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NY Times e Economist estão entre veículos favoráveis à legalização das drogas

Jornal americano elogiou investimentos em saúde pública do governo Biden; revista britânica tem longo histórico de crítica a políticas de repressão

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São Paulo

Dois dos mais importantes veículos de mídia no exterior, The New York Times e The Economist compartilham a opinião de que a legalização das drogas pode ser mais benéfica que as medidas de repressão à venda e porte de entorpecentes.

Em editorial publicado em fevereiro do ano passado, o jornal americano elogiou as iniciativas do presidente Joe Biden no sentido de tratar o uso de drogas como um tema de saúde pública. A visão mais liberal da publicação sobre o tema já vem de algum tempo. Em 2014, o diário nova-iorquino marcou posição, "após muita discussão entre os membros de seu Conselho Editorial", ao defender a descriminalização da maconha nos EUA em nível federal.

Bicicleta estacionada em frente a um Coffee Shop, em Amsterdam - Marcelo Justo/Folhapress

No texto, o NYT afirmava não haver "respostas perfeitas às preocupações legítimas da população sobre o uso da maconha". "Mas também não há essas respostas sobre o tabaco ou o álcool, e nós acreditamos que, em todos os aspectos — efeitos para a saúde, impacto na sociedade e temas de ordem pública —, a balança pende para o lado da legalização nacional", disse o jornal à época. Dez anos depois, o uso de cannabis pelos americanos continua proibido na esfera nacional.

A The Economist advoga há décadas pela descriminalização das drogas. Em um editorial de 2001, a revista dizia que os danos da proibição recaíam especialmente sobre os países pobres e os pobres nas nações ricas. E dava como exemplo a Colômbia, com um histórico de violência do narcotráfico, cujos cartéis sempre foram uma ameaça ao Estado e à integridade das instituições. Além disso, o texto argumentava que os mais envolvidos com o comércio de entorpecentes nos EUA são os mais pobres, que por decorrência também compõem de forma desproporcional a população carcerária.

Em manifestação mais recente, no ano passado, a publicação chamou de "desastre" a guerra às drogas nos EUA e destacou o caso de Portugal, que descriminalizou a posse para uso pessoal em 2001 --a venda continuou ilegal. O país europeu, apontou a Economist, viu as mortes por overdose e as taxas de infecção do HIV caírem nos anos seguintes, e os pontos de venda em locais públicos desapareceram.


Em contraste, a revista publicou na quarta-feira (21) reportagem segundo a qual o entusiasmo pelas políticas de flexibilização esmoreceu em diversos países da Europa, mesmo em Portugal, onde o cenário tem mudado com os efeitos da crise financeira e da pandemia.

Nas principais cidades do país, afirma a Economist, bairros ricos estão cheios de imigrantes que, vivendo na pobreza, consomem drogas ao ar livre. Nas ruas do Vale de Alcântara, em Lisboa, veem-se pelo chão seringas e cachimbos.

Um problema similar ocorre na Holanda, outro país historicamente conhecido por uma política progressista. O turismo de drogas é visto como uma praga na capital, Amsterdã. Em janeiro, um apartamento em Roterdã explodiu e matou três pessoas. O imóvel era usado como laboratório de substâncias químicas ilícitas.

Nos Estados Unidos, Biden aumentou os investimentos, em 2021, no Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas. O objetivo era direcionar os esforços para medidas de tratamento e prevenção em vez de apostar no cumprimento da legislação.

Agora, o Departamento do Trabalho está forçando a implementação das leis, exigindo que os planos de saúde cubram o tratamento de dependência química, assim como ocorre com outras doenças. De acordo com o editorial do New York Times, a legislação americana ainda precisa avançar em outras frentes.

Afinal, a chamada Lei das Casas de Crack impede a existência de prédios para usos controlados de substâncias ilícitas, o que ocorre em países europeus. Trata-se de uma legislação federal que estipula prisão para quem administrar esses espaços.

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