário nas últimas semanas foi a lembrança de uma tragédia ocorrida há mais de 80 anos: o Holocausto, o extermínio de milhões de judeus e de outras minorias que aconteceu durante o período em que Adolf Hitler comandou a Alemanha.

Hitler (1889-1945) liderava uma ditadura, ou seja, um governo centralizado na figura de seu líder e sem liberdades políticas plenas, como acontece numa democracia. Ele havia trazido ao poder o nazismo, uma ideologia que entre outras coisas defendia a perseguição daqueles que não concordavam com ela. Pior: no caso de alguns, como os judeus, a solução achada foi matar essas pessoas.

Panelas jogadas em frente ao portão por onde trens levavam os judeus para serem mortos no campo de Auschwitz, na Polônia
Panelas jogadas em frente ao portão por onde trens levavam os judeus para serem mortos no campo de Auschwitz, na Polônia - Reuters

O Holocausto se tornou um dos temais mais sensíveis nas conversas dos adultos.

Tanto é assim que, em 1950, o filósofo alemão-americano Leo Strauss até criou uma expressão para explicar que um debate chegava a seu fim sempre que uma das partes apelava, dizendo que seu oponente estava usando um ponto de vista que era defendido pelo ditador alemão. A expressão é "redução a Hitler".

Quarenta anos depois disso, um advogado americano chamado Mike Godwin adaptou a ideia para dizer que era assim que os debates aconteciam na internet (que naquela época estava apenas começando). Era um tipo de ironia, mas com um fundo de verdade.

"À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%", dizia a ideia de Godwin, que ficou famosa e hoje leva seu nome: é a Lei de Godwin.

De volta aos dias de hoje, chegamos ao Brasil, onde o presidente Lula (PT) mexeu nesse "vespeiro", que é como alguns adultos chamam os assuntos polêmicos. Ele foi duramente criticado, na semana passada, por ter comparado a violência de Israel na Faixa de Gaza —onde acontece uma guerra contra terroristas do grupo palestino Hamas— ao Holocausto.

Lula disse que nunca tinha visto nada parecido, exceto quando Hitler mandou matar os judeus.

Isso não faz sentido histórico, porque a morte dos judeus na era nazista, de 1933 a 1945, não pode ser comparada em organização e determinação na história mundial. Houve vários genocídios, que é como são chamados os crimes que têm como objetivo eliminar grupos por sua etnia, raça, religião e nacionalidade.

Um desses genocídios é bem recente e aconteceu num lugar na África chamado Ruanda, mas nada com o grau de precisão mortífera dos nazistas.

Israel é um país que viabilizou seu nascimento a partir da tragédia dos judeus na Europa. Foi aquele sofrimento que levou ao processo no qual a ONU (Organização das Nações Unidas) dividiu a antiga Palestina britânica entre os judeus e os árabes.

Este processo não deu certo por diversos motivos, e a guerra de hoje é um pedaço dele.

Se falar do Holocausto é complicado para quem não teve a família atingida por ele, imagine para um judeu —ou para um cigano, comunista, polonês ou prisioneiro soviético, para ficar em outros grupos que foram exterminados pelos nazistas com a mesma infraestrutura bolada para acabar com os aderentes do judaísmo.

Para entender por que a coisa é tão séria, é bom resumir um pouco a história. Esse plano de destruição estava descrito sem meias palavras no manifesto publicado por Hitler em 1925, "Minha Luta". Ninguém deu muita bola, até porque o preconceito contra os judeus na Europa era algo terrivelmente comum, que fazia conexão com os tempos do Império Romano.

Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, aos poucos ele foi tirando os direitos dos judeus. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, em 1939, ele pôde colocar em prática a versão mais radical de suas ideias, inicialmente nos territórios que foi ocupando no Leste Europeu e, depois, na antiga União Soviética, país que era formado pela Rússia e outras 14 repúblicas.

Os nazistas foram testando jeitos mais práticos de matar pessoas. Primeiro, eram fuzilamentos. Depois, o uso de gás de caminhões. Por fim, inventaram uma coisa medonha: uma câmara de gás em que as vítimas eram colocadas sem roupas e mortas, pensando que estavam ali porque iam tomar banho.

O horror acabava com o transporte dos corpos dessas pessoas primeiro para valas, depois para fornos crematórios cada vez mais eficientes. Auschwitz, o nome alemão para um campo de extermínio na Polônia, virou sinônimo de "inferno na terra".

Tudo era estruturado em um sistema de campos criado numa conferência em 1942. Esse terror em escala industrial —ou seja, de grandes proporções e sistematizado— coloca o Holocausto à parte. Quando as tropas soviéticas e, depois, americanas foram descobrindo o que se passava nessas "fábricas da morte", o mundo entendeu que algo terrível havia acontecido.

Muito foi contado pelos sobreviventes, e hoje há muitos filmes sobre o assunto, a maioria pesados para crianças. Quando alguém tenta contar a história de um ponto de vista mais leve, como em "A Vida é Bela" (1997), o diretor acaba sendo criticado —será que seria certo deixar algo tão triste menos pesado?

Ninguém nunca saberá ao certo quantas pessoas morreram. O número mais aceito, tanto por Israel quanto pelos Estados Unidos, é de seis milhões. Isso é o equivalente a 2/3 dos judeus da Europa na época, ou 1/3 deles no mundo todo.

Houve tantas ou mais pessoas mortas não-judias em perseguições nazistas, como 250 mil ou mais ciganos, mas nenhum grupo foi tão vítima quanto o judeu. Até porque era uma questão de ideologia de Hitler.

O que acontece hoje em Gaza é terrível, também, assim como foi uma barbaridade o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro do ano passado. Os críticos de Israel inclusive dizem que o governo lá usa o Holocausto de forma leviana (sem cuidado), como que para ter uma "carta-branca", expressão que se usa quando alguém dá permissão para que as coisas sejam feitas da maneira mais conveniente.

Seja como for, a guerra atual é horrível como todas as outras são. Compará-la ao Holocausto, contudo, não é correto e é feio, do ponto de vista moral.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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